domingo, 26 de setembro de 2010

A TRINDADE NO ANTIGO TESTAMENTO (PARTE 02)

CRISTOLOGIA VETERO-TESTAMENTÁRIA

INTRODUÇÃO

Primeiramente desejamos salientar que esta parte da doutrina da Trindade não é defendida por todos os estudiosos, alguns acreditam que não há sustentação bíblica para o que vamos apresentar em seguida.

Os prezados leitores podem ler atentamente, portanto, e, como em todos os nossos artigos, tirarem livremente as suas próprias conclusões.

Tanto as profecias bíblicas, como o apóstolo Paulo e o próprio Jesus confirmam que Ele, o Senhor, o Filho de Deus em Sua eternidade já atuava no povo de Israel desde o Antigo Testamento.

Depois que Adão e Eva pecaram, Deus prometeu enviar um descendente que esmagaria a cabeça da serpente (Gn 3:14-15). Mas este texto, se analisado isoladamente, não explicita quem seja o referido descendente, o que seria revelado depois de muitos séculos, na pessoa do Senhor Jesus que foi identificado com aquele descendente:

“Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo.” (Gl 3:16).

Em Lucas 24:27 nos diz que o Senhor Jesus:

"...começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras.”

De fato, Moisés testificou de Cristo:

“O SENHOR Deus te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim: a ele ouvirás.” (Dt 18:15).

Analisando o contexto bíblico, Moisés foi semelhante a Cristo no que se refere a seu serviço e ao ofício de profeta (confiram At 3:12-26 e Hb 3:1-3 e comparem Dt 34:10 com Lc 24:19). Contudo, não são apenas passagens proféticas sobre a vida de Jesus, como esta que acabamos de observar e outras tais como os Salmos 16 e 22 e Isaías 53 que falam de Cristo no Antigo Testamento. Por todo o Antigo Testamento, na verdade, há uma constante menção de uma pessoa, distinta do Deus Iavé dos hebreus. Ela reivindica autoridade divina, exerce prerrogativas divinas e recebe homenagem divina.

Mas, o próprio Senhor Jesus ensina que Abraão de alguma maneira reconheceu a Sua existência. Em João 8:56-58, temos:

“Vosso pai Abraão alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se. Perguntaram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinqüenta anos, e viste a Abraão? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu vos digo: Antes que Abraão existisse, eu sou.”

Sobre este texto, Charles C. Ryre em sua edição da “Bíblia Anotada” (p. 1335), salientou que:

“A expressão ‘Eu Sou’ denota existência eterna absoluta, não apenas existência anterior à de Abraão. É uma reivindicação de ser o Javé do A.T. A reação dos judeus (v. 59) a esta suposta blasfêmia demonstra que eles entenderam claramente o significado desta reivindicação de Cristo.”

Além disso, esta referência de Jesus ao fato de Abraão ter visto o Seu dia pode estar vinculada à manifestação da Divindade nos dias que precederam a destruição de Sodoma e Gomorra (Gênesis 18,19), mas esta afirmação carece de evidências bíblicas. É mais provável que esta referência de Jesus seja ao episódio do sacrifício de Isaque que vemos logo a seguir, onde observamos a atuação clara do Anjo do SENHOR.

O apóstolo Paulo afirmou que o povo de Israel em sua peregrinação no deserto, se alimentou e bebeu de uma mesma "fonte espiritual", de uma "pedra espiritual" que seguia o povo. Segundo ele, essa "pedra" era Cristo Jesus.

“Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar, tendo sido batizados, assim na nuvem, como no mar, com respeito a Moisés. Todos eles comeram de um só manjar espiritual, e beberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo.” (1Co 10:1-4).

Nota-se claramente a obra providencial de Jesus, pré-encarnado, na vida do povo hebreu no deserto. Essa rocha sobrenatural ou espiritual protegia e sustentava o povo. Está claro que a proteção veio de Deus, mas o apóstolo Paulo esclarece que essa proteção vinha de Deus, o Filho que, no tempo de Paulo, já se havia feito homem. (Obs: Comparem ainda Mateus 2:6 com Miquéias 5:2 sobre a eternidade de Cristo).

Mas, como pode ser isso? Vamos ver a seguir, então, a atuação de um personagem ainda polêmico entre muitos especialistas, mas que para muitos, é claramente a pré-encarnação do Salvador no período do Antigo Testamento.

O "ANJO DO SENHOR" ATUANDO NO PENTATEUCO

EM GÊNESIS

Em Gênesis 16, podemos constatar a ação do Anjo do SENHOR (vv. 7,9,10,11,12). Nos vv. 10 a 12, Ele aparece a Agar e lhe transmite uma mensagem:

“Disse-lhe mais o Anjo do SENHOR: Multiplicarei sobremodo a tua descendência, de maneira que, por numerosa, não será contada.” (v. 10; cf. vv. 11,12).

E na continuidade da narrativa bíblica...

“Então ela invocou o nome do SENHOR, que lhe falava: Tu és Deus que vê, pois disse ela: Não olhei eu neste lugar para aquele que me vê?” (v.13).

Portanto é declarado que este Anjo é o próprio SENHOR Deus. Afinal, Ele promete o que somente Deus poderia cumprir (cf. vv. 10-11).

Vejam mais um exemplo do que estamos afirmando. Não muito à frente em Gênesis, o Anjo de Deus aparece novamente a Agar:

"Deus, porém, ouviu a voz do menino; e o Anjo de Deus chamou do céu a Agar e lhe disse: Que tens, Agar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino, daí onde está. Ergue-te, levante o rapaz, egura-o pela mão, porque eu farei dele um grande povo. Abrindo-lhe Deus os olhos, viu ela um poço de água, e, indo a ele, enchei de água o odre, e deu de beber ao rapaz." (Gn 21:17-19).

Percebam que Deus ouviu a voz do menino, mas foi o Anjo que chamou Agar e disse que faria dele um grande povo, e, em seguida Deus mostra a Agar um poço para que ela desse de beber a Ismael (Gn 25:12).

Logo em seguida, no próximo capítulo de Gênesis, quando Deus pôs Abraão à prova pedindo o seu filho Isaque como sacrifício (Gn 22:1-2), no momento que o patriarca tomou o cutelo para imolar o próprio filho em obediência a Deus (v.10), mais uma vez encontramos a ação do Anjo do SENHOR:

“Mas do céu lhe bradou o Anjo do SENHOR: Abraão! Abraão! Ele respondeu: Eis me aqui. Então lhe disse: Não estendas a mão sobre o rapaz, e nada lhe faças; pois agora sei que temes a Deus, porquanto não me negaste o filho, o teu único filho” (vv. 11-12).

Observem o Anjo do SENHOR afirmando que sabia que Abraão temia a Deus, pois não lhe negara o único filho (v.12). E então o texto nos informa que Abraão encontrou um carneiro preso entre os arbustos e o imolou no lugar de seu filho (v.13) e em seguida chamou aquele lugar onde estavam de o SENHOR proverá (v.14). Em seguida novamente o Anjo do SENHOR se manifesta a Abraão:

“Então do céu bradou pela segunda vez o Anjo do SENHOR a Abraão, e disse: Jurei, por mim mesmo, diz o SENHOR, porquanto fizesse isso, e não me negaste o teu único filho, que deveras te abençoarei e certamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e como a areia na praia do mar; a tua descendência possuirá a cidade dos seus inimigos, nelas serão benditas todas as nações da terra: porquanto obedeceste à minha voz.” (vv. 15-18).

Observem mais uma vez que o Anjo do SENHOR se apresenta na qualidade de mensageiro do SENHOR, mas Ele também é o SENHOR. Isto fica claro com expressões tais como “jurei por mim mesmo” (v.16) e “obedeceste à minha voz” (v. 18b) e pelas promessas feitas pelo Anjo a Abraão como sendo o próprio SENHOR e que realmente só Deus poderia cumprí-las cabalmente (vv. 17-18; comparem com Gn 13:14-16; 15:5).

Fica mais uma vez evidente que o "Anjo do Senhor" ou o "Anjo de Deus" é o próprio Deus mais adiante, ainda em Gênesis:

"E o Anjo de Deus me disse em sonho: Jacó! Eu respondi: Eis-me aqui! Ele continou: Levanta agora os olhos e vê que todos os machos que cobrem o rebanho são listados, salpicados e malhados, porque vejo tudo o que Labão está fazendo. Eu sou o Deus de Betel, onde ungiste uma coluna, onde me fizeste um voto. levanta-te agora, sai dessa terra e volta para a terra de sua parentela." (Gn 31:11-13).

Que espetacular e impressionante! O Anjo de Deus fala a Jacó que estava ciente de tudo o que Labão estava fazendo (uma alusão à onisciência divina?) e que Ele é o Deus de Betel, onde Jacó ungiu uma coluna e fez um voto a Ele, a Deus (Gn 28:18-22) e em seguida o Anjo dá ordem para que o patriarca volte para a terra de sua família. O Anjo reivindicou Sua divindade, fez uma provável menção à Sua onisciência divina e deu ordens importantes que influenciariam a história do povo de Israel.

Existe também a narrativa da tão conhecida luta de Jacó com um homem que na verdade era uma teofania, era o próprio Deus (vejam Gn 32:22-30). Neste episódio não é possível comprovar a participação do Anjo do SENHOR, pois fica claro que era o próprio SENHOR Deus que estava presente. Muito à frente no Antigo Testamento, no livro do profeta Oséias há uma menção deste episódio e o texto afirma que Jacó lutou com "o anjo" e prevaleceu (Os 12:4), mas, mesmo assim, não fica evidente que era o Anjo do SENHOR.

Vejam ainda para complementar que, já no fim de Gênesis, quando Jacó abençoou a José e seus flhos, o patriarca mencionou a provisão de Deus em sua vida e na de seu pai e seu avô e a proteção do Anjo de Deus em sua vida e que Deus e o Anjo de Deus trouxessem bênçãos para os seus descendentes (Gn 48:15-16).

Se depois de todas essas evidências, ainda não ficou claro para muitos que o Anjo do Senhor é o próprio Deus e ao mesmo tempo uma "pessoa" divina distinta Dele, vamos continuar com mais evidências nas próximas postagens.

sábado, 25 de setembro de 2010

A TRINDADE NO ANTIGO TESTAMENTO (PARTE 01)

INTRODUÇÃO

Após estudarmos o que o ateísmo e inúmeras seitas e religiões afirmam sobre a Trindade, após defender a inerrância e infalibilidade bíblica e estudarmos os atributos divinos e as limitações humanas, com todos estes conceitos bem firmados em nossas mentes, chegamos, enfim, acreditamos que melhor preparados, ao segundo ponto mais importante do nosso estudo, ou seja, quando fundamentaremos biblicamente todo o estudo básico da Santíssima Trindade, onde encontraremos o sólido e imutável alicerce doutrinário para a Trindade: o texto sagrado das Escrituras (conceitos avançados serão biblicamente fundamentados posteriormente).

O ponto culminante, o mais importante, será no final do estudo, quando conheceremos ou relembraremos a relevância e a praticidade da doutrina trinitariana, o que nos levará a um conhecimento prático e não meramente teórico do Deus triúno.

Pimeiramente observaremos dezenas e dezenas de referências bíblicas que confirmam a existência e a atuação das três pessoas da Trindade no Antigo e no Novo Testamento e em seguida, nas próximas postagens, analisaremos as evidências de que elas são o mesmo Deus e ao mesmo tempo são distintas entre si, compartilhando algumas conclusões em seguida.

Inicialmente podemos asseverar seguramente que a Trindade não foi esquematizada ou inventada pelos apóstolos. Ela não é uma realidade apenas encontrada no Novo Testamento, nem muito menos podemos imaginar que Deus se transformou numa Trindade para iniciar o período em que ele foi escrito. Ao contrário do que muitos podem imaginar, as evidências bíblicas da Trindade não são uma exclusividade do período da Nova Aliança.

