sábado, 26 de junho de 2010

A PACIÊNCIA E A VITÓRIA DE JÓ (PARTE 01)

Homem íntegro e justo, habitava na terra de Uz (território a leste do rio Jordão), participava dos negócios mais importantes e das causas jurídicas mais relevantes da cidade, ele era temente a Deus e evitava fazer o mal, era um homem piedoso, ele era elogiado e respeitado em suas opiniões e conselhos pelos jovens e idosos, ele era pai amoroso e dedicado de 7 filhos e 3 filhas, pelos quais contantemente intercedia a Deus em favor de cada um deles, um homem extremamente rico, o mais rico de todo o oriente, dono de 7.000 ovelhas, 3.000 camelos, 500 juntas de bois, 500 jumentos e uma quantidade considerável de empregados (Jó 1:1-4; 29:7-13,21,25; 30:25; 31:21).

Este era Jó, um personagem real, de carne e osso, que passou por uma duríssima provação, um momento de sua vida tão angustiante que o fez acreditar que seria melhor morrer ou nem mesmo ter nascido. Será que Jó se considerava um "mais que derrotado" ou um "mais que vencedor"? E mais: Será que ele foi um "mais que derrotado" ou um "mais que vencedor"?

Bem, certo dia quando os filhos de Jó estavam em um banquete na casa do irmão mais velho, um mensageiro, único sobrevivente da tragédia que iria relatar, trouxe a Jó uma trágica notícia: enquanto os bois de Jó aravam a terra e ali por perto os seus jumentos pastavam, um grupo de sabeus (provavelmente da Arábia do Sul: Sabá), os atacaram e os levaram a todos e assassinaram os seus empregados que trabalhavam naquele lugar, com exceção dele (Jó 1:13-16a). E antes mesmo deste empregado sobrevivente terminar o seu relato, outro mensageiro chegou com outra trágica notícia: segundo ele "fogo de Deus caiu do céu" (um raio: cf. Nm 11:1; 1Rs 18:38; 2Rs 1:12) e queimou completamente todas as ovelhas e os empregados, exceto ele, que também conseguiu escapar (Jó 1:16b).

Como alguns pessimistas e fatalistas afirmam: "Desgraça pouca é bobagem", as tragédias na vida de Jó não pararam ali. Quando aquele segundo empregado ainda relatava o episódio trágico que presenciou a Jó, chegou um terceiro empregado com mais uma notícia desastrosa: três bandos de caldeus atacaram os camelos e os levaram e também assassinaram os empregados, com exceção dele (Jó 1:17).

Agora imaginemos a situação de Jó, um homem que atualmente poderia ser considerado milhonário, de uma hora para outra perdeu senão toda, mas praticamente toda a sua riqueza, que naquela época era considerada através de rebanhos. Sem falar em praticamente todos os seus empregados também, assassinados. Não é uma grande tragédia? Quem não ficaria completamente arrasado, frustrado e revoltado com tamanha devastação na área financeira, humana e material?

Quantos de nós não enfrentam situações semelhantes? Algum tipo de acidente natural ou de outro tipo ou uma crise financeira já lhe subtraiu todo ou quase todo o seu patrimônio? Ou será que você foi assaltado e levaram muitos dos seus bens como dinheiro, joias, aparelhos eletrônicos e veículos? Ou ainda: Você já imaginou em uma mesma hora perder toda a sua empresa e os seus empregados em uma tragédia natural, por exemplo? Por mais que seja realmente muito, muito dolorosa essa situação, para aqueles que mantém o seu coração no tesouro material e não espiritual (Mt 6:19-21), isso é sinal de que a vida já pode terminar, sua razão de existir se foi. Será que Jó se considerava um "mais que derrotado" ou um "mais que vencedor"? Certamente Jó tinha algo muito mais importante na vida do que seus bens: sua família evidentemente.

