sexta-feira, 12 de novembro de 2010

ANALOGIAS ARTÍSTICAS "PSEUDO-BÍBLICAS" PARA A TRINDADE (PARTE 01)

Vimos, portanto, na última postagem, figuras bizarras e absurdas que tentaram reproduzir a Trindade equivocadamente, pois utilizaram uma aplicação biblicamente descontextualizada. Veremos, agora, analogias artísticas apenas ligeiramente superiores. Utilizaremos nestas analogias artísticas a expressão “pseudo-bíblicas”, pois, elas utilizam três elementos bíblicos que individualmente estão contextualizados para tentar formar uma analogia completa da Trindade, mas veremos que elas não são suficientes também para esta finalidade.

Apresentaremos algumas imagens a seguir que atendem à recomendação da Igreja Católica de utilizar elementos bíblicos como a pomba (Mc 1:10), a cruz de Cristo e este encarnado (Fp 2:5-8) e a figura do Ancião de Dias (cf. Dn 7:9) para expressar a Trindade.

Vejamos, antes, as referências bíblicas que dão margem, segundo muitas pessoas, para utilizarmos esses personagenss e ocasiões para representar a Trindade:

Para representar Deus Pai:

"Continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e o Ancião de Dias se assentou, sua veste era branca como a neve, e os cabelos da cabeça, como a pura lã; o seu trono eram chamas de fogo; e suas rodas eram fogo ardente." (Dn 7:9).

Para representar Deus Filho:

"Tende em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus, antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de honens, e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz." (Fp 2:5-8)

Para representar Deus Espírito Santo:

"E aconteceu que, ao ser todo o povo batizado, também o foi Jesus; e, estando ele a orar, o céu se abriu, e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea como pomba; e ouviu-se uma voz do céu: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo." (Lc 3:21-22; comparem com Mt 3:16-17; Mc 1:9-11; Jo 1:29, 32-34).

À vista de tudo isso, é preciso evitar alguns enganos: o Espírito Santo não é uma pomba, este foi um simbolismo usado por Ele em apenas uma ocasião (alguns especialistas nos lembram que a pomba simbolizava a pureza ou santidade no judaísmo). Deus Pai jamais assumiu a forma humana (e nem o Espírito), mas, apenas o Filho (como veremos posteriormente). A figura do Ancião de Dias também é um simbolismo, Deus não é um velhinho de barbas e cabelos brancos. O Filho de Deus, o Senhor Jesus, mesmo tendo sido reconhecido em forma humana, não pode ser representado com segurança por uma simples pintura ou escultura, é uma atitude temerária e ilusória.

Mas, independente do que significa teologicamente a aparição do Espírito como uma pomba, a encarnação do Verbo ou o Ancião de Dias, podemos afirmar que a subsistência tri-pessoal do Ser de Deus não pode ser representada satisfatoriamente através destes personagens e eventos (e por nenhum outro meio, aliás).

É evidente que reconhecemos que uma parte significativa dos nossos leitores, protestantes, católicos, etc., estão cientes destas verdades que acabamos de rememorar, mas acreditamos que é de vital importância trazermos à lume essas recomendações, para, entre outras coisas, a edificação de muitos que ainda sejam imaturos da fé e na doutrina trinitariana.

Estas figuras a seguir, portanto, também são insuficientes para expressar a Santíssima Trindade. Mesmo que em alguns aspectos apresentem uma simbologia biblicamente embasada, é equivocado utilizá-las como parâmetro trinitariano, pois se posicionam muito aquém da verdade sobre a Trindade. Elas podem, inclusive, como já afirmamos com veemência, acarretar uma perigosa e idólatra ilusão religiosa, desviando-nos da verdade, tentando limitar a Deus, que é ilimitado e infinito.

Iniciando com uma escultura inspirada na recomendação papal, observemos a figura 16:


“(...) quando da reconstrução para a nova Igreja, foi encontrado no subsolo, uma Imagem da Santíssima Trindade de pedra Ançã, datada do século XV ou XVI, proveniente da Visigótica Igreja de São Gião (...) Esta Imagem foi encontrada, como anteriormente foi dito, no ano de 1968, a quando da reestruturação da Igreja, embora danificada pela retro-escavadora podemos, ainda, observar a pintura original da Imagem em diversas partes (...) De salientar, que à entrada se encontra em lugar de honra, a referida Imagem da Santisssima Trindade, a qual recebe grande devoção do povo.” (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Paroquial_de_Nossa_Senhora_da_Vict%C3%B3ria). [citação em negrito de nossa parte].

Vejam o problema, por mais que uma escultura tenha sido criada com zelo, temor, boas intenções, respeito e grande habilidade, ela não pode ser alvo de nossa devoção. Nossa devoção dever ser ao Deus vivo e verdadeiro e não a uma escultura, por mais que ela tenha a intenção de representar a Divindade.