Wayne Grudem afirmou:

“Estudar os ensinamentos bíblicos sobre a Trindade lança forte luz sobre a questão que está no âmago da nossa busca de Deus: como é Deus em si mesmo? Aqui aprendemos que, em si mesmo, no seu próprio ser, Deus existe nas pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo, sendo, porém um só Deus. Se Deus existe eternamente em três pessoas, seria surpreendentemente estranho não encontrar indicações da Trindade no Antigo Testamento” (“Teologia Sistemática”, p. 166).

Na realidade, existe uma progressão na revelação trinitária de Deus por toda a Escritura Sagrada, sendo que no Antigo Testamento, como já afirmamos, encontramos evidências da pluralidade divina até que no Novo Testamento nos é apresentada de forma clara a existência das três pessoas da Divindade. Deus, portanto, foi revelando paulatinamente em Sua Palavra a Sua natureza triúna.

O teólogo Charles Hodge, em sua obra “Teologia Sistemática” (p. 336), afirmou, entre outras coisas, que:

“(...) O caráter progressivo da revelação divina se reconhece em relação a todas as grandes doutrinas da Bíblia (...) Tudo o que encontramos desenvolvido na plenitude do Evangelho se encontra em forma rudimentar nos primeiros livros da Bíblia. O que no início se insinua apenas obscuramente, desenvolve-se gradualmente em partes posteriores do volume sagrado, até que a verdade emerge em sua plenitude (...) E é especialmente verdade no que diz respeito à doutrina da Trindade (...)”.

B. B. Warfield, também trouxe uma interessante analogia sobre esta questão da revelação progressiva da Santíssima Trindade nas Escrituras:

“Podemos comparar o Velho Testamento com um salão ricamente mobiliado, mas muito mal iluminado; a introdução de luz nada lhe traz que nele não estivesse antes; mas apresenta mais, põe em relevo com maior nitidez muito do que mal se via anteriormente, ou mesmo não tivesse sido apercebido. O mistério da Trindade não é revelado no Velho Testamento; mas o mistério da Trindade está subentendido na revelação do Velho Testamento, e aqui e acolá é quase possível vê-lo” (“A doutrina Bíblica da Trindade”, pp. 130-131, citada em “Eu creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo” de Herminsten da Costa, p. 393).

Uma questão que deve ser refutada antes de apresentarmos as evidências vetero-testamentárias da Trindade e que pode gerar dúvidas neste estudo é que muitas pessoas desmerecem o conteúdo do Antigo Testamento, acreditando que seus ensinos são ultrapassados ou que devem ser classificados como “Escritura de segunda classe”. É uma espécie de preconceito escriturístico.

Sobre essa problemática, Ralph L. Smith, em sua obra “Teologia do Antigo Testamento: História, Método e Mensagem” afirmou, entre outras coisas, que:

“Ainda precisamos do Antigo Testamento? Ele ainda tem significado, pertinência e valor religiosos?” [p. 404]; “(...) Os alicerces do cristianismo repousam sobre o Antigo e o Novo Testamentos juntos. Os ‘preparativos’ para a vinda de Jesus Cristo começaram com a primeira revelação do segredo da pessoa de Javé (...)” [p. 408]; “O Novo Testamento considera o Antigo Escritura Sagrada, e de forma alguma entende que seu valor seja limitado. Um cristão não pode considerar o Antigo Testamento Escritura de segunda linha (...)” [p. 409]; “(...) Os cristãos não devem sobrepor o Novo Testamento ao Antigo. Deve-se permitir ao Antigo Testamento que fale em seus próprios termos (...)” [p. 416].

Portanto, o Antigo Testamento possui a mesma condição de Escritura Sagrada inspirada por Deus que o Novo Testamento. O que ocorre é que o Novo Testamento apresenta a Nova Aliança em Cristo, uma aliança superior a aliança do Antigo Testamento, pois Cristo satisfez cabalmente as exigências da Lei, o que nenhum ser humano teria sido capaz (vejam, por exemplo: At 13:38-39; Rm 3:31; 5:15,20; 7:6,12; 8:3-4; 10:4; Gl 3:11,13,17,19,24-25; Hb 7:12,18,22; 8:6-7,13; 9:6-10; 10:5-14;12:24).

O Novo Testamento complementa e interpreta o Antigo Testamento, mas jamais o denigre ou o anula. Pelo contrário, inúmeros ensinos e personagens do Antigo são confirmados pelos apóstolos e pelo próprio Senhor Jesus no Novo Testamento. Ademais, toda a Bíblia forma um mesmo contexto harmoniosamente inspirado e inerrante, sendo que um Testamento não pode ser desconsiderado em detrimento do outro (Rm 15:4; 2Tm 3:16; 2Pe 1:21).

A PLURALIDADE DO SER DIVINO NO ANTIGO TESTAMENTO

Evidências da pluralidade da essência divina e atividades das três pessoas da Divindade

Em hebraico existem duas palavras para expressar unidade: echad e yachid.

A primeira palavra demonstra uma unidade composta ou plural, como, por exemplo, em Gênesis 2:24 diz que o homem e a mulher seriam uma (echad) só carne, ou seja, dois e um. A segunda expressão apresenta uma unidade absoluta, isto é, aquela que não permite pluralidade, como por exemplo, em Juízes 11:34 que diz que Jefté tinha uma única (yachid) filha. É justamente a primeira palavra (echad) que denota uma unidade composta que foi empregada em Deuteronômio 6:4, onde lemos:

"Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único [echad] SENHOR” (comparem com Mc 12:29). [citação entre colchetes de nossa parte].

Neste texto bíblico, echad indica que na unidade da divindade há uma pluralidade (comparem com Gn 2:24; Nm 13:23; Jz 20:8).

Segundo o artigo “A doutrina da Trindade” encontrado no site http://www.christiandefense.org/:

"Nesta passagem os judeus empenharam grande atenção e é uma das quatro passagens que eles escrevem em seus filactérios (sobre a palavra Elohim, Simeon Ben Joachi disse: ‘Venha e veja o mistério da palavra Elohim: há três graus e cada grau é por si mesmo único e mesmo assim são todos um, unidos em um e não divididos’)”.

Podemos ainda acrescentar as palavras de Hermann Bavinck como complementação a este ponto do nosso estudo:

“Mas essa unidade ou unicidade de Deus é, de acordo com a Escritura e com a confissão da Igreja, não uma unidade vazia, nem solitária, mas cheia de vida e força. Ela envolve diferença, ou distinção, ou diversidade. É essa diversidade que se expressa nas três pessoas do Ser de Deus” (“Teologia Sistemática”, p. 171).

E embora os hebreus adorassem o único e verdadeiro Deus, a sua utilização de nomes no plural para se referir a Ele aparentemente gerou confusão em seus vizinhos politeístas. Quando os Israelitas levaram a Arca da Aliança ao acampamento preparado para enfrentar os filisteus, encontramos o seguinte relato:

“E se atemorizaram os filisteus e disseram: os deuses vieram ao arraial. E diziam mais: Ai de nós! Que tal jamais sucedeu antes. Ai de nós! Quem nos livrará destes grandiosos deuses? São os deuses que feriram aos egípcios com toda sorte de pragas no deserto” (1Sm 4:7-8.)

Os hebreus poderiam facilmente ter evitado a confusão, usando a forma singular, porém não o fizeram. Poderíamos inferir, então, certamente, que a pluralidade do seu Deus singular era muito importante para eles.

Há referências bíblicas vetero-testamentárias que indicam (ou sugerem) a pluralidade de pessoas na Divindade pela tríplice repetição do nome Iavé, como, por exemplo: Nm 6:24-26; Dn 9:19; Is 6:3; 33:22; comparem com Ap 4:8. Pode parecer coincidência, mas acreditamos que nada nas Escrituras Sagradas tenha sido escrito sem um propósito específico (Rm 15:4; 2Tm 3:16).

As evidências da pluralidade divina, no entanto, são encontradas desde a criação da humanidade. Em Gênesis 1:26a, encontramos as seguintes declarações:

“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”.

Semelhantemente a este texto há outros que mencionam a Deus se expressando no plural, como em Gênesis 3:22a, após a desobediência de Adão e Eva:

“Então Disse o SENHOR Deus: Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal”.

E em Gênesis 11:7, no episódio da Torre de Babel:

“Vinde, desçamos, e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a linguagem de outro”.

Alguns estudiosos afirmam que esta expressão divina trata-se do uso do plural de majestade (majestático), isto é, quando um indivíduo, um rei, por exemplo, fala de si mesmo, mas na forma plural, não revelando, assim, uma pluralidade participativa. Contudo, esta ideia se torna insustentável, pois o plural majestático não existia quando o Antigo Testamento foi escrito, não se encontram exemplos de um rei usando verbos no plural para referir-se a si mesmo.

Outra sugestão apresentada para explicar o uso do plural por Deus é que Ele estava nestas ocasiões falando com anjos. Mas a Bíblia não indica que os anjos participaram da criação do homem, nem foi o homem criado à imagem e semelhança de anjos e nem participaram do episódio da Torre de Babel, apesar do fato de que serafins estavam presentes na visão de Isaías (Is 6), quando Deus indagou: "Quem há de ir por nós?", mas não parece sensato e convincente pensar que Ele estava incluindo esta classificação de anjos como aqueles que juntamente com Deus enviaram aquele profeta em sua missão. A explicação mais biblicamente aceitável é que já nos primeiros capítulos de Gênesis e em Isaías temos indicações da pluralidade de pessoas no próprio Deus.

Não é possível, no entanto, analisando isoladamente Gênesis e Isaías, por exemplo, saber quantas pessoas são e nada encontramos à primeira vista que se aproxime de uma doutrina da Trindade nestes textos, mas seguramente se infere que há mais de uma pessoa nessas declarações. Veremos posteriormente que o Novo Testamento esclareceu essa questão, principalmente referindo-se à visão de Isaías.

Podemos afirmar que as três pessoas da Divindade participaram da criação do homem, pelo fato de que outros trechos das Escrituras afirmam claramente isso. Jesus Cristo também criou todas as coisas, as visíveis e as invisíveis (Jo 1:1,3; Cl 1:16-17; Hb 1:10) e consequentemente o homem. Mencionando a Cristo, o Filho do amor de Deus Pai e Sua imagem em Colossenses 1:13-15, o apóstolo Paulo afirmou no v. 16b:

“Tudo foi criado por meio dele e para ele”.

Já em Jó 33:4, Eliú declarou:

“O Espírito de Deus me fez; e o sopro do Todo-Poderoso me dá vida”.

Quem criou o homem, então? Deus Pai, Jesus ou Espírito Santo? Se a Bíblia afirma que foi Deus quem criou o homem (Gn 1:26-27), mas que Jesus Cristo e o Espírito Santo também o fizeram, então, podemos afirmar que o homem foi criado pela Santíssima Trindade, ou seja, obviamente por Deus.

Esta realidade fica ainda mais evidente quando nos defrontamos com textos como Jó 35:10, Salmo 149:2, Eclesiastes 12:1 e Isaías 54:5, nos quais a tradução para a língua portuguesa apresenta “Criador” no singular, mas o texto original hebraico apresenta o termo no plural: Criadores.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

ALGUNS ATRIBUTOS DO DEUS TRINITÁRIO

Vamos recorrer inicialmente a Confissão de Fé de Westminster. Sendo que se torna necessário para tal, traçarmos um pequeno histórico sobre a Confissão de Fé, pois iremos utilizá-la em mais dois momentos posteriormente.

Em 12 de junho de 1643 uma grande assembléia de teólogos e eruditos das Escrituras foi convocada pelo Parlamento da Inglaterra para, entre outras coisas, estabelecer os pontos doutrinários da Igreja Cristã Reformada diante de inúmeras heresias que se opunham a sã doutrina bíblica naquele tempo. A Assembléia de Westminster, como ficou conhecida, quando 151 teólogos reunidos na Abadia de Westminster, em Londres (de julho de 1643 a fevereiro de 1649), resultou na promulgação da Confissão de Fé e nos Catecismos (Maior e Breve).