Mas, infelizmente as tragédias na vida de Jó não atingiram apenas a área material financeira, mas para piorar ainda mais a história, sua família foi trágica e mortalmente afetada por um acidente natural. Quando aquele terceiro empregado mensageiro ainda lhe contava uma tragédia, um último empregado surgiu com a pior notícia que Jó poderia ouvir de alguém: justamente naquele banquete que mencionamos anteriormente, ocasião quando os irmãos de Jó estavam na casa do irmão mais velho, um vento muito forte, um furacão vindo do deserto atingiu fortemente a casa que estavam e ela desabou em cima de todos, sendo que nenhum dos filhos de Jó sobreviveu. Depois de todas aquelas péssimas notícias que já havia recebido, Jó acabara de saber que perdeu seus 10 filhos na mesma hora. Dez filhos!!! Você já imaginou isso? Não é muito difícil de imaginar algo tão trágico assim, pois em nosso país e no exterior ocorrem tragédias constantemente que ceifam inúmeras vidas diariamente, são pais que perdem seus filhos em deslizamentos de terra, em enchentes, terremotos, maremotos, erupções vulcânicas, acidentes de carro, assaltos à mão armada, entre tantos outros. Mas Jó perdeu todos os seus dez filhos de uma vez só, três filhas e sete filhos. Será que Jó se considerava um "mais que derrotado" ou um "mais que vencedor"?

Qual seria a nossa reação diante de tamanha tragédia? Uns certamente desmaiariam, outros entrariam imediatamente em estado de choque ou em pânico, outros perderiam a sanidade mental tamanho o impacto da notícia, outros ainda se revoltariam contra Deus e certamente blasfemariam.

Até aquele momento, Jó se manteve firme e em silêncio diante das demais tragédias, mas ao ouvir a notícia em relação aos seus filhos, levantou-se, rasgou o manto e rapou a cabeça (costumeiro sinal de luto: Gn 37:34; Is 15:2) e...

"Então prostrou-se , rosto em terra, em adoração, e disse: Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei. O SENHOR o deu, o SENHOR o levou; louvado seja o nome do SENHOR." (v. 21; vejam o contexto em Jó 1:20b-21).

Impressionante!! Jó não blasfemou, não pecou em nada do que disse, ele não culpou a Deus de nada do que tinha acontecido (Jó 1:22).

É um exemplo muito, muito difícil de ser seguido. Diante da tragédia de proporções inimagináveis, Jó se prostrou, louvou e adorou a Deus, ciente de que tudo o que ele havia recebido na vida vinha de Deus e que Ele tinha o direito de levá-los. E ainda mais: do jeito que ele nasceu, ele morreria, ou seja, sem nada, nem mesmo as próprias roupas. Em outras palavras, os bens materiais eram passageiros para Jó, mesmo sendo muito rico. E de certa forma, acreditamos que Jó no íntimo imaginava que, mesmo depois de todas as catástrofes, ele ainda tinha um bem muito importante: sua saúde. Mas isso não durou por muito tempo...

Algum tempo depois, sem saber como e nem de onde, o piedoso e íntegro Jó, quando esperava receber de volta o bem, recebeu o mal, quando ele procurava a luz, vieram as trevas (Jó 30:24-27), pois ele foi acometido de feridas terríveis da sola dos pés ao alto da cabeça e então sentado entre as cinzas, mais um símbolismo para o luto, Jó com um caco de louça se raspava tamanho foi estrago na sua pele (Jó 2:7-8). Que cena chocante, aterrorizante!! Diante desta cena, vendo o seu marido sofrendo de uma forma tão horrível, a esposa de Jó, que graças a Deus não tinha sido vítima de nenhuma daquelas tragédias, mas estava ao lado de Jó, em vez de ajudá-lo com palavras sensatas e tentar consolá-lo (por mais difícil que fosse essa tarefa diante de tamanha catástrofe), ao invés disso, disse:


"Você ainda mantém a sua integridade? Amaldiçoe a Deus e morra!" (Jó 2:9)

A eposa insensata de Jó aparentemente sabia que todos que amaldiçoam a Deus recebem a pena de morte (cf. Lv 24:10-16) e talvez por isso desejava que Jó agindo desta forma, provocasse Deus a decretar um golpe fatal, já que só havia sobrado a vida para Jó, mas destruida pela enfermidade e ainda diante de todas aquelas tragédias materiais e da perda dos filhos. Mas, Jó respondeu:

"...você fala como uma insensata. Aceitaremos o bem dado por Deus, e não o mal?" (Jó 2:10a).

