domingo, 27 de junho de 2010

A PACIÊNCIA E A VITÓRIA DE JÓ (PARTE 02)

Vamos continuar hoje, estudando a história de Jó e analisando tantas ricas lições que ela pode nos trazer. Na última postagem, nós encerramos nossas considerações justamente quando tudo e todos no universo, a sociedade, a esposa, os amigos e inclusive o próprio Deus pareciam estar contra Jó. Vamos prosseguir:

Logo em seguida, depois do diálogo de Jó com os quatro "amigos" dele, surge no diálogo um outro amigo. Na verdade, o verdadeiro amigo de Jó: o próprio Deus, que em meio à uma tempestade surgiu para falar com Jó (Jó 38:1), momento pelo qual Jó tanto aguardava, acreditando presunçosamente talvez que seus argumentos teriam alguma chance contra os argumentos do Todo-poderoso, pois chegou a dizer que, em sua defesa, falaria de seu comportamento íntegro e a acusasão de Deus contra ele, ele a usaria como se fosse uma corôa e se aproximaria de Deus como um príncipe !! (Jó 31:36-37). A avidez de Jó em se defender em sua retidão diante de Deus chegou à beira da arrogância aqui, mas...

"Deus responde enchendo Jó de perguntas de retórica, diante de cada uma da quais Jó precisa reconhecer-se ignorante. Deus nada diz a respeito dos sofrimentos de Jó, nem fala coisa alguma a respeito do problema dele no tocante à justiça divina. Jó não recebe documento de acusações formais, nem veredicto de inocência. Mas, o que é mais importante, Deus não o humilha nem o condena - o que certamente teria acontecido se os conselheiros tivesssem razão [...]" (Comentário da Bíblia de Estudo NVI (Nova Versão Internacional, p. 857).

Deus, portanto, responde a Jó, dizendo que ele falava sobre Deus sem conhecimento correto, como um simples homem e que lhe faria perguntas (Jó 38:1). As perguntas que Deus faz a Jó, sobre os grandes feitos da criação, tanto dos animais, do homem, mas também de todo o gigantesco espaço sideral, por exemplo (Jó cap. 38 e 39), trazem à discussão, a supremacia, a soberania e a eternidade de Deus sobre a limitada fragilidade humana e revelam uma verdade a Jó, consequentemente: Já que Deus é tão tremendamente poderoso e soberano para ter feito tudo isso, determinado cada coisa da criação e as controlar, sem sombra de dúvida, Deus estava também no controle dos acontecimentos da vida de Jó. Deus ainda disse a Jó:

"Aquele que contende com o Todo-poderoso poderá repreendê-lo? Que responda a Deus quem o acusa!" (Jó 40:1-2).

Neste momento Jó emocionalmente deve ter ficado do tamanho comparável ao de uma formida tamanha a pequenez que sentiu diante de Deus e ao perceber que não existe como discutir com Deus e de alguma forma repreendê-lo por alguma atitude Sua. Por tudo isso, então, Jó responde:

"Sou indigno; como posso responder-te? Ponho a mão sobre a minha boca. Falei uma vez, mas não tenho resposta; sim, duas vezes, mas não direi mais nada." (Jó 40:4-5).

Deus, então, do meio da tempestade, chama a Jó mais uma vez "simples homem" (Jó 40:6-7) e lança mais perguntas:

"Você vai pôr em dúvida a minha justiça? Vai condenar-me para justificar-se? Seu braço é como o de Deus, e sua voz pode trovejar como a dele? Adorne-se, então, de esplendor e glória, e vista-se de majestade e honra." (Jó 40:8-10).