A Confissão, por sua vez, expressa de forma resumida a doutrina trinitariana, no seu capítulo II, que trata “De Deus e da Santíssima Trindade”. Vamos observar neste momento apenas suas primeiras afirmações concernentes aos atributos divinos (artigo 1), mais adiante observamos os artigos 2 e 3. Ressaltamos que a Confissão de Fé não visa ocupar o lugar da Bíblia como única regra de fé e prática, mas servir como declaração da fé reformada diante de heresias, tratando de forma sistemática doutrinas que muitas vezes estão dispersas por toda a Bíblia (Obs: O art. 1º, do cap. 1º da Constituição da I.P.B., por exemplo, referente a “Natureza, governo e fins da Igreja” nos informa que a Confissão de Fé é um “sistema expositivo de doutrina e prática”).

No artigo 1º, do capítulo 2, portanto, a Confissão de Fé de Westminster afirma:

“I) Há um só Deus vivo e verdadeiro, o qual é infinito em seu ser e perfeições. Ele é um espírito puríssimo, invisível, sem corpo, membros ou paixões, é imutável, imenso, eterno, incompreensível, onipotente, onisciente, santíssimo, completamente livre e absoluto, fazendo tudo para a sua própria glória e segundo o conselho da sua própria vontade, que é reta e imutável. É cheio de amor, é gracioso, misericordioso, longânimo, muito bondoso e verdadeiro galardoador dos que o buscam, e, contudo, justíssimo e terrível em seus juízos, pois odeia todo pecado; de modo algum terá por inocente o culpado” (p. 26).

As referências bíblicas usadas pela Confissão de Fé foram: Gn 17:1; Ex 3:14; 36:6-7; Dt 4:15-16; 6:4; 1Rs 8:27; Ne 9:32-33; Jó 11:7-9; Sl 5:5-6; 92:2; 115:3; 145:3; Pv 16:4; Is 6:3; Jr 10:10; Na 1:2-3Lc 24:39; Jo 6:24; At 14:11,15; Rm 11:36; 16:27; 1Co 8:4,6; Ef 1:11; 1Ts 1:9; 26:14; 1Tm 1:17; Hb 11:6; Tg 1:17; 1Jo 4:8; Ap 4:11.

Portanto, vamos de maneira resumida relembrar alguns atributos divinos, certamente primordiais para o estudo da Trindade:

1º) Deus é único: Jamais devemos nos afastar deste ponto, por mais que pareça a princípio entrar em contradição com a doutrina trinitariana. Jamais vamos perder de vista que o nosso querido Deus é um. Ele é o único e suficiente Deus do universo. Jamais pensemos que adoramos três deuses ou três pessoas que em algum momento se transformaram em um só deus (!). Ao orar a Deus, O contemplemos sempre como uma unidade. Do contrário, poderemos experimentar em algum nível uma confusão mental que pode até mesmo nos afastar do único e verdadeiro Deus, sem saber exatamente com quem estamos falando e adorando.

“Vós sois as minhas testemunhas, diz o SENHOR, o meu servo a quem escolhi; para que o saibais e me creiais e entendais que sou eu mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá. Eu, eu sou o SENHOR, e fora de mim não há Salvador” (Is 43:10-11; cf. Dt. 6:4; 1Rs 8:60; Is 45:5-6; Jo 5:44; 17:3; Rm 3:30; Gl 3:20; 1Tm 1:17; 6:15; Tg 2:19; Jd 25).

2º) Deus não compartilha a Sua glória com ninguém: “Deus é a Trindade”. Essa afirmação reflete a mais inalterável verdade. Se apenas uma das três pessoas da Trindade estivesse ausente ou não possuísse atributos divinos, então não haveria Deus. Se Jesus fosse um simples ser humano ou o Espírito Santo fosse um tipo de força cósmica ou energia, como muitos afirmam, Deus jamais teria dito:

“Eu sou o SENHOR, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra às imagens de escultura” (Is 42:8; cf. 48:11).

Seria contradição Deus compartilhar Sua glória com um ser humano e uma energia cósmica.

3º) Deus é insondável: É impossível compreender totalmente a natureza de Deus. Por mais que se façam profundas reflexões filosóficas e teológicas, jamais o ser humano conseguirá conceber em sua mente a grandeza imensurável do nosso Deus:

“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria, como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e quão inescrutáveis os seus caminhos. Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro?” (Rm 11:33-34; cf. Jó 36:22-26; Is 40:28; 55:8; 1Co 1:18,25; 2:6-16).

4º) Deus é eterno: Deus habita a eternidade e conseqüentemente não sofre a ação do tempo como nós, seres humanos, a Sua existência não é de forma linear ou contínua como a nossa, ela não tem início e nem fim. Mas, Ele não está livre da ação contínua do tempo apenas por ser Todo-Poderoso, mas, principalmente porque foi Ele mesmo quem criou o tempo, Ele é o motivo do tempo existir.

“Eis que Deus é grande e não o podemos compreender; o número dos seus anos não se pode calcular.” (Jó 36:26).

“Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus.” (Sl 90:2; comparem com Dt 32:40; Sl 102:27; 1Co 2:7; Ef 1:4; 1Tm 1:17; 6:16; Ap 1:8; 15:8).

Complementando este item, na Teologia Sistemática de Augustus H. Strong (Vol. I, p. 412), temos as seguintes afirmações:

“Eternidade é infinitude com relação ao tempo. Implica que a natureza de Deus não está sujeita à lei do tempo. Deus não está no tempo. Mais correto é dizer que o tempo não está em Deus. Apesar de que há sucessão lógica nos pensamentos de Deus, não há sucessão cronológica”.

5º) Deus é espírito: Da mesma forma que Deus não está vinculado aos efeitos do tempo, Ele também não sofre a influência do mundo material, pois Ele é espírito. Ele não está limitado a um determinado local, cidade ou qualquer região do nosso planeta ou do universo (com exceção da natureza humana do Senhor Jesus).

“Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.” (Jo 4:24; cf. v. 21; At 7:48-50; 17:24).

6º) Deus é perfeito: Ele não erra, não se engana ou e nem se arrepende. Ele não mente, pois é a verdade e apenas fala o que é verdade

“Porventura desvendarás os arcanos de Deus ou penetrarás até a perfeição do Todo-Poderoso?" (Jó 11:7-9).

"Também a Glória de Israel não mente nem se arrepende; porquanto não é homem, para que se arrependa.” (1Sm 15:29).

“Eu, o SENHOR, falo a verdade, e proclamo o que é direito.” (Is 45:19b; cf. Jo 17:17; Hb 6:18; 2Tm 2:13; Tt 1:2).

7º) Deus é infinito: É absolutamente impossível mensurar não somente a existência eterna de Deus, mas a Sua natureza infinita. Ele não tem começo nem fim, já que Ele é um espírito eterno, perfeito, insondável e auto-existente, antes de qualquer coisa criada.

“Mas, de fato habitaria Deus na terra? Eis que os céus, até o céu dos céus, não te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei.” (1Rs 8:27).

8º) Deus é onipresente: Ele está em todo o universo, não em um sentido literal, com a Sua essência espalhada por todo ele, mas, de forma misteriosamente multidimensional (entre o mundo espiritual e o material), pois Ele sempre foi e será um espírito infinito e ilimitado, antes de qualquer coisa que Ele mesmo criou, podendo, assim, estar em todas as partes do universo ao mesmo tempo.

Deus é ao mesmo tempo imanente (se relaciona com a criação e participa ativamente da história humana) e transcendente (está acima, separado e independente da Sua criação).

"Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e vivificar o coração dos contritos.” (Is 57:15 cf. Ex 3:7-8; Jó 11:17; 22:12; 33:12; 37:23; Sl 104:27-30; 113:5-7; Jr 23:24; Is 34:14-15; Jo 8:23).

9º) Deus é onipotente: Ele é Todo-Poderoso. Tudo é possível para Deus (Lc 18:27).

“Ainda antes que houvesse dia, eu era; e nenhum há que possa livrar alguém das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá?” (Is 43:13; cf. Jó 25:2; 42:2; 1Cr 29:11-12; Ap 5:11-13).

Contudo, devido à Sua completa perfeição, mesmo podendo fazer qualquer coisa, Ele jamais desejaria realizar algo que contrariasse Sua completa bondade e Sua completa justiça.

10º) Deus é onisciente: Ele sabe de todas as coisas. Não há nenhuma situação que escape aos olhos oniscientes de Deus. Ele conhece cada pensamento e cada atitude dos seres humanos, bem como tudo o que acontece em todo o universo que Ele criou.

“Os olhos de Deus estão sobre os caminhos do homem, e vêem todos os seus passos. Não há trevas, nem sombra assaz profunda, onde se escondam os que obram a iniqüidade.” (Jó 34:21-22; cf. Dt 29:29; 1Sm 16:7; Jó 28:24; Dn 2:20-23, Jo 21:17; At 15:18; 1Co 2:10).

11º) Deus é imutável: Em Deus não pode haver diminuição ou acréscimo em Sua essência ou em Seus atributos, pois toda mudança evidentemente é para pior ou para melhor, mas Deus não precisa melhorar e nem irá piorar, pois Ele é eternamente perfeito. O que Deus é, Ele sempre foi e sempre será. Em nenhum momento do tempo houve algum tipo de alteração na natureza ou nos atributos dEle e nem haverá.

“Toda boa dádiva e todo dom perfeito é lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança.” (Tg 1:17; cf. Sl 102:25-27; Ml 3:6).

12º) Deus é soberano: Deus é soberano sobre todas as situações de nossa vida e sobre toda a Sua criação, a despeito de circunstâncias de dificuldades e de provações:

“No céu está o nosso Deus; e tudo faz como lhe agrada.” (Sl 115:3; cf. Ec 7:14; Ef 1:11; Fp 2:13).

E pelo fato de Deus possuir todos estes atributos, entre tantos outros, Ele é absoluto. Ele não está sujeito às regras de tempo (nascimento e morte) ou espaço (altura, largura ou profundidade). Por isso também o apóstolo Paulo afirmou:

"Porque eu estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem cousas do presente ou do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Rm 8:38-39; comparem com Ef 3:17-18).

Em suma, a Santíssima Trindade é a essência de Deus. Ele não se tornou uma Trindade. Ele é a Trindade, pois esta é a Sua natureza eterna, absoluta e imutável. Seria um absurdo pensarmos que Ele deveria mudar a Sua natureza apenas por causa das limitações humanas e suas conjecturas contrárias à eterna Palavra revelada inerrantemente na Bíblia. Aliás, é somente quando estudamos a Santíssima Trindade que podemos confessar que estamos nos aprofundando no conhecimento do único Deus verdadeiro. João Calvino afirmou:

“(...) Ele não somente nos diz que é Uno, mas sim que três pessoas devem ser conhecidas e distinguidas nEle. Se não nos apegarmos firmemente a isto, não temos nenhum conhecimento do Deus verdadeiro; temos somente o nome de Deus flutuando em nosso cérebro (...)” (“As Institutas da Religião Cristã, – Um resumo – Parte 13, p. 60).

Deus não é um velhinho de barba e cabelos brancos que vive em uma nuvem distante. Ele não é um espírito errante e piedoso que serve apenas para presentear as pessoas. Ele não é uma espécie de gênio da lâmpada que está disponível para satisfazer os caprichos e as tendências egocêntricas humanas e muito menos um mero ser espiritual com poderes cósmicos que divide o domínio do universo com o diabo. Deus está muito, muito além de todos estes conceitos heréticos, simplistas e humanísticos. Deus é muito mais elevado e cheio de glória do que possamos imaginar. Ele está infinitamente acima do que qualquer área do conhecimento humano:

“Ó SENHOR, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu glorificado em santidade, terrível em feitos gloriosos, que operas maravilhas?” (Ex 15:11).