Por mais impressionante que seja, Jó realmente ainda preservava a sua integridade e temor a Deus. Como que um complemento àquela declaração anterior dele, ele afirmou que Deus está no controle das situações da nossa vida. Ele pode permitir o bem ou o mal. Não, não o mal no sentido de malignidade, pois em Deus o mal e a injustiça não habitam (Jó 34:10-12; Sl 5:4). Mas aqui "mal" significa circunstâncias ruins em nossa vida, mas que visam uma correção ou instrução. Jó sabia que Deus tinha lhe proporcionado toda aquela prosperidade da qual desfrutou, mas que soberanamente a levou embora. Jó sabia que os seres humanos já nascem com o tempo de vida determinado por Deus (Jó 14:5), que eles não têm uma vida muito longa e através dela passam muitas dificuldades (Jó 14:1), ele sabia que tinha sido a mão de Deus que tinha realizado tudo aquilo, com algum propósito bom, pois Dele vem o fôlego de vida de todos os seres humanos e a Ele pertencem a sabedoria e o poder (Jó 12:9-13; 19:6,21; 26:6-14; 28:12-13,20-24,28; 30:18).

E mais uma vez...por incrível que pareça...

"Em tudo isso Jó não pecou com seus lábios." (Jó 2:10b; cf 1:22).

Mas Jó não contava "apenas" com a sua esposa, ele possuía amigos que, sabendo das tragédias que o afligiram, combinaram de juntos visitá-lo em sinal de solidariedade e também para consolá-lo (Jó 2:11), mas quando o viram, a cena foi tão impactante, tão chocante, que eles mal puderam reconhecer o próprio amigo de tão desfigurado que Jó estava e por isso, começaram a chorar em alta voz (Jó 2:12) e o sofrimento de seu amigo Jó era tão intenso, tão angustiante que os três amigos se assentaram com ele durante sete dias e não lhe dirigiram nenhuma palavra em respeito ao seu sofrimento (Jó 2:13).

Para termos uma ideia do quanto Jó foi afetado pela misteriosa doença e seus sintomas horríveis, vamos nos orientar pelo comentário da Bíblia de Estudo NVI (Nova Versão Internacional), que realizou um apanhado de todos os sintomas pelos quais Jó passou em sua doença:


"Fica incerta a natureza exata da doença de Jó, mas seus sintomas eram úlceras purulentas e dolorosas que cobriam o corpo todo (7.5), pesadelos (7.14), crostas de feridas que se enegreciam e se descascavam (30.28,30), desfiguração e aparência repulsiva (2.12; 19.19), mau hálito (19.17), magreza excessiva (17.7; 19.20), febre (30.30) e dores de dia e de noite (30.17). Feridas terríveis. Ou 'feridas purulentas', conforme o hebraico é traduzido em Êx 9.9; Lv 13.18; 2Rs 20.7." (pp. 813-814).

Portanto, Jó estava vivenciando a mais profunda dor, prostração, frustração, zombaria e abandono (Jó 3:24-26; 7:7,15-16; 10:20; 16:6; 19:13-14,17,21; 30:1,15-16), ao ponto de desejar nem ter nascido (Jó 3:10-11,16; 10:18).

Mas, infelizmente, a tragédia iria piorar ainda mais. Jó passaria ainda por outro grande problema: Apesar de serem amigos de Jó, Elifaz, Bildade e Zofar, mesmo sendo sinceros, mesmo reconhecendo a vida piedosa e de integridade que Jó cultivava (Jó 4:3-6; 12:4), mesmo afirmando muitas coisas corretas com relação a Deus e a vida humana (Jó 4:17; 5:6-11,17-19; 20:20; 22:21-30; 25:1-6; 33:14-18; 34:10-15; 36:15, 18-19,22-26; 37:5,23), estavam equivocados quando tentaram consolar o amigo, pois insistentemente o acusavam de ter cometido algum pecado e, consequentemente, todas aquelas tragédias eram sinais da justiça divina, eram um castigo de Deus e, portanto, Jó deveria se arrepender, pedir perdão a Deus e ser absolvido da sua culpa (Jó 4:8; 6:14-15,25-26,29; 8:3-6; 11:13-16; 13:4-5,9-10; 19:28; 33:32). Ainda além disso, seus "amigos" se consideravam muito mais sábios que ele (Jó 15:7-10; 18:1-2; 19:4-6). Realmente a situação que já estava insustentável, ficou pior, pois é justamente nestes momentos de tribulações que mais precisamos dos amigos, dos verdadeiros amigos.

