domingo, 29 de agosto de 2010

O CICLO CRISTÃO DE CONSOLAÇÃO MÚTUA

A adversidade e sofrimento muitas vezes são tão grandes, tão avassaladores que muitos de nós acabam desanimando da carreira cristã e se afastando da comunhão com Deus. Mesmo assim, em Sua eterna misericórdia, o próprio Deus sempre prepara pessoas para estar ao nosso lado e nos trazer o conforto e encorajamento, sejam amigos, irmãos ou familiares.

"Um homem desesperado deve receber a compaixão de seus amigos, muito embora ele tenha abandonado o temor do Todo-poderoso" (Jó 6:14).

Há muitos desanimados, frustrados e feridos emocionalmente dentro de muitas igrejas e famílias evangélicas atualmente e que precisam de amparo. Não apenas dentro dos "limites" evangélicos, mas evidentemente fora da igreja também.

Desde cedo trabalhamos duro para nos sustentar, com honestidade vivemos uma vida de cidadania e patriotismo, frequentamos a igreja, desempenhamos nossos dons e ministérios, em nosso convívio familiar nos esforçamos para sermos bons pais ou mães, filhos, maridos ou esposas, etc. Pelo menos é como deveria ser. Uma boa parcela de nós se doa pelos outros, doa o seu tempo e seus recursos materiais, exorta aqueles imaturos, fortalece aqueles que estão desanimados, intercede pelos enfermos e os visita, insentiva aqueles que sonham e planejam, se alegram com os que se alegram, choram com os que choram, etc., etc.

Mas, de repente, as provações semelhantes que vimos na prática atingirem a vida dessas pessoas que auxiliamos, se viram contra a nossa própria vida e nos atingem furiosamente, friamente e nos derrubam, nos deixam prostrados, desanimados.

Por que? Porque na prática, quando sentimos as dificuldades as quais ajudamos os outros a enfrentarem, terminamos desolados, como se tudo o que ensinamos aos outros fosse mera teoria? Ensinamos a eles como enfrentarem as situações adversas, mas ao passarmos por elas, não conseguimos saber como lidar com elas. Na prática, a teoria é bem diferente não é mesmo?

"Todos temos períodos de bonança. Mar calmo, céu límpido e, assim, deslizamos sem surpresas pela vida. De repente, uma tempestade imprevisível se levanta. À medida que a atravessamos perdemos o fôlego, as reservas se esgotam e  ânimo vacila. A vida nunca é reta, mas é curva e sinuosa [...]" (Augusto Cury; "Treinando a emoção para ser feliz", pp. 144-145).

Praticar aquilo que ensinamos não é fácil quando estamos passando por uma situação difícil. Ser bondoso e caridoso nos momentos de bonança é fácil, o difícil é manter esse caráter quando somos lançados de um lado para o outro pelas ondas desconsertantes do mar agitado da vida cristã. Principalmente quando só olhamos para a força da tempestade e não olhamos fixamente para o Autor da nossa fé, Jesus, que pode fazer a tempestade parar quando Ele quiser ou pode nos tomar pela mão e nos levar através da tempestade até um local de bonança (Mt 4:25-32; Hb 12:1-2). 

Quando acontecem tamanhas provações conosco, tudo parece ser diferente. Nunca imaginamos que algo como aqueles fatos adversos que vimos em nossos amigos, irmãos e familiares, etc. fossem nos atingir. Nós nunca pensamos que possa acontecer conosco, mas apenas sempre com os demais. Na prática é muito mais complicado. Onde teria se escondido toda aquela esperança e aquela fé que demonstrávamos aos que estavam desanimados? Onde foi parar aquela confiança que demonstrávamos em nossa vida piedosa? As seguintes palavras de Elifaz, amigo de Jó refletem exatamente isso:

"Pense bem! Você ensinou a tantos; fortaleceu mãos fracas. Suas palavras davam firmeza aos que tropeçavam; você fortaleceu joelhos vacilantes. Mas agora que se vê em dificuldade, você desanima; quando você é atingido, fica prostrado. Sua vida piedosa não lhe inspira confiança? E o seu procedimento irrepreensível não lhe dá esperança?" (Jó 4:3-6).