Será que Jó, mesmo diante do Seu poderoso braço, diante da Sua voz poderosa como trovão, diante da grandeza da sabedoria de Deus e de Sua soberania, esplendor e glóra sobre a Criação, desejaria ainda justificar-se diante de Deus a ponto de indicar a Deus como culpado de sua tragédia? Jó nem disse mais nada e Deus ainda mais uma vez lhe fez perguntas como se Jó pudesse ter a capacidade de dominar os homens orgulhosos e ou ainda dominar os grandes e poderosos animais que Ele criou, sendo que tudo na criação lhe pertence (Jó 40:11:-24; 41:1-34). Então, Jó, esmagado em seu orgulho presunçoso, admitindo que falou precipitadamente sobre coisas das quais não tinha entendimento, arrependido de ter sido presunçoso e diante da santidade e soberania de Deus, se rende a Ele em uma tão querida e conhecida declaração:

"Sei que podes fazer todas as coisas; nenhum de seus planos pode ser frustrado. Tu perguntaste: 'Quem é este que obscurece o meu conselho sem conhecimento?' Certo é que falei de coisas que eu não entendia, coisas tão maravilhosas que eu não poderia saber. Tu disseste: 'Agora escute, e eu falarei; vou fazer-lhe perguntas, e você me responderá'. Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram. Por isso menosprezo a mim mesmo e me arrependo no pó e na cinza." (Jó 42:1-6).

Mas, então, depois de Deus ter mostrado a Jó o devido lugar dele em seu relacionamento com Deus e Seus propósitos, veio a reviravolta total na história de Jó. Deus disse a Elifaz, um dos "amigos" de Jó:

"Estou indignado com você e com os seus dois amigos, pois vocês não falaram o que é certo a meu respeito, como fez meu servo Jó. Vão agora até meu servo Jó, levem sete novilhos e sete carneiros, e com eles apresentem holocaustos em favor de vocês; eu aceitarei a oração dele e não lhes farei o que vocês merecem pela loucura que cometeram. Vocês não falaram o que é certo a meu respeito, como fez meu servo Jó." (Jó 7b-8).

Impressionante! Deus não estava irado com Jó e nem tinha enviado aquelas tragédias em sinal que não o amava. Pelo contrário, diante de Elifaz, Bildade e Zofar, disse que ele erraram e Jó falou corretamente, ele era o "seu servo". Deus tetemunhou de Jó contra eles, defendeu a sua integridade e ainda por cima fez com que Jó intercedessse por eles a Deus pelos seus erros e Deus aceitou a oração de Jó, o Seu servo (Jó 42:9).

Mas quem imagina que a história terminou, contemple agora o final triunfante:

"Depois que Jó orou por seus amigos, o SENHOR o tornou novamente próspero e lhe deu em dobro tudo o que tinha antes. Todos os seus irmãos e irmãs, e todos os que o haviam conhecido anteriormente vieram comer com ele em sua casa. Eles o consolaram e o confortaram por todas as suas tribulações que o SENHOR tinha trazido sobre ele, e cada um lhe deu uma peça de prata e um anel de ouro. O SENHOR abençoou o final da vida de Jó mais do que o início. Ele teve catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de boi e mil jumentos. Também teve ainda sete filhos e três filhas." (Jó 42:10-13).

Deus restaurou a riqueza de Jó. Melhor, lhe deu tudo em dobro do que possuía antes das tragédias. Se Jó era rico, agora se tornou muito mais rico e acreditamos que evidentemente, implicitamente no texto, está incluída a saúde de Jó que deve ter sido devolvida em dobro também. E mais: Os irmãos e irmãs de Jó vieram cear com ele e o consolar de todas as suas tribulações e ainda o presentearam, parentes que talvez o tivessem também abandonado no início das tragédias. E para terminar com um final mais do que feliz, Deus deu a Jó exatamente 7 filhos e 3 filhas (aliás, as mulheres mais belas daquela terra), em substituição aos dez filhos que Jó perdera (que provavelmente, devido à sua imensa fé, esperava reencontrar no Céu). E Jó ainda viveu muitos anos desfrutando de muita saúde, da família e de riqueza até os 140 anos, algo digno dos patriarcas como Abraão, Isaque e Jacó (Jó 42:15-16; comparem com Gn 50:23; êx 6:16).