Mas Jó, como percebemos na leitura da história, naquele contexto, era inocente, ele não havia pecado (Jó 6:10,24,28-30; 7:20; 10:6, 14-15; 13:18-22; 16:17; 31:1-4). Logicamente ele não era perfeito (Jó 7:21), mas não acreditamos (e o texto não sugere) que ele tinha uma vida de pecado tão devassa que merecesse um castigo tão avassalador. Jó, no entanto, pretendia discutir frente a frente com Deus em relação a causa do seu sofrimento, defender a sua inocência, pois Deus, para ele, era a sua testemunha e o seu advogado ao mesmo tempo, Aquele que lhe daria segurança (Jó 13:3,15,18-22; 16:19-21; 17:3; 23:1-5; 31:1-4,9-15, 23-28), Aquele que é o Deus vivo, o seu Redentor, ao qual estava ansioso para contemplar, mesmo que morresse (Jó 19:25-27).


Jó não havia perdido sua fé e sua crença no poder e na santidade de Deus, mesmo depois de tudo o que passou, e reconhecia que argumentar com Deus sobre o que Ele faz ou deixa de fazer é impossível (Jó 9:2-4, 10-20, 27-34; 10:12; 23:13-14). Mas Jó se queixava amargamente a Deus sobre sua situação (Jó 23:1-2), defendendo que sempre foi fiel ao Senhor (Jó 23:12-12) e que enquanto vivesse, lutaria para manter a sua retidão, sua integridade, sua consciência limpa (Jó 27:1-6), mas ao mesmo tempo, estava sofrendo com os discursos (segundo ele mesmo) absurdos, inúteis, falsos e insistentes dos seus "amigos" maus consoladores (Jó 16:1-3; 21:34) e ainda contestava a impunidade que contemplava na vida dos ímpios, aqueles que se afastam dos caminhos de Deus (Jó 21:7,13-15), porque, segundo Jó, Deus não os castigava (Jó 21:9). Mas, Jó sabia que Deus contemplava tudo o que os ímpios estavam fazendo de perverso e que Ele poderia dar-lhes o castigo devido no momento certo (Jó 24:22-25; 27:8-10; 31:2-4; comparem com as afirmações de Eliú em 34:19-30).

Mas apareceu no diálogo um quarto "amigo", Eliú, mais jovem que todos, que havia se calado até aquele momento em atitude de respeito aos mais idosos, mas não resistiu em se calar ao ver que os outros três amigos não tinham mais nenhum argumento para refutar a Jó, que eles não conseguiram demonstrar que Jó estava errado, e solicitou que também tivesse a permissão de opinar, desejando ser imparcial e sem bajulação (Jó 32:1-22) e com coração íntegro e sincero, crendo que também era criado pelo Espírito de Deus e estava em igualdade com Jó diante do Criador (Jó 33:1-6). Mas, infelizmente, Eliú também estava equivocado como os outros amigos de Jó, pois estava indignado com a presunção de Jó em justificar-se diante de Deus (Jó 33:8-9). Eliú também considerava Jó culpado (Jó 33:12).

E agora? Diante de tantas adversidades, como Jó poderia sair vitorioso daquela situação? Parecia que o mundo inteiro estava conspirando contra ele. Ele havia perdido quase todos os seus bens e seus empregados, perdeu todos os seus filhos, foi acometido de uma doença avassaladora com sintomas dolorosamente indescritíveis, não suportava mais nem viver, a sua esposa aparentemente não estava ajudando muito, os seus amigos estavam contra ele e, para piorar, Deus parecia não estar ouvindo suas queixas. Será que Jó se considerava um "mais que derrotado" ou um "mais que vencedor"?

O desfecho desta história todos ou quase todos já conhecem....

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