Aliás, será que somos realmente um exemplo de vida piedosa? Que cada um de nós avalie sua própria vida diante de Deus. Nós sempre imaginamos que uma vida piedosa e de caridade, de serviço a Deus pode nos isentar de um período de provação em alguns momentos da vida. Do alto de nossa vida piedosa, a provação nos pega de surpresa, no entanto. O texto bíblico a seguir, mostra Jó complementando exatamente esse nosso raciocínio: Jó vivia seguro, próspero e era um homem piedoso, mas a imensa provação pela qual passou o pegou de surpresa, ele não esperava enfrentar tanta dificuldade:

"A verdade é que ninguém dá a mão ao homem arruinado, quando este, em sua aflição, grita por socorro. Não é certo que chorei por causa dos que passavam dificuldade? E que a minha alma se entristeceu por causa dos pobres? Mesmo assim, quando eu esperava o bem, veio o mal; quando eu procurava a luz, vieram trevas. Nunca pára a agitação dentro de mim; dias de sofrimento me confrontam." (Jó 30:24-27; NVI).

Na verdade não devemos fazer o bem esperando apenas receber o bem de volta. Devemos, mesmo em meio aos sofrimentos, confiar em Deus e, consequentemente, praticar o bem. Afinal, fomos salvos pela graça Dele mendiante a fé em Cristo para praticarmos boas obras (Ef 2:8-10):

"...aqueles que sofrem de acordo com a vontade de Deus devem confiar sua vida ao seu fiel Criador e praticar o bem." (1Pe 4:19).

Mas, e então, onde está toda a confiança e esperança que demonstrávamos? Onde foram parar? Na verdade, nós, nestes momentos de grande adversidade, as perdemos praticamente por completo, mas existe uma maneira de as obtermos de volta.

"Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações, para que, com a consolação que recebemos de Deus, possamos consolar os que estão passando por tribulações. Pois assim como os sofrimentos de Cristo transbordam sobre nós, também por meio de Cristo transborda a nossa consolação. Se somos atribulados, é para consolação e salvação de vocês; se somos consolados, é para consolação de vocês, a qual lhe da paciência para suportarem os mesmos sofrimentos que nós estamos padecendo." (2Co 1:3-6).

Na verdade as forças que tínhamos estavam vindo do Pai  Celeste, o Deus de toda consolação. Se estávamos bem, era porque Deus já havia nos dado força suficiente para nos erguermos de uma situação adversa, mesmo que Ele estivesse usando as vidas de pessoas próximas de nós para isso. Por isso, podíamos consolar os demais. Mas, agora, mais uma vez precisamos deste consolo que vem de Deus ou Ele pode ainda usar aqueles que estão de pé, firmes e sem se abalar, para nos auxiliar e aí a situação se inverte, ficamos do outro lado do ciclo. É o ciclo cristão de consolação mútua. Na verdade essa mútua consolação, esse apoio recíproco deve ser almejado e pode ser vivenciado em qualquer esfera da nossa vida social, não apenas na igreja, mas na família, na escola, no trabalho, etc.

"No mundo instintivo, o individualismo prevalece; no mundo emocional, prevalece a dependência. A competição excessiva destrói a tranquilidade, abate o prazer de viver e debela a eficiência intelectual. O individualismo é amigo da solidão e ambos fecham as portas para a felicidade [...] Às vezes carregamos os outros, outras vezes eles nos carregam. Uma mão lava a outra. A família deve ser uma grande equipe. Os colegas de trabalho devem ser uma grande família. A gestão participativa em qualquer esfera social expande as soluções e transforma o ambiente num oásis. Trabalhar em equipe é uma arte." (Augusto Cury; "Treinando a emoção para ser feliz", p. 51).

Deus é o Deus de nossa consolação. Ele sempre quer nos ver felizes, mesmo que permita provações em nossas vidas. Ele sempre deseja o nosso bem. Ele sempre tem o melhor preparado para nós.

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