“Levantai-vos, bendizei ao SENHOR vosso Deus de eternidade em eternidade. Então se disse: Bendito seja o nome da tua glória, que ultrapassa todo bendizer e louvor.” (Ne 9:5b).

“Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o SENHOR, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos.” (Is 55:8-9; comparem com Is 40:15-18,22-23; Rm 11:33-36).

domingo, 19 de setembro de 2010

A DIFICULDADE EM COMPREENDER O CRIADOR TRINITÁRIO

Vivemos um tempo em que o ser humano está cada vez mais distante de Deus em uma total inversão dos eternos valores bíblicos. No conceito humano, “Deus” está sendo humanizado e o “homem” está sendo divinizado, fatores que dificultam demasiadamente a compreensão correta de Deus e de Sua natureza triúna. Portanto, é de suma importância que antes de apresentarmos as evidências bíblicas da Santíssima Trindade e toda a doutrina que a cerca, que estudemos os atributos de Deus, mesmo que resumidamente, bem como a fragilidade humana e sua dificuldade em compreender o Ser de Deus.

O ser humano anela cada vez mais se comparar ao seu Criador, desde o início da humanidade ele não está satisfeito com a sua posição de criatura finita (Gn 3:6; 11:4-6; Pv 27:20b; Ec 4:8). Atualmente inúmeros conceitos seculares apregoam, mesmo que nem sempre de forma explícita, que não precisamos de Deus. Segundo estes conceitos, com a nossa própria força mental e autodeterminação podemos realizar qualquer sonho e vencer qualquer tipo de problema.

É evidente que a mente humana é maravilhosamente forte, pois é criação de Deus, mas, é um pálido reflexo da mente de Seu Criador (Gn 1:26-27) e estes conceitos humanistas acabam se mostrando exagerados e, inclusive, diabólicos, pois, pretendem nos separar dEle. Ao contrário disso, a Bíblia afirma que “a nossa suficiência vem de Deus” (2Co 3:5). Portanto, é necessário para compreender melhor a Deus e Sua natureza triúna, que adotemos quatro atitudes principais, dentre outras, sendo que estamos suscetíveis a “tropeçar” em uma ou mais delas ou até mesmo em todas elas. Por isso, é preciso atenção:

Primeiro: Admitirmos que somos falhos e limitados. As dificuldades de compreensão que encontramos ao estudar a natureza triúna de Deus, não residem nas Escrituras Sagradas, pois a Bíblia é perfeita. Ou nós não conseguimos interpretar corretamente os textos bíblicos utilizando as inúmeras regras de interpretação existentes ou a culpa se encontra justamente em nossa limitada capacidade de compreender os mistérios da vida humana.

Segundo: Não sermos preconceituosos quanto a algo que não compreendemos. O simples fato de não entendermos alguma doutrina, não quer dizer que ela seja mentirosa e que não mereça a nossa atenção e apreço. Não devemos rejeitar tudo aquilo que não pareça prático ou lógico do nosso ponto de vista. Nós também não conseguimos entender completamente a vida após a morte e onipresença de Deus, por exemplo, mas nem por isso nós deixamos de acreditar nesses dogmas do cristianismo.

Terceiro: Não sermos orgulhosos em relação ao conhecimento já adquirido sobre a vida cristã. Muitas vezes acreditamos que já sabemos tudo sobre Deus e nos fechamos para ensinamentos contidos em Sua Palavra dos quais não temos conhecimento. Não devemos nos esquecer que “o saber ensoberbece” (1Co 8:1-2) e que mesmo se realizarmos tudo o que Deus nos ordenou, deveremos nos considerar “servos inúteis” (Lc 17:7-10).

Quarto: Não idealizarmos a Deus do ponto de vista humano, mas apenas nos basear nas revelações bíblicas. Do contrário acabamos por “construir” o nosso próprio deus, muito aquém de tudo o que Deus realmente é e tentando limitar a Sua ilimitada grandeza através de parâmetros e critérios de avaliação meramente humanos, oriundos de uma sociedade tremendamente afetada pelo pecado.

Sobre esta impossibilidade de analisarmos a personalidade divina tendo a humana como parâmetro, Berkhof sabiamente salientou que:

“Visto que o homem foi criado à imagem de Deus, podemos compreender algo da vida pessoal de Deus pela observação da personalidade como a conhecemos no homem. Contudo, precisamos ter o cuidado de não estabelecer a personalidade humana como padrão pelo qual avaliar a personalidade de Deus. A forma original da personalidade não está no homem, mas em Deus (...) Devemos dizer que, aquilo que aparece como imperfeito no homem, existe com infinita perfeição em Deus. A grande diferença entre ambos é que o homem é unipessoal, enquanto que Deus é tripessoal. E essa existência tripessoal é uma necessidade do Ser Divino, e em nenhum sentido resulta de uma escolha feita por Deus, Ele não poderia existir em nenhuma outra forma que não a forma tripessoal” (“Teologia Sistemática”, p. 81).

Infelizmente Deus continua sendo “o Deus desconhecido” (At 17:23; cf. Jó 26:14). Inúmeros conceitos seculares apregoados pelos meios de comunicação e por diversos segmentos da sociedade têm distorcido o verdadeiro lugar que devem estar o Criador e a Sua criatura. Este triste fenômeno, no entanto, não ocorre apenas em nossa sociedade secularizada, mas também nas igrejas cristãs, evidentemente numa proporção muito menor e poderia ser evitado ou pelo menos enfraquecido se a Igreja de Cristo fosse mais preparada.

O descaso e a falta de transmissão adequada dos preceitos bíblicos durante várias gerações, as quais paulatinamente tem se esquecido de Deus, se amoldando aos padrões de conduta seculares, certamente contribuíram muito para este quadro que, por sua vez, é uma triste realidade presente em vários lares cristãos. Muitos pais não repassam as tradições cristãs e a importância de se ter uma comunhão com Deus e Sua Palavra aos seus filhos, com dedicação e perseverança suficientes. Foi exatamente acerca desta triste e alarmante realidade que David J. Merkh, em seu livro “101 idéias criativas para o culto doméstico” (p.11), sabiamente alertou:

“(...) Qualquer pessoa que tenha experimentado um período de amnésia conhece a sensação desconcertante de acordar de repente e perceber que uma parte de sua vida foi apagada da memória. Que tragédia! Contudo, uma tragédia ainda maior persegue hoje inúmeras famílias cristãs. Acreditando-se vencedoras, descobrem que estão prestes a perder a batalha pela preservação da lembrança mais preciosa do nosso legado espiritual. A amnésia espiritual apaga das nossas mentes a lembrança de Deus. Identificamos um padrão que parece se repetir com certa freqüência entre as famílias crentes: A primeira geração conheceu a Deus. A segunda geração conheceu fatos acerca de Deus. A terceira geração não conheceu a Deus (...)” [vejam. Dt 6:10-12].

Temos ainda algumas declarações de Arthur W. Pink, em seu livro “Os atributos de Deus” (p. 7). Ele afirmou que:

“(...) Dos que lêem ocasionalmente a Bíblia, bem poucos sabem da grandeza do caráter divino, que inspira temor e concita à adoração. Que Deus é grande em sabedoria, maravilhoso em poder, não obstante, cheio de misericórdia, muitos acham que pertence ao conhecimento comum; contudo, chegar-se a um conhecimento adequado do Seu Ser, Sua natureza, Seus atributos, como estão revelados nas Escrituras Sagradas, é coisa que pouquíssimas pessoas têm alcançado nestes tempos degenerados (...)”.

Devido à fatos como estes, se torna cada vez mais complicado para as pessoas, sejam cristãs ou não, entender a doutrina da Trindade, haja visto que muitos se esquecem ou nem sabem quem Deus é ou o que Ele é. E é no intuito de reafirmamos inúmeros atributos de Deus, que citaremos vários deles, pois são parâmetros imprescindíveis para compreendermos melhor a natureza triúna dEle. C. H. Spurgeon, considerado “o príncipe dos pregadores” afirmou que:

“Nada alargará tanto o intelecto, nada engrandecerá tanto a alma do homem, como um a investigação devota, zelosa e continuada do grande tema da Deidade. O mais excelente estudo para a expansão da alma é a ciência de Cristo, e Este crucificado, e o conhecimento do Ser divino na Trindade gloriosa” (citado em “Os atributos de Deus” de Arthur W. Pink, pp. 91-92).

sábado, 18 de setembro de 2010

TRINDADE: MISTÉRIO REVELADO, MAS NÃO DECIFRADO

A SANTÍSSIMA TRINDADE NÃO É O ÚNICO "MISTÉRIO" MENCIONADO NA BÍBLIA

Na Bíblia há outros elementos escriturísticos que são denominados “mistérios” pela própria Bíblia, ou seja, são fatos que estão fora do alcance de nosso entendimento limitado, mas que foram revelados nas Escrituras Sagradas, como, por exemplo, o “mistério da iniqüidade” (2Ts 2:7), o “mistério da piedade” (1Tm 3:16), o “mistério da Sua vontade” (Ef 1:9-10; 3:3-9), o “mistério do Reino de Deus” (Mc 4:11), o grande “mistério do relacionamento de Cristo com Sua Igreja” (cf. Ef 5:32) - Comparem estes textos com Dn 2:28; Rm 11:25; 16:25; 1Co 2:7; 4:1; 13:2; 14:2; 15:51; Ef 6:19; Cl 1:26-27; 2:2.

Sobre este assunto, Robert M. Bowman Jr em seu livro “Por quê devo crer na Trindade” (p. 17), afirmou:

“(...) É verdade que muitos trinitaristas – especialmente entre os católicos, mas também entre os protestantes e ortodoxos – declaram taxativamente que a Trindade não pode ser compreendida e que é, nesse sentido, um ‘mistério’. É válido o aspecto da verdade que estão ressaltando, embora não seja bem exata a sua linguagem. Um ‘mistério’ na linguagem bíblica é geralmente um segredo que antes não era conhecido pelo homem, mas que agora passou a ser revelado, mais do que uma verdade que os homens não conseguem entender. Mesmo assim, esses mistérios tendem a possuir um elemento ‘misterioso’ que não pode ser totalmente entendido pelos homens (...) Dizer que não se pode compreender a Trindade é inexato, também, ou pelo menos passível de equívocos. Os teólogos trinitaristas não querem dar a entender que a Trindade é um absurdo ininteligível. Pelo contrário, apenas querem ressaltar que a Trindade não pode ser totalmente sondada e compreendida pela mente finita do homem. Há uma diferença entre conseguir uma compreensão basicamente correta de alguma coisa e ter uma compreensão completa, integral, total e perfeita da mesma. O modo de muitos teólogos expressarem essa diferença seria declarar que a Trindade pode ser entendida ou ‘apreendida’, mas não ‘compreendida’ (...)”.

Nós, cristãos, realmente confessamos que a doutrina da Trindade não é de fácil compreensão em sua totalidade, mas nem por isso afirmaremos que ela é confusa. É um equívoco rejeitar um aprofundamento nesta doutrina apenas pelo fato de ainda não compreendê-la totalmente. Geralmente aqueles que não a compreendem são os não-crentes, os cristãos ainda imaturos na fé ou aqueles que não se deram ao “trabalho” de acurar melhor sobre esta maravilhosa e indispensável doutrina cristã.

O que podemos observar é que a doutrina da Trindade é um mistério revelado, mas não decifrado. À nós, meros seres humanos finitos e limitados, apenas resta a humilde conduta de aceitar os mistérios da Bíblia, inclusive a Trindade, e exclamar como o salmista Davi diante da grandeza de Deus:

“Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim; é sobremodo elevado, não o posso atingir.” (Sl 139:6).

