Além das analogias cotidianas e cosmológicas, vamos tentar entender um pouco a misteriosa e complexa existência da Trindade através de dez diagramas ou simplesmente "analogias gráficas inferiores". Estas figuras, na verdade, como qualquer analogia, indicam o que a Trindade não é, pois demonstrar graficamente a Trindade é uma tarefa impossível. Algumas destas figuras se aproximarão um pouco da verdade sobre a Trindade, mas mesmo assim nenhuma poderá ser considerada o modelo ideal.
“Se nos pedem que definamos a Trindade, nós só podemos dizer, não é isto ou aquilo.” (Agostinho, citado na História da Igreja Cristã, Volume 3, de Philip Schaff, Seção 130, página 672).
Neste ponto do nosso estudo atingimos um estágio mais avançado, onde podemos nos aprofundar mais na doutrina trinitariana, apresentando ensinos teológicos que formam o corpo doutrinário trinitariano, com a finalidade de, diante de diagramas ilustrativos, podermos visualizar, mesmo que palidamente, o que seria uma descrição mais próxima da realidade bíblica acerca da Trindade.
Para tal, será necessário ressaltarmos três verdades principais sobre a Trindade, que formam a base da doutrina trinitariana. Elas formam na verdade uma tríade de verdades sobre a Trindade.
Verdade n.º 01: Só existe um Deus no universo e Ele não compartilha Sua glória com ninguém;
Verdade n.º 02: Na essência divina única e indivisível subsistem três pessoas distintas; e
Verdade n.º 03: As três "pessoas" da Divindade compartilham a mesma essência de forma uniforme, ou seja, elas são idênticas em poder, glória e eternidade.
Com estas três verdades firmadas em nossas mentes, podemos além de ter uma visão definida biblicamente da Trindade, como também auxiliar as pessoas que estão confusas na busca de compreender melhor esta doutrina.
O Pr. James White, em seu artigo “Uma Breve Definição da Trindade”, também utilizou recursos semelhantes. (Obs: não confundamos o Pr. James White com o marido de Ellen White, James White, citado anteriormente nas controvérsias do trinitarianismo com as seitas):
“Quando reduzimos a discussão aos três claros ensinos bíblicos que fundamentam a Trindade, podemos mover nossa discussão da informação bíblica abstrata para a concreta, e podemos ajudar aqueles envolvidos em falsas religiões a reconhecer quais dos ensinos bíblicos eles estão negando.” (vejam o estudo completo em http://www.monergismo.com/).
Passemos às figuras de n.º 01 a 10b, sendo que as de n.º 01 a 04 são básicas e as de nº 05 a 10b são avançadas.
Vejamos a figura 01:
Neste caso, a figura n.º 01 nitidamente não corresponde à Trindade, pois ela apresenta apenas Deus Pai como Deus. Jesus Cristo seria inferior a Deus Pai, apenas um ser humano iluminado pelo Pai e o Espírito Santo seria, neste caso, uma mera energia cósmica impessoal.
Esta figura respeita a verdade n.º 01, ou seja, que “Só existe um Deus no universo e Ele não compartilha Sua glória com ninguém”, mas, contradiz a verdade n.º 02 que afirma que “na essência divina única e indivisível subsistem três pessoas distintas”, não admitindo, assim, as demais pessoas da Trindade, apenas Deus Pai. Consequentemente, esta figura também contradiz a verdade n.º 03, que diz que “as três pessoas da Divindade compartilham a mesma essência de forma uniforme, ou seja, elas são idênticas em poder, glória e eternidade”.
Essa falsa interpretação da Trindade é chamada de “Subordinacionismo”, que afirma que o Pai é o único Deus, o Filho é criatura criada e subordinada, mas nunca igualada ao Pai (?!).
“Afirma-se [no subordinacionismo] também a unidade de Deus, em detrimento as outras pessoas divinas. Deve-se tributar prudente veneração a Jesus Cristo, mas não ao ponto de igualá-lo a Deus mesmo, pois tal excesso destrói o sentido autêntico de Deus. Ele pode ser semelhante (homoioúsios) a Deus, jamais, porém, igual (homooúsios) a Ele. Ele é a primeira criatura, o protótipo de todas as criaturas, mas não Deus” (artigo “A Doutrina da Trindade”, Pr. Isaías Lobão Pereira Júnior: http://www.monergismo.com/textos/trindade/trindade_isaias.htm) [citação minha entre colchetes]
Salientamos que este subordinacionismo não refere-se à subordinação funcional de Cristo e do Espírito Santo em relação à Deus Pai, chamada de economia da Trindade ou Trindade econômica (assunto que veremos mais adiante).
Algumas religiões posicionam apenas Cristo como Deus do universo (unicismo, por exemplo), o que está errado também, pois, apesar de Cristo ser Deus, essa afirmação também contradiz as verdades n.º 02 e n.º 03.