Iniciando as pinturas inspiradas na recomendação papal, verificamos a seguinte imagem no site da “The M+G+R Foundation:



No site da ACI (Agência Católica de Imprensa na América Latina), por sua vez, encontramos a seguinte imagem:



Enquanto que no site do Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima de Sumaré encontramos um tipo de imagem semelhante, apresentando “A Mão de Deus Pai”, “o Filho”, “a Pomba”, uma mensagem chamada “Rumo ao novo milênio” e a imagem da chamada “Nossa Senhora”, que apesar de estar em uma posição que simboliza submissão à Cristo, segundo o artigo “a ela nós devemos também confiar nossa vida, nossos desejos e sonhos”. Neste caso, então, parece que a Mãe de Cristo está sendo praticamente igualada a Divindade, e, então, não haveria uma Trindade, mas uma Tetrindade (Tetra=4), ou seja, mais uma heresia. É preciso cuidado. Vejamos a referida imagem e alguns dizeres contidos no site:


“'Ó Trindade Santa, Fonte indefectível de amor'. Foi a partir desta frase que a artista se inspirou para realizar a pintura da 'Santissíma Trindade', que acompanhara as preparações e festejos do Terceiro Milênio, neste Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima de Sumaré.” (fonte: http://www.fatima.com.br/interna_exibe.asp?ct=0&mn=59&id=1194&nt=1206) [confira no site para mais detalhes sobre a significação de cada elemento da pintura].

Sobre a questão do catolicismo romano inserir a realidade da Trindade à intercessão da mãe do Senhor Jesus, temos as palavras do Papa Bento XVI que discorreu sobre a Santíssima Trindade com palavras belas e biblicamente embasadas, até que mais ao final, mencionou Maria. Vejamos alguns trechos de seu discurso:


“Queridos irmãos e irmãs. Neste domingo que se segue ao Pentecostes celebramos a solenidade da Santíssima Trindade. Graças ao Espírito Santo, que ajuda a compreender as palavras de Jesus e orienta para a Verdade completa (cf. Jo 14, 26; 16, 13), os fiéis podem conhecer, por assim dizer, a intimidade do próprio Deus, descobrindo que Ele não é solidão infinita, mas comunhão de luz e de amor, vida doada e recebida num eterno diálogo entre o Pai e o Filho, no Espírito Santo Amante, Amado e Amor, para citar Santo Agostinho (...) Quem encontra Cristo e estabelece com Ele um relacionamento de amizade, acolhe a própria Comunhão trinitária na sua alma, segundo a promessa de Jesus aos discípulos (...). Para quem tem fé, todo o universo fala de Deus Uno e Trino. Desde os espaços interestelares até às partículas microscópicas, tudo o que existe remete a um Ser que se comunica na multiplicidade e variedade dos elementos, como numa imensa sinfonia (...) Entre as diferentes analogias do mistério inefável de Deus Uno e Trino, que os fiéis são capazes de entrever, gostaria de citar a da família. Ela é chamada a ser uma comunidade de amor e de vida, em que as diversidades devem concorrer para formar uma ‘parábola de comunhão’. Entre todas as criaturas, a obra-prima da Santíssima Trindade é a Virgem Maria: no seu Coração humilde e repleto de fé, Deus preparou para si uma morada digna, para completar o mistério da salvação. O Amor divino encontrou nela uma correspondência perfeita e foi no seu seio que o Filho Unigénito se fez homem. Dirijamo-nos com confiança filial a Maria para que, com a sua ajuda, possamos progredir no amor e fazer da nossa vida um cântico de louvor ao Pai, por meio do Filho no Espírito Santo.” (Angelus; Domingo, 11 de Junho de 2006 -  fonte: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/angelus/2006/documents/hf_ben-xvi_ang_20060611_po.html).

Quantas palavras biblicamente embasadas Bento XVI expressou em referência ao Deus triúno!! Vamos repetir alguns trechos, notem a doutrina trinitariana sendo defendida também pelo representante maior do catolicismo:

"...Graças ao Espírito Santo, que ajuda a compreender as palavras de Jesus e orienta para a Verdade completa, os fiéis podem conhecer, por assim dizer, a intimidade do próprio Deus, descobrindo que Ele não é solidão infinita, mas comunhão de luz e de amor, vida doada e recebida num eterno diálogo entre o Pai e o Filho, no Espírito Santo Amante, Amado e Amor...Quem encontra Cristo e estabelece com Ele um relacionamento de amizade, acolhe a própria Comunhão trinitária na sua alma, segundo a promessa de Jesus aos discípulos...Para quem tem fé, todo o universo fala de Deus Uno e Trino... Entre as diferentes analogias do mistério inefável de Deus Uno e Trino, que os fiéis são capazes de entrever, gostaria de citar a da família. Ela é chamada a ser uma comunidade de amor e de vida, em que as diversidades devem concorrer para formar uma ‘parábola de comunhão’..."