Sobre a mentalmente inatingível realidade da triunidade divina, Berkhof considerou que:

“A Trindade é um mistério, não somente no sentido bíblico de que se trata de uma verdade anteriormente oculta e depois revelada, mas também no sentido de que o homem não pode compreendê-la e não pode torná-la inteligível. É inteligível em algumas de suas relações e de seus modos de manifestação, mas é ininteligível em sua natureza essencial (...) A real dificuldade está na relação em que as pessoas da Divindade estão com a essência divina e uma com as outras, e essa é uma dificuldade que a igreja não é capaz de remover, podendo apenas tentar reduzí-la as suas apropriadas proporções mediante uma apropriada definição de termos. Ela jamais tentou explicar o mistério da Trindade, mas procurou somente formular a doutrina de modo que fossem evitados os erros que a ameaçam” (“Teologia Sistemática” – p. 85).

Enquanto que Adão Carlos Nascimento em seu livreto “A razão da nossa fé” (p. 18), afirmou, entre outras coisas, que:

“(...) Que é Santíssima Trindade? É a coexistência das Três Pessoas na Divindade Única (...) É um mistério que não pode ser explicado nem definido, porque está além do alcance da mente do homem. Em suma: ou aceitamos a Triunidade do Deus Único, ou temos de admitir três deuses na Bíblia. A Bíblia, no entanto, nos ensina com muita clareza que existe um só Deus verdadeiro (1Co 8.5,6; 1Tm 2.5) (...)”

A IMPORTÂNCIA DO NÚMERO TRÊS NA BÍBLIA

O número “três” possui extrema importância no contexto bíblico, ele é aplicado à inúmeras situações e assume simbolicamente inúmeras realidades simplesmente porque reflete uma analogia sagrada com a perfeição que existe na essência de Deus, que é tripessoal (subsiste em três formas pessoais e eternas). Exatamente por este motivo, esta realidade em nenhum momento expressa algum tipo de misticismo ou superstição.

Salientamos, portanto, que não desejamos aqui fundamentar nenhuma “doutrina numerológica” afirmando que o número “três” é mencionado na Bíblia apenas no intuito de trazer “sorte” ou “azar” a quem quer que seja.

Herbert Lockyer trouxe uma extensa lista de narrativas bíblicas na qual o número “três” está inserido e o significado que o mesmo possui biblicamente falando:

Este número tem associação sagrada porque representa a trindade – Pai, filho e Espírito Santo (Mateus 28:19) (...) Aqui, por exemplo, estão alguns exemplos a fim de aguçar o interesse: Três homens apareceram a Abraão (Gênesis 18:2). Três cidades de refúgio (Deuteronômio 4:41). Três vezes por ano (Deuteronômio 16:16). Tríplice bênção sacerdotal (Números 6:24-26). Tríplice clamor dos serafins (Isaías 6:3). Três chamados à terra (Jeremias 22:29). Três vezes ao dia Daniel orava (Daniel 6:13). Três vezes Pedro negou a Cristo (Marcos 14:72). Três medidas de farinha (Mateuis 13:33). Três dias e três noites (Mateus 12:40). Três vezes Pedro viu a visão (Atos 10:16). Três vezes Paulo foi à presença do Senhor por seu espinho (2 Coríntios 12:8). A tríade é uma parte integral da Escrituras, e onde quer que seja encontrada geralmente pode ser vista como o número simbólico do que é divino (como no caso de Paulo da saudação freqüente da graça, misericórdia e paz). Testemunho divino e inteireza divina freqüentemente são enfatizados por este número (...) Assim como três dimensões: comprimento, largura e altura são necessárias para formar um objeto sólido, o número três pode ser tratado como símbolo do cubo, e portanto, representativo do que é sólido, real, substancial, completo e inteiro. Ao todo há quatro números perfeitos que sugerem a inteireza nas Escrituras: Três, representando a perfeição divina. Sete, representando a perfeição espiritual. Dez, representando a perfeição ordinal. Doze, representando a perfeição governamental” [grifos meus] (“Apocalipse: o drama dos séculos”, pp. 226-228).

Ainda em referência ao Apocalipse, sobre os 144.000 salvos de Ap 7:4, o Rev. Hernandes Dias Lopes, apresentou a interpretação pré-milenista histórica/amilenista. Observaremos apenas o trecho onde ele refere-se à Santíssima Trindade:

“(...) O número 144.000 não é estatístico, mas metafórico. Primeiro, o número 3, que significa a Trindade, é multiplicado por 4, que indica a inteira criação, porque os selados virão do Norte e do sul, do Leste e do Oeste. 3 multiplicado por 4 são 12. Portanto, esse número indica: a Trindade (3) operando no universo (4) (...)” [grifos meus]; (“Apocalipse – O futuro chegou”, p. 189).

A edição da “Bíblia da Mulher” também trouxe um estudo sobre a Bíblia e sua relação com os números, com uma abordagem semelhante:

“O significado dos números nas Escrituras. Significado Bíblico. 1. Unidade (Gn 2.24); existência independente (Dt 6:4); 2. Uma adição – força, ajuda (Ec 4.9-12); 3. Unidade composta mais simples; o número de Deus (Mt 28.19); 4. O mundo com suas quatro estações e direções (Ap 7.1); 5. A humanidade com as cinco partes dos membros do corpo (Lv 14.14-16); 6. O mal e o fracasso ficam aquém do número sete, que representa a perfeição (Ap 13.18); 7. Perfeição ou plenitude; número que representa a terra coroada pelos céus (Ap 1.4); 10. O dobro de cinco e, portanto, a plenitude humana (Ap 2.10); 12. A manifestação perfeita de Deus de si mesmo à ordem criada (Ap 21.12). Nota: Ao longo das Escrituras, os números, com freqüência, têm sentidos simbólicos e também literais. No livro do Apocalipse, o número sete é especialmente predominante, aparecendo mais de 50 vezes”. [grifos meus] (“A Bíblia da Mulher: Leitura – Devocional – Estudo”, p. 1636).

Mais impressionante é um estudo sobre a molécula da neve e sua relação com o algarismo “três” e também com a existência triúna de Deus:

“O Sr. A J. Pace, desenhista do periódico evangélico ‘Sunday School Times’, fala de sua entrevista com o finado Wilson J. Bentley, perito em microfotografia (fotografar o que se vê através do microscópio). Por mais de um terço de século esse senhor fotografou cristais de neve. Depois de haver fotografado milhares desses cristais ele observou três fatos principais: primeiro, que não havia dois flocos iguais; segundo: todos eram de um padrão formoso; terceiro: todos eram invariavelmente de forma sextavada. Quando lhe perguntaram como se explicava essa simetria sextavada, ele respondeu: ‘Decerto, ninguém sabe senão Deus, mas a minha teoria é a seguinte: Como todos sabem, os cristais de neve são formados de vapor de água à uma temperatura abaixo de zero, e a água se compõe de três moléculas, duas de hidrogênio que se combinam com uma de oxigênio (...) O algarismo três, portanto, figura no assunto desde o começo’ (...) Sua declaração acerca do ‘algarismo três que figura no assunto’ me pôs a pensar. Não seria então que o trino Deus, que modela toda a formosura da criação, rubrica a própria trindade nestas frágeis estrelas de cristal de gelo como quem assina seu nome em sua obra-prima? Ao examinar os flocos de neve ao microscópio, vê-se instantaneamente que o princípio básico da estrutura do floco de neve é o hexágono ou a figura de seis lados, o único exemplo disso a todo o reino da geometria a este respeito (...) Portanto, resultam seis triângulos equiláteros reunidos ao núcleo central (...) Que símbolo sugestivo do trino Deus é o triângulo! Aqui temos unidade: um triângulo, formado de três linhas, cada parte indispensável à integridade do conjunto. A curiosidade agora me impeliu a examinar as referências bíblicas sobre a palavra ‘neve’, e descobri, com grande prazer, este mesmo ‘triângulo’ inerente na Bíblia. Por exemplo, há 21 (3 x 7) referências contendo o substantivo ‘neve’ no Antigo Testamento, e 3 no Novo Testamento, 24 ao todo. Então achei 3 referências que falam da ‘lepra tão branca como a neve’. Três vezes a purificação do pecado é comparada à neve. Achei mais três que falam de roupas ‘tão brancas como a neve’. Três vezes a aparência do Filho de Deus compara-se à neve. Mas a maior surpresa foi ao descobrir que a palavra hebraica, ‘neve’, é composta inteiramente de algarismos ‘três’! É fato, embora não seja geralmente conhecido que, não tendo algarismos, tanto os hebreus como os gregos usavam as letras do seu alfabeto como algarismos. Bastava um olhar casual de um hebreu à palavra SHELEG (palavra hebraica que quer dizer ‘neve’) para ver que ela significa o algarismo 333 (...). No hebraico a primeira letra, que corresponde à nossa ‘SH’, vale 300; a segunda consoante ‘L’ vale 30; e a consoante final, o nosso ‘G’, vale 3. Somando-as, temos 333, três algarismos de três. Curioso, não é verdade? (...)" [grifos meus] (fonte: http://rubens.colli.com.br/?cat=7, texto extraído do livro "Conhecendo as doutrinas da Bíblia" de Myer Pearlman).

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A DOUTRINA TRINITARIANA NÃO É UMA CONTRADIÇÃO

INTRODUÇÃO

A alegação de muitas pessoas de que existe contradição na doutrina da Trindade é infundada. Os ensinos bíblicos não apenas da Trindade, mas sobre qualquer assunto, na verdade, não se contradizem, eles se complementam. Norman Geisler e Thomas Howe no “Manual popular de dúvidas, enigmas e ‘contradições’ da Bíblia” (p. 376), a este respeito afirmaram o seguinte:

“Mateus 28:18-20 - Como é que três pessoas podem ser Deus, se há um só Deus? Problema: Mateus fala do ‘Pai e do Filho e do Espírito Santo’, todos participando de um ‘nome’. Mas são três pessoas diferentes. Como pode haver três pessoas da Divindade, já que há um único Deus? (Dt 6:4; 1Co 8:6). Solução: Deus é um em essência, mas três em pessoas. Ele tem uma só natureza, mas três centros de consciência. Isto é, há apenas um ‘O Que’ em Deus, mas há três ‘Quem’. Há um só ser, mas são três ‘Eu’. Isso é um mistério, mas não uma contradição. Seria contraditório dizer que Deus é uma só pessoa, mas também três pessoas. Ou que Deus tem uma só natureza, mas também tem três naturezas. Mas declarar, como os cristãos, que Deus é um em essência, eternamente revelado em três pessoas distintas, isso não é uma contradição”.

Vejamos a figura abaixo (em inglês), exemplificando o que acabamos de ver neste artigo acima: Em Deus axiste apenas um "O QUÊ" (WHAT), ou seja, uma substância ou essência, mas três "QUEM" (WHO), ou seja, três "pessoas" ou "personalidades".


No artigo "O Deus Triúno" de Vincent Cheung (Ministério Reformado Internacional), percebemos que o mesmo também defendeu que a doutrina da Trindade não consiste em uma contradição:

“A formulação doutrinal para a Trindade é que Deus é ‘um em essência, e três em pessoa’. Isto não confere uma contradição, visto que não estamos dizendo que Deus é ‘um em essência, e três em essência’, ou que Deus é ‘um em pessoa, e três em pessoa’. Isto é, não estamos dizendo que Deus é um e três no mesmo sentido, mas que Ele é um num sentido, e três em outro sentido. Portanto, não há contradição na doutrina da Trindade” (extraído e traduzido do livro “Prayer and Revelation” (p. 5), por Felipe Sabino de Araújo Neto: fonte: http://www.monergismo.com/textos/trindade/trindade_cheung.htm).

