Sabemos que o nosso envolvimento com as obras mundanas gera inimizade com Deus, sim (Tg 4:4; Mt 6:24; 1Co 10:19-22; 1Jo 2:15-17). Mas, isso não significa, no entanto, que devemos nos afastar do mundo. Esta atitude é contra a vontade de Deus.
A vida do profeta Isaías é um exemplo do que estamos afirmando. Ele teve uma visão da glória de Deus (Is 6:1-4) e se quebrantou diante de Sua majestade e santidade, perplexo pela situação pecaminosa tanto dele próprio, Isaías, como da do povo de Israel (v. 5). Mas, a seguir, um serafim toca a boca do profeta com uma brasa e diz que a iniqüidade dele foi tirada e perdoados os seus pecados (vv. 6-7).
Apenas após a purificação do profeta, nós encontramos o chamado de Deus, ao qual prontamente Isaías se apresentou. Assim, Deus nos ensina que podemos viver em meio ao um povo pecaminoso, mas devemos buscar a santificação (v. 8). E, então, Deus envia Isaías a profetizar ao povo (vv. 9-11). Deus não disse ao profeta: “Já que você habita no meio de um povo impuro, eu lhe enviarei para outra direção, para que você fique isolado e não se contamine”.
Temos também o exemplo de Daniel e de seus amigos que, após terem sido deportados para a Babilônia, decidiram contrariar a decisão do rei de que deveriam comer de tudo que ele oferecesse (Dn 1:3-8), pois a carne tinha sido obtida fora dos padrões de abate da lei mosaica e certamente seria oferecida aos deuses pagãos (cf. Ex 34:15).
Deus não os enviou em outra direção, mas, deu compreensão e misericórdia da parte do chefe dos eunucos (Dn 1:10) e sustentou com o Seu poder aos quatro jovens e os abençoou com inteligência, sabedoria e o dom de interpretação de sonhos (Dn 1:11-20), para serem utilizados em testemunho ao rei de Sua grandeza (capítulo 2 em diante).
Contudo, o maior exemplo de viver no mundo sem se contaminar vem do próprio Senhor Jesus. Ele veio para chamar os pecadores ao arrependimento e salvá-los (Lc 5:31-32) e para isso esteve próximo de vários deles (Lc 7:36,44; 8:51; Jo 4:5-42). Sabemos, porém, que Ele jamais pecou (Rm 5:20-21). Jesus enviou seus discípulos a pregar a um povo pecador, mas os advertiu a serem “prudentes como as serpentes e símplices como as pombas” (Mt 10:16).
Cristo afirmou que o nosso testemunho cristão pode dar mais qualidade de vida às pessoas que não O conhecem ainda. Mas, se não dermos um testemunho fiel, seremos alvo de escândalo e repúdio da sociedade (Mt 5:13). Ele também declarou que o nosso testemunho cristão traz luz para a escuridão que o mundo vive e não deve ficar escondido da sociedade, pelo contrário, nossas atitudes devem fazer com que os incrédulos venham a glorificar a Deus (Mt 5:14-16; Lc 11:33-36). Ele pediu ao Pai que não nos tirassem do mundo, mas que apenas nos livrasse do mal enquanto nos santificamos e testemunhamos dEle (Jo 17:14-18).
A descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes, quando Jerusalém abrigava cidadãos “de todas as nações debaixo do céu” (At 2:5), que, por sua vez, ouviram as grandezas de Deus em suas próprias línguas (At 2:11), é seguramente uma das maiores evidências de que Deus quer que o mundo O conheça. A Igreja do primeiro século, então, desfrutou de um grande avivamento e contou com a simpatia de toda a população. Ela não se auto-excluiu da sociedade, mas, viveu em meio àquele ambiente pecaminoso, sem se contaminar e deu um testemunho fiel do evangelho de Jesus e inúmeras pessoas se converteram ao Senhor (At 2:42-47).
Os apóstolos não só ensinavam o evangelho constantemente no templo, mas também de casa em casa (At 5:42; 16:30-34). Paulo quando esteve em Éfeso, não se limitou a usar um templo religioso para suas pregações e, deixando de ensinar na sinagoga (onde esteve por três meses) devido à descrença de alguns, passou a testemunhar de Cristo em uma espécie de salão reservado para palestras, do qual Tirano era proprietário, que provavelmente o usava para aulas de retórica e o alugava para mestres itinerantes e filósofos. Em um período de dois anos todos os habitantes da Ásia tiveram a oportunidade de ouvir o evangelho (At 19:8-10). Ele também pregou no Areópago, um concílio que se reunia para tratar de assuntos religiosos e educacionais em Atenas, oportunidade quando algumas pessoas se converteram a Cristo (At 17:19-34).
O próprio Paulo afirmou que não é possível evitar que nos relacionemos com o mundo e os ímpios (1Co 5:9-10). Ele não pediu aos cristãos que se isolem do mundo, mas, diante da grandeza insondável de Deus e do fato de que tudo foi criado para Ele (Rm 11:33-36), o apóstolo recomendou que nos separemos para Deus, não nos amoldando com este presente mundo, mas nos transformando pela renovação da nossa mente, para experimentarmos a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12:1-2).
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