Agora vamos para a figura 02:
A figura 02 também não corresponde à Trindade. Ela posiciona as três pessoas da Trindade como sendo Divindades, ela contradiz todas as três verdades básicas, pois neste caso são três deuses e não apenas um como afirma a verdade n.º 01. Neste caso também não são três pessoas compartilhando a mesma essência divina como diz a verdade n.º 02 e muito menos as três pessoas divinas compartilhando uniformemente a mesma essência como na verdade n.º 03.
Essa falsa interpretação da Trindade é chamada de “Triteísmo”, que afirma que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três deuses (?!). O triteísmo afirma as três pessoas divinas e acredita na divindade do Filho e na pessoa do Espírito como Deus em igualdade, mas, para ele são três substâncias independentes e autônomas. Não se afirma a relação entre elas nem a comunhão na mesma natureza divina.
Existiriam então, neste caso, três absolutos e não apenas um, três seres eternos e não um, e três criadores e não um. Contudo, não pode haver dois seres infinitos. Dois infinitos implicaria em uma contradição e já vimos que a Trindade não é uma contradição. Como poderia alguma coisa ser igual ao Ser Superior ou igualmente excelente ao Ser mais excelente? No caso do triteísmo ficaríamos questionando a qual destes supostos deuses deveríamos mais adoração.
Passemos para a figura 03:
A figura 03, a exemplo das duas primeiras, também não corresponde à Trindade. Apesar dela satisfazer a verdade n.º 01 sobre apenas um Deus no universo e aparentemente posicionar as três pessoas divinas como sendo o único Deus, ela não satisfaz completamente a verdade n.º 02, pois neste caso as pessoas divinas não estão distintas entre si.
Aparentemente ela também satisfaz a verdade n.º 3, dando a impressão que a mesma essência está sendo compartilhada entre as três pessoas divinas, mas não é suficiente, pois, a verdade n.º 03 está intimamente ligada a verdade n.º 02, ou seja, a mesma essência é compartilhada uniformemente, mas as pessoas divinas se mantém distintas entre si. Complicado? Certamente. Por isso, sempre repetimos que compreender a natureza do nosso querido Deus triúno é impossível.
Essa representação pode ser confundida com outra falsa interpretação da Trindade chamada “Modalismo”, ou seja, “Pai”, “Filho” e “Espírito Santo” são três modos diferentes e não simultâneos de agir do mesmo Deus, ou seja, Deus, em dado momento da história Ele foi o Pai, depois Ele se transformou no Filho e depois se transformou no Espírito Santo. O unicismo afirma algo semelhante, com a diferença de que ele atribui essas supostas "transformações divinas consecutivas" especificamente à pessoa de Jesus (?!).
É de suma importância ressaltarmos que quando as Escrituras tratam a Deus subsistindo em Pai, Filho e Espírito Santo, elas jamais estão afirmando que existe uma ordem cronológica na existência da Trindade. Ao contrário disso, como já afirmamos, Deus habita na eternidade, Ele não está vinculado aos efeitos de um tempo linear semelhantemente aos seres humanos. Esta ordem na Trindade apresentada nas Escrituras Sagradas, Pai, Filho e Espírito Santo, expressa o eterno relacionamento existente entre as três pessoas da Divindade e a Sua criação.
Passemos, então, para a figura 04:
A figura 04 parece que não, mas é mais uma mentira, conforme as três primeiras. Ela parece a princípio ser a representação que mais se adequa à realidade bíblica da Trindade, porém possui uma sutil inverdade que pode enganar os mais distraídos.Apesar de satisfazer a verdade n.º 01 sobre o único Deus, e demonstrar as três pessoas da Divindade em Suas formas distintas na essência divina, como afirma a verdade n.º 02, ela não explica satisfatoriamente o mistério desta mesma essência ser plenamente compartilhada uniformemente pelas três pessoas divinas, igualmente eternas, Todo-Poderosas e gloriosas, não satisfazendo assim, a verdade n.º 03.
Vamos discutir, a seguir, o que seria a representação básica e ideal para a Trindade. A representação ideal, portanto, seria uma conciliação das figuras 03 e 04, pois, demonstraria as três pessoas da Trindade uniformemente compartilhando da mesma e única essência divina indivisível, mas, que ao mesmo tempo preservam suas existências pessoais e distintas entre si. Contudo essa representação se torna racionalmente impossível.
Concluímos, portanto, que estas figuras básicas anteriores são insuficientes para representar a Trindade. Oferecemos a seguir, na próxima postagem, no entanto, outro estilo de diagrama mais complexo, que certamente nos auxiliará a compreender melhor os vários pontos da doutrina trinitariana. Mas será que este estilo de diagrama mais complexo é suficiente para expressar a Trindade?
Nenhum comentário:
Postar um comentário