O escritor Aldo Meneses fez defesa semelhante:

“(...) Com Trindade não queremos dizer que acreditamos em três deuses, pois há somente um Deus único e verdadeiro (Dt 6.4; Is 43.10) que subsiste em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Mesmo sendo paradoxal, o ensino não é contraditório. Deus é três e um simultaneamente. Precisamos distinguir os termos ‘pessoa’ e ‘natureza’. As pessoas em Deus são três, mas uma só é sua natureza, que consiste em onipotência, onisciência, onipresença, etc. (...)” (“As Testemunhas de Jeová e a Trindade”, p. 21).

A EXPRESSÃO "TRINDADE" E A BÍBLIA

No “Dicionário Bíblico Universal” encontramos as seguintes considerações sobre a Trindade, entre tantas outras:

“(...) São, pois, estes os dados para a doutrina da Trindade: o reconhecimento de um só Deus, sendo feita, contudo, a distinção, dentro da Divindade, entre Pai, Filho, e Espírito” (fonte: http://www.vivos.com.br/196.htm).

Mas, de onde surgiu o termo “trindade”? Afinal, ele não consta de nenhum texto da Escritura Sagrada. Na verdade, o termo “trindade” foi utilizado pela primeira vez por Tertuliano (160-240 d.C.), no final do segundo século d.C. (veremos a história desta doutrina mais adiante em outras postagens).

"[...] O maior contributo de Tertuliano para a teologia foi a sua reflexão acerca do mistério trinitário. Criou um vocabulário que passou a fazer parte da linguagem oficial da teologia cristã. Foi ele que introduziu a palavra “Trinitas”, como complemento da “Unitas”. Segundo Tertuliano, Pai, Filho e Espírito Santo são um só Deus porque uma só é a substância, um só estado (status) e um só poder. Mas, por outro lado, distinguem-se, sem separação, pelo grau, pela forma e pela espécie (manifestação). Tertuliano introduz assim o termo “pessoa”, (persona), para significar cada um dos três, considerado individualmente. Este vocabulário passou a vigorar, até hoje, para referir as realidades trinitárias [...]" (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tertuliano#A_Trindade).

A Revista Defesa da Fé trouxe também interessantes considerações sobre esta questão:

“(...) Alguns grupos sectários que zombam dos trinitarianos afirmam que a Trindade foi um conceito forjado (manipulado) por ‘homens’. Por exemplo: a Sociedade Torre de Vigia, organização das Testemunhas de Jeová, assevera que os primitivos cristãos não tinham consciência nem instruíam seus adeptos da doutrina da Trindade. Querem afirmar, com isso, que a fé na doutrina da Trindade, advogada pelos cristãos, ocorreu por conta de uma heresia doutrinária por volta do século 3º. Se assim fosse, e se a Bíblia não comentasse nada sobre a Trindade, uma pergunta ficaria sem reposta: quem foi o ‘inventor’ dessa doutrina? Uma coisa é certa: não foi inventada por homens. A bem da verdade, se os cristãos quisessem minimizar o suposto ‘problema’ que permeia a compreensão genuína dessa doutrina, seria muito mais fácil alterá-la, manipulá-la ou, então, não reconhecê-la como bíblica. Antes de qualquer coisa, é necessário afirmar que a doutrina da Trindade não tem sua origem nas definições e escritos dos chamados ‘pais da igreja’. Ao contrário. Sempre esteve esposada nas Sagradas Escrituras (...) Analisando as informações históricas referentes ao assunto, podemos afirmar que o termo Trindade foi uma expressão de caráter teológico conferida a Deus por Tertuliano, no final do século 2º. Obviamente que recebeu esta designação porque seus ensinos se encontram em várias partes da Bíblia. Não necessitamos dos chamados ‘pais da igreja’ para justificar a doutrina da Trindade, mas os documentos ou os escritos desses ‘pais’ provam, sem deixar nenhuma sombra de dúvida, que a doutrina da Trindade era ensinada e difundida pelos cristãos da antiguidade” (Maio de 2004, p. 60).

Portanto, embora o vocábulo “trindade” não esteja presente em nenhum versículo da Bíblia, a doutrina da Trindade ou trinitariana (que trata não de um ser unitário, mas trinitário) não foi concebida por homens, como muitos podem imaginar. Na verdade, ela é exaustivamente apresentada na Bíblia, em inúmeras referências, como veremos durante este estudo. Isso se deve ao fato de que o homem não inventou ou descobriu a Trindade.

O que ocorreu foi o desenvolvimento da sua doutrina. É como o caso do cientista Isaac Newton. Ele não descobriu a gravidade, esta foi criada por Deus. Newton apenas desenvolveu a lei concernente à gravidade. Existem muitos outros nomes dados a outras doutrinas, como a escatologia (doutrina dos últimos tempos), a hamartiologia (doutrina do pecado), a angelologia (doutrina dos anjos) e a soteriologia (doutrina da salvação), por exemplo, que não se encontram na Bíblia.

Expressões teológicas usadas para os atributos divinos, como “onisciência”, “onipotência”, “onipresença”, “imanência” e “transcendência”, mas as suas verdades estão claramente expostas nas Escrituras. Da mesma forma ocorre com as expressões “hermenêutica”, “hexegese” e “homilética”, que também não fazem parte do texto sagrado, mas elas são técnicas extremamente úteis para um bom estudo das Sagradas Escrituras.

Ademais, nem mesmo as palavras “sexo” e “política” se encontram na Escritura Sagrada, mas, sim, conceitos e situações que expressam claramente o propósito de Deus para estes assuntos.

Na verdade, nem a própria palavra “Bíblia”, no sentido que conhecemos hoje (como um acervo de livros sagrados inspirados por Deus) se encontra na Bíblia. Nas Sagradas Escrituras não existe uma lista de quais livros são inspirados realmente por Deus e devem fazer parte dela, no entanto, os critérios adotados pela Igreja Cristã para que somente estes livros devessem fazer parte da Bíblia foram extraídos dela mesma, com a direção de Deus.

Finalmente, temos os comentários da conhecida “Bíblia de Estudos de Genebra”:

“Um e Três: Trindade: (...) O Antigo Testamento insiste constantemente na afirmação de que há somente um Deus, o Criador que se revela a si mesmo, que deve ser cultuado e louvado com exclusividade (...) O Novo Testamento concorda (...), mas fala de três agentes pessoais, Pai, Filho e Espírito Santo, que operam juntos para realizar a salvação (...) A formulação histórica da Trindade (do latim trinitas, que significa ‘estado de ser três’) não é uma tentativa de explicá-la, propósito que estaria além da nossa capacidade. Apenas oferece limite e salvaguarda aos nossos pensamentos a respeito desse mistério, que nos confronta, talvez, com o mais difícil pensamento que a mente humana pode elaborar. Não é fácil de entender, mas é verdadeiro (...) Embora a linguagem técnica da teologia posterior não se encontre no Novo Testamento, a fé e o pensamento trinitarianos estão presentes em todas as suas páginas. Nesse sentido, a Trindade, é uma doutrina bíblica (...)” (Nota Teológica, página 837: fonte: http://www.monergismo.com/textos/trindade/trindade_genebra.htm).

domingo, 12 de setembro de 2010

A INERRÂNCIA BÍBLICA REFORÇA A DOUTRINA TRINITARIANA


INTRODUÇÃO

Passaremos, então, à defesa da fé na Trindade e Sua doutrina, a qual se encontra esposada em toda a Bíblia, de Gênesis a Apocalipse. Poderemos, observar e compreender, então, qual é o significado, o que é realmente a Santíssima Trindade. Antes, porém, é de suma importância realizarmos uma defesa da perfeição da Bíblia, pois o conteúdo do nosso estudo daqui por diante será baseado em suas revelações. E, em seguida, estudaremos os atributos de Deus e as limitações humanas.

A infalibilidade bíblica

A Bíblia é a única regra de fé e prática das igrejas cristãs reformadas e, portanto, torna-se de suma importância antes que sejam apresentados quaisquer conceitos bíblicos a respeito da Santíssima Trindade, que se apresente uma defesa da infalibilidade bíblica, ou seja, a completa ausência de erros e contradições no texto sagrado original.

Atualmente contamos com milhares de manuscritos do Antigo e do Novo Testamento que, por sua vez, recebem o apoio da crítica textual, um ramo científico que tem como ferramenta a papirologia, asseverando que a fidelidade destas cópias aos originais bíblicos é praticamente de 100%. Sendo que jamais foi encontrado um erro sequer no texto original, o que nos permite afirmar seguramente que nenhuma doutrina cristã foi adulterada através dos séculos.

Para maiores informações sobre este assunto, por gentileza, acessem outros estudos nossos a este respeito. Com as informações complementares destes estudos, é possível termos um base sólida sobre as evidências da fé cristã e nos prepararmos melhor para estudarmos posteriormente as evidências da doutrina trinitariana. Futuramente, se Deus permitir, traremos um estudo detalhado sobre a questão da crítica textual e a manuscritologia bíblica:

"Evidências textuais da Bíblia":
http://aprendei.blogspot.com/2010/01/atitude-do-verdadeiro-cristao-em.html

"Evidências históricas da Bíblia":
http://aprendei.blogspot.com/2010/01/em-nome-de-jesus-nao-apaguemos-nossa.html

"Evidências proféticas da Bíblia":
http://aprendei.blogspot.com/2010/01/santificacao-e-os-propositos-do-coracao.html

"Evidências da existência de Jesus Cristo":
http://aprendei.blogspot.com/2010/01/no-mundo-e-nao-do-mundo.html

"Lidando com as evidências da fé cristã":
http://aprendei.blogspot.com/2010/01/os-perigos-da-idolatria_03.html

"A atitude do verdadeiro cristão em relação a Bíblia":
http://aprendei.blogspot.com/2010/01/atencao-voce-ja-leu-o-horoscopo-hoje.html

A Bíblia afirma claramente que é a Palavra inspirada de Deus, e que ela é útil para o nosso aprendizado e edificação:

“A revelação das tuas palavras esclarece, e dá entendimento aos simples.” (Sl 119:130).

“A palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração.” (Hb 4:12).

“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2Tm 3:16-17).

“Pois tudo quanto outrora foi escrito, para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência, e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança.” (Rm 15:4).

“Nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca, jamais, qualquer profecia foi dada por vontade humana, entretanto homens santos falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo.” (2Pe 1:20b-21).

Deus é perfeito e verdadeiro. Ele jamais erra, mente ou se arrepende em todos os Seus decretos e em todas as Suas obras:

“Porventura desvendarás os arcanos de Deus ou penetrarás até a perfeição do Todo-Poderoso?” (Jó 11:7).

“Também a Glória de Israel não mente nem se arrepende; porquanto não é homem, para que se arrependa.” (1Sm 15:29).

“Eu, o SENHOR, falo a verdade, e proclamo o que é direito.” (Is 45:19b).

“...o Deus que não pode mentir prometeu, antes dos tempos eternos.” (Tt 1:2).

“...é impossível que Deus minta...” (Hb 6:18).

Já que Deus é perfeito e verdadeiro, consequentemente a Sua Palavra também é perfeita e verdadeira:

“Puríssima é a tua palavra.” (Sl 119:140a).

“Todos os teus mandamentos são verdade.” (Sl 119:151a).

“Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade.” (Jo 17:17).

“...a Escritura não pode falhar...” (Jo 10:35).

Ademais, a Palavra do Senhor é eterna, jamais voltará atrás, tudo o que está escrito na Bíblia será cumprido cabalmente:

“Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra e a fecundem e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca; não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a designei.” (Is 55:10-11).

“Porque em verdade vos digo: Até que o céu e a terra passem, nem um i ou til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra.” (Mt 5:18; comparem com Lc 16:17).

“Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão.” (Mt 24:35).

“Pois toda carne é como a erva, e toda a sua glória como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a sua flor; a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente.” (1Pe 1:24-25a).

Concluímos, inevitavelmente que a Bíblia está isenta de erros. Do contrário, Deus teria cometido um erro, mas Ele jamais comete erros. Mesmo que os seus escritores tenham sido meros seres humanos, sabemos que todos eles falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo (2Pe 1:21).