Mas, em seguida, equivocadamente chamou Maria, mãe do Senhor de "obra-prima da Santíssima Trindade", uma exacerbada veneração com ela, mesmo que admita que ela é também uma criatura de Deus, mas uma pessoa na qual, inclusive, Deus encontrou uma correspondência digna e perfeita do Seu próprio amor para poder gerar o Seu Filho. Mais um equívoco afirmar que Maria seria uma correspondente à altura para o amor incondicional de Deus, por mais temende a Ele e consagrada que ela fosse.

Em seguida, Bento XVI, mesmo que inconscientemente, parece contradizer-se, pois pede que nos dirijamos confiadamente a Maria, como seus filhos, para que ela nos auxilie a viver de tal forma que o nosso viver seja um cântico de louvor ao Pai, por meio do Filho, no Espírito. Em outras palavras, ao mesmo tempo que diz equivocadamente que Maria é uma "mãe auxiliadora" para os cristãos, diz acertadamente que por meio de Cristo e no Espírito a nossa vida será como um cântico de louvor ao Deus Pai.

O Papa Bento XVI, portanto, ensina a Trindade corretamente até certo ponto, pois insere Maria, mãe do Senhor como se participasse da Divindade de alguma forma. O problema não foi que ele incentivou a idolatria abertamente, mas, ao incentivar a busca por Maria, ele incentivou o ritual de invocação ou consulta aos mortos, o que é abominável a Deus.

Mas, deixando essa discussão e prosseguindo com o estudo, vejam ainda as figuras 19-B, 19-C e 19-D como complementação do que acabamos de mencionar como "representação idólatra da Trindade":







Prossigamos, então, com mais algumas imagens. Em um site de conteúdo espírita, que evidentemente crítica a Trindade, encontramos a seguinte figura:


Voltando ao site http://www.adventistas.com/, encontramos ainda uma discussão sobre um folheto que foi distribuído pela Igreja Cristã Bíblica Adventista. O artigo chama-se “Novo Folheto A-Trinitariano da ICBA-Igreja Cristã Bíblica Adventista”. Não seria possível transcrevermos toda a discussão, mas iremos apenas mostrar a figura utilizada para representar a Santíssima Trindade neste folheto:


A imagem acima, portanto, possui os mesmos problemas de simbologia que já asseveramos e também requer discernimento para não ser confundida com o verdadeiro Deus triúno. Sem mencionar que mostra Cristo não ressurreto, mas ainda na cruz, parecendo derrotado, outro problema que surge em várias outras representações que veremos na postagem seguinte.

O mesmo site possui uma crítica a uma imagem da Trindade sugerida pela Divisão Sul Americana da IASD (Igreja Adventista do Sétimo Dia):


“Parte 9 – Didática Trinitariana. Todo Adventista do Sétimo Dia conhece muito bem esta parte da Bíblia [referindo-se à Deuteronômio 4:15-18, texto que estudamos no fim da postagem anterior e estudaremos no fim da próxima também]. O tempo em que ninguém se atrevia a representar Deus, o Pai através de uma ilustração ficou para trás, pois a Divisão Sul Americana da IASD recentemente preparou uma série de Estudos Bíblicos ilustradas em PowerPoint onde se pode ver o seguinte:” [citação entre colchetes de nossa parte]

Ora, as críticas têm fundamento, pois sabemos que a figura acima é mais uma mera simbologia, e ruim por sinal. Afinal, sabemos (e veremos posteriormente) que Cristo é a imagem do Pai e quando se fala do Senhor Jesus "à destra do Pai" é apenas uma simbologia, transparecendo o lugar de honra máxima que Cristo obteve ao morrer e ressuscitar, mas não ocorre como na figura acima, como se o Pai sentasse no trono e Cristo em uma posição inferior, ficasse intercedendo por nós. Cristo não está, literalmente falando, nem ao lado e nem à frente e nem atrás do Pai, Ele está com o Pai em total comunhão de essência.

Sim, Cristo intercede por nós ao Pai, mas, na verdade, Cristo está no trono, o Pai está no trono, pois Deus reina soberano em Seu trono. Quem vê Cristo, vê também o Pai. Ambos são distintos, mas são um em essência. E o Espírito Santo não é uma pomba que fica circulando pelo Paraíso enquanto Cristo e o Pai dialogam. Posteriormente iremos detalhar um pouco mais essa realidade.

Talvez para alguns a figura supracitada possa servir para uma apresentação didática da economia trinitariana (o que também veremos posteriormente), mas acredito muito dificil sustentar biblicamente essa atitude, ela não parece razoável e sensata.

Vejam ainda sobre figura 22, mais um debate no seguinte site: http://adventistas-bereanos.com.br/maio2004/idololatriamodernaparteI.htm.

À exemplo das figuras 16 a 21, mesmo utilizando elementos bíblicos individualmente contextualizados, a figura 22 é insuficiente para expressar a Trindade. (Obs: Sugerimos ainda neste site a leitura da interessante discussão se Ellen White, a "profetiza" fundadora do adventismo, apoiava a doutrina da Trindade ou não).

Vejamos ainda muitos exemplos de tudo o que verificamos até agora sobre as analogias artísticas. Temos, a seguir, portanto, as figuras 23 a 30 para complementação:
















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