Deus transforma uma aparente tragédia em triunfo. O Rev. Hernandes Dias Lopes, em seu programa televisivo "Verdade e Vida" na mensagem intitulada "Transformando tragédias em triunfo" considerou em relação ao que devemos fazer, a nossa parte diante de uma aparente tragédia:

"Muitas vezes você sofre não porque você erra, mas porque você não transige. Você é pereguido não porque você está na contra-mão dos princípios de Deus, mas exatamente porque você não negocia os absolutos de Deus na sua vida."

Mesmo que seja de difícil assimilação, é um preceito bíblico: aqueles que querem viver piedosamente e seguir a Cristo fatalmente serão pereguidos (2Tm 3:11-12; comparem com Mt 13:21; 24:9; Jo 5:16; At 11:19; Rm 8:35), não por praticarem o mau, mas justamente por se esforçarem a permanecerem íntegro e retos diante de Deus e da sociedade (1Pe 2:13-17), todos passarão por muitas lutas justamente por fazerem o bem e darem bom tetemunho (1Pe 2:19-21; 3:13-14; 4:12-16,19), mas Deus é a nossa testemunha (2Co 11:11,31) no momento oportuno os confirmará, os fortalecerá e os reerguerá (1Pe 5:10) .

Foi o caso de José no Egito e de Jó e evidentemente com Jesus (o que veremos nas próximas postagens). Nenhum deles negociou os padrões santos de conduta de Deus, mas todos eles sofreram muito, tiveram muitas provações, mas todos eles triunfaram pelo poder de Deus.

Na história de Jó, logo no início vemos que Satanás estava rodeando a Terra (Jó 1:7; 2:2), certamente tentando encontrar comportamentos pecaminosos para acusar as pessoas diante de Deus (1Pe 5:8-9) e em dois momentos foi se reunir com os anjos de Deus, na presença de Deus, frente a frente (Jó 1:6; 2:1) e, mesmo Deus tetemunhando da integridade e retidão de Jó, como em nenhuma outra pessoa e que não havia motivos para Jó receber algum castigo de Dele (Jó 1:8; 2:3), Satanás acusou Jó de ser íntegro e fiel a Deus devido à prosperidade que Deus o havia dado (Jó 1:9) e desafiou a Deus a permitir grande aflições na vida de Jó, inclusive na saúde, e Jó, segundo Satanás, certamente perderia sua integridade e fidelidade e blasfemaria diante de Deus (Jó 1:11; 2:4).

E como tudo está no controle absoluto e soberano de Deus, o Senhor permitiu a Satanás (que, por sua vez, fez tudo por vontade própria, Jó 2:7) a tocar na vida de Jó, primeiramente nos bens e na família (Jó 1:12) e depois na saúde (Jó 2:6). E todo o restante da história nós já relatamos aqui, todos nós conhecemos a aparente derrota e a esmagadora vitória de Jó no final. Satanás perdeu a "aposta", pois Jó se manteve íntegro, mesmo que amargurado com as provações, e Deus, que manteve o controle da situação todo o tempo, honrou a Jó no final, em uma impresionante reviravolta.

As "cortinas da eternidade" muitas vezes (ou quase sempre) estão fechadas aos nossos olhos mortais e terrenos. Mas no caso do livro de Jó, Deus permitiu que fosse revelado aos futuros leitores, mas não a Jó, o que estava acontecendo no Céu, ao redor do Seu trono de glória e poder. Ele revelou até mesmo este plano de provar a vida de Jó, que para muitas pessoas pode soar estranho diante do amor e da justiça divinos, um plano que para muitos pode fazer de Deus um "carrasco injusto". Mas sabemos que os atributos de Deus jamais podem ser manchados.

À despeito de toda esta discussão, Jó pode ter se sentido um "mais que derrotado" no início, mas Deus o tornou "mais que vencedor" no final (Jó 42:12a).

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