A Bíblia apresenta conceitos verdadeiros em matéria de história, geografia, astronomia e outros ramos da ciência. Se em termos terrenos ela é 100% verdadeira, seguramente é também 100% verdadeira naquilo que afirma sobre os valores espirituais (Jo 3:8-12), pois é divinamente inspirada (2Pe 1:20-21).

A Bíblia é a autoridade máxima em tudo o que ela registra, sejam conceitos morais, espirituais, geográficos, históricos e inclusive científicos. Contudo, ela tem a missão primordial de revelar o plano de Deus para a humanidade e Seu amor por ela, demonstrados em Jesus:

“Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas que testificam de mim.” (Jo 5:39; cf. Jo 3:16).

Para esta missão, portanto, a Bíblia registra fatos ocorridos desde antes da criação do mundo até o destino da humanidade na eternidade com ou sem Deus. Mas, nem sempre registra ensinamentos científicos de forma exaustiva, pois, não é a sua finalidade. Porém, mesmo não sendo detalhista em determinadas áreas do conhecimento, ela é sempre verdadeira naquilo que registra. Devido à sua inspiração divina e consequentemente sua inerrância, podemos confiar na Bíblia plenamente.

Como já vimos, o que Deus diz é verdade (Is 45:19c; Hb 6:18b) e sabemos que contra fatos não há argumentos, como a própria Bíblia já havia expressado:

“Nada podemos contra a verdade, senão em favor da própria verdade." (2Co 13:8).

A CORRETA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA AUXILIA A ENTENDER A DOUTRINA DA TRINDADE


Noções de interpretação bíblica (hermenêutica bíblica).

Mesmo diante da inerrância bíblica, a natureza falha do ser humano acarreta dificuldades de interpretação do texto sagrado. Muitas pessoas erram por não conhecerem a Bíblia adequadamente (Mt 22:29). Muitas delas precisam de auxílio para compreendê-la (At 8:26-35; comparem com Ne 8:5-8) e outras ainda até mesmo deturpam as verdades bíblicas propositadamente (2Pe 3:14-18).

Sem discernimento bíblico, incorremos no erro de aceitar ensinos e práticas contrários a vontade de Deus (Gl 1:6-9; Ef 4:13-14; 2Pe 3:14-18), sem muitas vezes nem conferirmos se é verdade (At 17:11), adulterando, assim, a verdade bíblica, muitas vezes também subtraindo ou adicionando algo das Escrituras Sagradas (Dt 4:1-2; 12:32; Pv 30:5-6; Ec 3:14; Ap 22:18-19) e indo além do que está escrito (Rm 15:4; 1Co 4:6; 2Tm 3:16-17), perdendo o referencial máximo de conduta e ética e, assim, nos desorientando em uma espécie de escuridão doutrinária por não termos mais a “lâmpada” da Palavra para iluminar os nossos passos (Sl 119:105), quando o correto seria guardarmos no coração a Palavra de Deus para não pecarmos contra Ele (Sl 119:11,112).

Vamos observar o que dois dos maiores apologistas da atualidade (Norman Geisler e Thomaz Howe) têm a nos ensinar sobre como devemos melhor interpretar a Bíblia (livro “Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e ‘Contradições’ da Bíblia”):

“HÁ ERROS NA BÍBLIA? NÃO! Os críticos afirmam que a Bíblia está cheia de erros. Alguns falam até mesmo em milhares de erros. A verdade é que não há nem mesmo um só erro no texto original da Bíblia que tenha sido demonstrado (...)” (p. 13) - “HÁ DIFICULDADES NA BÍBLIA? SIM! Ainda que a Bíblia seja a Palavra de Deus e, como tal, nela não possa haver erro algum, isso não significa que nela não haja dificuldades. Todavia, como Agostinho observou com sabedoria: ‘Se estamos perplexos por causa de qualquer aparente contradição nas Escrituras, não nos é permitido dizer que o autor desse livro tenha errado; mas ou o manuscrito utilizado tinha falhas, ou a tradução está errada, ou nós não entendemos o que está escrito’. Os erros não se acham na revelação de Deus, mas nas falhas interpretações dos homens” (p.17 – quanto à referência a Agostinho, ver: Agostinho, Reply to Faustus the Manichaean 11.5, em Philio Schaff, A Select Library of the Nicene and Ante-Nicene Fathers of the Christian Church, Grand Rapids: Eerdmans, 1956, vol.4); “A Bíblia é isenta de erros, mas os críticos não são. Todas as alegações feitas nesse sentido baseiam-se em erros cometidos pelos próprios críticos. Tais erros enquadram-se numa das seguintes principais categorias:” (p.18).

Em seguida, os autores demonstram 17 erros de interpretação com os quais devemos tomar cuidado para não cometer em nossa leitura bíblica, porém o erro citado por eles que deve ocupar a nossa atenção neste momento é o erro n.º 5: “Deixar de interpretar passagens difíceis à luz das que são claras”. Eles afirmaram que:

“Algumas passagens das Escrituras são de difícil compreensão. Às vezes a dificuldade é por serem obscuras. Outras vezes a dificuldade está em que uma passagem parece estar ensinando algo contrário ao que uma outra parte da Escritura ensina com clareza” (p. 21).

Já o Pastor e Doutor James C. Denison (de origem batista) no livro “Sete questões cruciais sobre a Bíblia” (pp. 203-204) afirmou que:

“(...) Em vista da palavra de Deus ser coerente e plenamente inspirada, a melhor maneira de entender qualquer passagem isolada é interpretar esse texto à luz de toda a Escritura. Em todo o nosso estudo bíblico devemos comparar passagem com passagem, interpretando a parte pelo todo. Cinco princípios importantes repousam sobre este pressuposto orientador. Primeiro, as passagens menos claras devem ser interpretadas à luz de textos mais claros. Devemos estudar as partes difíceis das Escrituras de acordo com seus claros ensinos (...) Segundo, nenhuma grande doutrina deve basear-se em apenas um versículo ou um pequeno conjunto deles (...) Terceiro, as passagens breves devem ser estudadas à luz de passagens mais longas (...) Quarto, quando uma doutrina é ensinada em vários trechos da Bíblia, ela se aplica a todos os tempos e culturas (...)”.

A doutrina da Trindade não contraria nenhum destes quatro primeiros princípios. Passagens muito claras principalmente no Novo Testamento confirmam a doutrina trinitariana, que, por sua vez, não é baseada em um pequeno conjunto de versículos ou textos curtos, obscuros ou de difícil interpretação, mas em dezenas e dezenas de textos longos e claros, de fácil interpretação (com raríssimas exceções, como o caso de 1Co 8:6 que afirma que só o Pai é Deus e só Jesus é Senhor), tanto do Antigo como do Novo Testamento, o que a faz uma doutrina aplicável para todos os tempos e todas as culturas. Quando estudarmos posteriormente as evidências da doutrina trinitariana tanto no Antigo como no Novo Testamento, essas afirmações se tornarão mais claras em nossas mentes.

Contudo, desejamos dar mais ênfase no quinto ponto. O Dr. Denison afirmou em seguida (p. 205):

“(...) Quinto, se duas declarações bíblicas parecem contradizer-se em termos humanos, devemos aceitar ambas. A verdade divina não está presa à lógica humana e deve ser muitas vezes expressa declarando duas verdades aparentemente opostas. Isto é chamado de ‘antinomia’ – aceitação de dois princípios que parecem excluir-se mutuamente, mas são independentemente verdadeiros (...) Em vista da Escritura interpretar a Escritura, todos os princípios bíblicos são verdadeiros, mesmo quanto transcendem a nossa lógica humana (...)” (este quinto item será de grande utilidade nas postagens sobre as três "pessoas" da Divindade, em breve).

A doutrina trinitariana depende grandemente desta quinta regra de interpretação bíblica, ou seja, seguindo os parâmetros da ANTINOMIA e aceitando em nossas vidas que a verdade divina não está vinculada à nossa lógica meramente humana e falha, poderemos ler, aceitar e compreender os versículos de toda a Escritura Sagrada que afirmam explicitamente que Deus é único, sim, mas implicitamente que Ele subsiste em três formas pessoais e distinas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Esses versículos jamais se excluem mutuamente, mesmo parecendo que se contradizem, mas eles são mutuamente complementares.

Os autores bíblicos, mesmo impelidos pelo Espírito Santo jamais tiveram a intenção de apresentar explicita e claramente a doutrina trinitariana em forma de teologia sistemática, demonstrando esta doutrina em todos os textos bíblicos que a apontavam. Podemos inferir que essa não era a preocupação dos escritores bíblicos na época que escreveram seus livros, para eles sempre esteve claro, inspirados pelo próprio Deus, que Deus é único, mas o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus. Somente séculos depois dos livros do Novo Testamento serem escritos e do inicio da Igreja, quando surgiram inúmeras acusações e heresias contra principalmente a divindade de Cristo e do Espírito Santo, passou-se a se tornar necessária a exposição explícita e teologicamente sistemática da doutrina trinitariana, no propósito de fundamentar a doutrina, preparar apologeticamente os cristãos e refutar tais heresias com eficácia.

Portanto, em toda leitura bíblica que fizermos, devemos manter este padrão de interpretação expresso nas declarações que vimos nestes dois últimos livros. Estas técnicas de interpretação nos auxiliarão no estudo da doutrina trinitariana e de qualquer outra parte da Bíblia.

Ademais, qualquer pensamento que se levante contrário aos ensinamentos divinos deve ser refutado (At 17:11; 2Co 10:3-5). Aliás, o destino de “evidências” que ocasionalmente surgem contra a Bíblia e que causam alvoroço nos meios científico, acadêmico e eclesiástico certamente é o de serem desmascaradas. As pessoas envolvidas nesta busca contra a Palavra de Deus (mesmo que muitas vezes involuntariamente) necessitam saber que:

“Toda palavra de Deus é pura; ele é escudo para os que nele confiam. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso.” (Pv 30:5-6).

sábado, 11 de setembro de 2010

A CONTROVÉRSIA SOBRE A DOUTRINA TRINITARIANA (PARTE 03)

A DOUTRINA DA TRINDADE E O MORMONISMO

Em referência à “Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”, cujos seus membros são mais conhecidos como os “mórmons”, Robert M. Bowman Jr. em seu livro “Por que devo crer na Trindade” (p. 12), afirmou que:

“(...) Os mórmons que acreditam que são três deuses, alegam crer na Trindade, mas deixam muito claro que rejeitam qualquer forma da doutrina tradicional da Trindade (...)”.





A DOUTRINA DA TRINDADE E O UNICISMO
(fonte da imagem utilizada: http://igrejinha.org.br/blog/?p=736)
"Visão Unicista: A visão unicista de Deus entende haver apenas um Deus, constante à figura de Jesus Cristo, que teria se manifestado como Pai, na criação; Filho na redenção; e Espírito Santo nos dias atuais; ou seja, um Deus Único em três manifestações” (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cr%C3%ADticas_%C3%A0_doutrina_da_Trindade).

O Rev. William Soto Santiago, do “Ministério Voz da Pedra Angular” (unicista) no livreto “Deus ordena entrar na arca” (p. 17) afirmou que:

"Temos que entrar no Reino de Cristo pela porta, que é Cristo, e assim entrarmos na Igreja de nosso amado Senhor Jesus Cristo através de Seu Espírito Santo, para estarmos dentro da casa de Deus, sendo alimentados pelo servo fiel e prudente de São Mateus, capítulo 24, versículos 42 ao 47”.

Com estas declarações nos parece que esta denominação religiosa é trinitariana, mas em outro livreto, “Atividades Especiais de: Batismo, Santa Ceia e Lavapés” (p. 4), ele afirmou que:

“Como São Pedro disse para eles que fossem batizados? Disse-lhes: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecdos, e recebereis o dom do Espírito Santo. Então por quê Cristo disse: ‘Batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo' e mais adiante Pedro batiza no Nome do Senhor Jesus Cristo? Porque o nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo é Senhor Jesus Cristo. Foi por isso que Pedro batizou todos aqueles que creram no Nome do Senhor Jesus Cristo” [o mesmo ensino foi apresentado mais adiante na página 14].

Percebemos, então, que é uma organização “unicista”, pois ignora a ordem de Cristo sobre o batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo que constituem a Divindade, tendo apenas Cristo como Deus, em detrimento da primeira e da terceira pessoa da Trindade. Para eles, portanto, Cristo se manifestou como Pai, depois como Filho e depois como o Espírito Santo (!!).

Portanto, vimos até aqui inúmeras críticas não apenas à doutrina da Trindade, mas também ao próprio cristianismo, muitas delas caluniosas e até mesmo blasfemas, oriundas de segmentos do ateísmo, gnosticismo, espiritismo, adventismo, jeovismo, etc. É uma situação preocupante e nos serve de alerta para que busquemos um sadio esclarecimento sobre a Trindade com base na Bíblia Sagrada.

Como já afirmamos, não iremos refutar de maneira sistemática cada uma destas acusações neste ponto do nosso estudo, mas, sim, ao longo do mesmo, através de evidências bíblicas e históricas, sendo que cada uma destas acusações com certeza terá sido desmentida ao final deste trabalho, diante das verdades contidas nas Sagradas Escrituras cristãs, a Bíblia.

A DOUTRINA DA TRINDADE E O CATOLICISMO

Poderemos observar a posição quanto à doutrina da Trindade assumida dentro de vários segmentos religiosos chamados “cristãos”, como o catolicismo (que também denomina a Trindade como Trindade Beatíssima), a igreja ortodoxa grega e as igrejas evangélicas. Sobre o catolicismo e seu comportamento diante da doutrina da Trindade, temos as seguintes considerações, entre outras:

“Essa confusão é generalizada. The Encyclopedia Americana (Enciclopédia Americana) diz que a doutrina da Trindade é tida como estando ‘além da compreensão da razão humana’. Muitos que aceitam a Trindade encaram-na da mesma maneira. O monsenhor Eugene Clark disse: ‘Deus é um só, e Deus é três. Visto que não existe nada igual a isso na criação, não podemos entendê-la, mas apenas aceitá-la.’ O cardeal John O'Connor declarou: ‘Sabemos que é um mistério muito profundo, que ainda nem começamos a entender.’ E o papa João Paulo II fala do ‘insondável mistério de Deus, a Trindade’. Assim, A Dictionary of Religious Knowledge (Dicionário do Conhecimento Religioso) diz: ‘Quanto a precisamente o que é essa doutrina, ou exatamente como deve ser explicada, os trinitaristas ainda não chegaram a um acordo.’ Podemos entender, pois, por que a New Catholic Encyclopedia (Nova Enciclopédia Católica) observa: ‘Há poucos instrutores da teologia trinitária nos seminários católico-romanos que numa ocasião ou noutra não se atormentaram com a pergunta: 'Mas, como é que se pode pregar a Trindade?' E, se a pergunta é sintomática da confusão da parte dos estudantes, talvez não seja menos sintomática de similar confusão da parte de seus mestres.’ Pode-se constatar a veracidade dessa observação por ir a uma biblioteca e examinar livros que apóiam a Trindade. Escreveram-se inúmeras páginas na tentativa de explicá-la. Todavia, depois de passar a duras penas pelo labirinto de confusos termos teológicos e explicações, o investigador ainda não sai satisfeito. Sobre isso, o jesuíta Joseph Bracken diz em seu livro What Are They Saying About the Trinity? (O Que Dizem Sobre a Trindade?): ‘Os sacerdotes que, com muito esforço aprenderam...a Trindade em seus anos de seminário, hesitam por natureza a apresentá-la a seus paroquianos do púlpito, até mesmo no Domingo da Santíssima Trindade...Por que incomodar pessoas com algo que, afinal, de qualquer maneira não entenderiam corretamente?’ Ele diz também: ‘A Trindade é um assunto de crença formal, mas pouco ou nenhum [efeito] tem sobre a cotidiana vida cristã e adoração.’ Não obstante, é ‘a doutrina central’ das igrejas!” (fonte: http://gideoes-ccb.forumeiros.com/estudos-bblicos-f4/o-dogma-da-trindade-t114.htm)

Podemos observar que existe um grau de dificuldade de ensinar e aplicar a doutrina da Trindade no contexto católico romano, mesmo sendo considerada verdadeira e fundamental para o cristianismo.

A DOUTRINA DA TRINDADE E O PROTESTANTISMO

Todos os artigos enfocados até o momento apresentaram as opiniões de diversos segmentos religiosos e suas dificuldades em compreender ou até mesmo em aceitar a doutrina da Trindade. Porém, este fato não quer dizer que esta dificuldade não exista, inclusive, em alguns setores evangélicos (!).

Sobre esta questão, o Pastor Ricardo Barbosa de Sousa, da Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília, em seu artigo “A Trindade e a Pessoa” (revista “VINDE”, Ano 3 – No. 31 – Junho/1998), afirmou:

"(...) Infelizmente, a grande maioria dos cristãos hoje, são, na prática, monoteístas unitários. Crêem na afirmação dogmática da Trindade, mas na vivência do dia-a-dia a ignoram. Uma parcela significante dos cristãos aceita e acredita em Deus como a Santíssima Trindade, mas ainda não compreendem claramente esta doutrina. É um assunto que, embora considerado irrelevante quanto à sua prática para a vida diária do cristão, está presente na linguagem, nos sacramentos e nas orações. A questão que nos ocupa aqui é o resgate da relevância deste assunto para a vida, o culto, a espiritualidade e a unidade da igreja. Pois sem uma compreensão adequada da relevância da Trindade nestes assuntos que ocupam a nossa fé, corremos o risco de nos perder na tentativa de encontrar respostas para os grandes dilemas da Igreja. O individualismo moderno gerou na consciência humana um processo de fragmentação, de ruptura, não apenas das relações humanas, com também na natureza divina. Nossa percepção de Deus é profundamente afetada pela incapacidade de percebê-lo sem uma ruptura na Sua natureza, da mesma forma como fragmentamos nossas relações pessoais. Um aspecto desse processo de fragmentação pode ser percebido na forma como os cristãos demonstram sua preferência pelas pessoas da Trindade. Nossas divisões podem ser compreendidas pela divisão que criamos no próprio Deus. A pluralidade de pessoas que encontramos na revelação bíblica de Deus, infelizmente, para muitos cristãos, não pode ser compreendida, na prática, como uma unidade. Cremos que é, que se trata de um único Deus, indivisível, mas nossa prática demonstra outra coisa” (fonte: http://www.monergismo.com/textos/trindade/trindade_ricardo.htm).

O Pastor e Doutor James White (Diretor do Ministério Alfa e Ômega e Pastor da Igreja Batista Reformada) no artigo “A Trindade Esquecida: Resgatando o Cerne da Fé Cristã”, trouxe as seguintes considerações:

“Todavia, nos vemos ainda mais confusos nesse ponto, pois a maioria dos cristãos toma uma posição firme sobre a Trindade e os assuntos fundamentais que levam a ela (a deidade de Cristo, a pessoa do Espírito Santo). Nós não temos comunhão com grupos como os Mórmons e as Testemunhas de Jeová porque eles rejeitam a Trindade e a substituem por um outro conceito. Nós colocamos a própria salvação de uma pessoa sobre a aceitação da doutrina, todavia, se fôssemos ser honestos com nós mesmos, não estamos certos exatamente do por que disso. É o assunto sobre o qual não conversaremos: ninguém ousa questionar a Trindade por medo de ser estigmatizado de um ‘herege’, todavia, temos todas as sortes de questões sobre ela, e não estamos certos de a quem podemos perguntar. Muitos crentes fazem perguntas àqueles que eles pensam serem mais maduros na fé e freqüentemente são confundidos pelas respostas contraditórias que recebem. Decidindo que é melhor permanecer confuso antes do que ter a ortodoxia de alguém questionada, muitos simplesmente deixam o assunto para aquele dia mítico ‘quando eu tiver mais tempo’. E no processo, lançamos fora uma tremenda bênção”

Héber C. Campos em seu livro “O ser de Deus e os seus atributos” (p. 106), afirmou, entre outras coisas, que:

“No seio das igrejas cristãs não há muitos problemas com respeito à personalidade divina, mas há um problema maior do que simplesmente mostrar que Deus é pessoal: mostrar que ele subsiste em três pessoas. Contudo, a despeito da dificuldade desta matéria, é melhor falar da tripersonalidade de Deus do que falar da sua simples personalidade. A grande tarefa da teologia cristã é afirmar, sem apoio de qualquer outro ramo religioso ou filosófico, a misteriosa doutrina da tripersonalidade de Deus. É uma matéria de pura confiança no ensino geral da Santa Escritura, sem qualquer similaridade em outra religião”.

Já a Revista Defesa da Fé trouxe as seguintes considerações a este respeito:

“A doutrina da Trindade é mal compreendida entre os círculos cristãos e, devido à complexidade do termo, seu estudo é abandonado” (edição de agosto de 2003, p. 58).

RAMIFICAÇÕES DO "CRISTIANISMO" CONCORDAM COM A IMPORTÂNCIA DA DOUTRINA TRINITARIANA

Salientamos que setores religiosos chamados “cristãos”, além das igrejas evangélicas, como o catolicismo e a igreja ortodoxa grega concordam com a grande importância que a doutrina da Trindade possui para o cristianismo:

"A IGREJA Católica Romana diz: ‘Trindade é o termo empregado para definir a doutrina central da religião cristã...Assim, nos dizeres do Credo Atanasiano: o Pai é Deus, o Filho é Deus, e o Espírito Santo é Deus; e, não obstante, não são três Deuses, mas um só Deus. Nesta Trindade... as Pessoas são coeternas e coiguais: todas são igualmente incriadas e onipotentes.’ - The Catholic Encyclopedia (Enciclopédia Católica). Praticamente todas as outras religiões da cristandade concordam com isso. Por exemplo, a Igreja Ortodoxa Grega também chama a Trindade de ‘doutrina fundamental do cristianismo’, chegando a dizer: ‘Cristãos são aqueles que aceitam a Cristo como Deus.’ No livro Our Orthodox Christian Faith (A Nossa Ortodoxa Fé Cristã), a mesma igreja declara: ‘Deus é trino...O Pai é totalmente Deus. O Filho é totalmente Deus. O Espírito Santo é totalmente Deus’”

“(...) É verdade que muitos trinitaristas – especialmente entre os católicos, mas também entre os protestantes e ortodoxos – declaram taxativamente que a Trindade não pode ser compreendida e que é, nesse sentido, um ‘mistério’ (...)" (Robert M. Bowman Jr. em seu livro “Por quê devo crer na Trindade”- p. 17).

Existem doutrinas que, em alguns de seus elementos, pode existir um certo grau de discussão, devido ao fato de, segundo alguns segmentos cristãos, não serem tratadas de forma exaustiva na Bíblia, como é o caso de elementos da predestinação, da escatologia, da ordenação de mulheres, a guarda do sábado ou do domingo e o batismo infantil. As diversas denominações cristãs realmente divergem doutrinariamente em algumas destas questões.

No entanto, a doutrina da Trindade não se inclui nesta lista de doutrinas discutíveis (não confundamos “discutível” com “sem fundamento bíblico”). Esta doutrina é claramente apresentada nas Escrituras Sagradas (do início ao fim) e, portanto, para estas igrejas que concordam com ela, a mesma é inegociável.

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NOTA: Todos os endereços da internet mencionados nos relatos das controvérsias como referências de citações foram acessados em 29/07/2010.

Para complementar o nosso estudo, acessem: