sábado, 20 de novembro de 2010

A DOUTRINA TRINITARIANA E OS CREDOS ECLESIÁSTICOS

Apresentaremos a seguir os Credos elaborados através da história pela Igreja (o texto dos dois primeiros foi apresentado por Wayne Grudem em sua Teologia Sistemática).

CREDO APOSTÓLICO
(Séculos III e IV)

“Creio em Deus, o Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra. E em Jesus Cristo, seu Filho unigênito, nosso Senhor, concebido pelo Espírito Santo e nascido da Virgem Maria; que padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado(*), e ao terceiro dia ressurgiu dos mortos; que subiu ao céu e assentou-se à direita do Pai Todo-Poderoso, de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na santa igreja católica [universal], na comunhão dos santos, na remissão de pecados, na ressurreição da carne e na vida eterna. Amém” [citação minha entre colchetes].

Comentários do Centro Apologético Cristão de Pesquisas a respeito do Credo Apostólico:

“Por ser uma das primeiras partes da literatura confessional que se aprende, o Credo Apostólico é o credo mais usado em nossa igreja. E, exceto a oração do Senhor (dominical), não há conjunto de palavras na Igreja Cristã que os cristãos mais pronunciem. Ele é o primeiro dos credos ecumênicos [...] Apesar de receber o nome de Apostólico, não temos nenhuma evidência de que foi escrito pelos próprios apóstolos ou por alguns deles. O título ‘Credo Apostólico’ foi usado pela primeira vez em 390, no Sínodo de Milão. Em 404, Tirano Rufino escreveu um comentário do credo, contando a história de sua provável origem (de que no dia de Pentecostes os apóstolos, antes de cumprir a ordem de ir aos confins da terra, teriam se reunido e cada um contribuído com alguma parte do credo). Há evidência, no entanto, de que um credo muito semelhante a este já era usado no ano 150. A verdade, talvez, nunca se saberá. Entretanto, ninguém de sã consciência negará que esse credo reproduz autenticamente o ensino dos apóstolos, fundamentado nas verdades das Escrituras (1 Co 8.6; 12.13; Fp 2.5-11; 1 Tm 2.4-6; 1 Tm 3.16)”.

Já o Rev. Hermisten M. P. da Costa trouxe outras considerações importantes sobre este Credo no livro “Eu creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo”:

"O Credo dos Apóstolos tem sua origem no Credo romano Antigo, elaborado no segundo século, tendo algumas declarações doutrinárias acrescentadas no decorrer dos primeiros séculos, chegando à sua forma como temos hoje por volta do sétimo século [...] O Credo Apostólico era usado na preparação dos catecúmenos, professado durante o batismo, servindo também para a devoção privada dos cristãos. Posteriormente passou a ser recitado com a Oração do Senhor no culto público. No nono século, ele foi sancionado pelo Imperador Carlos Magno para uso na Igreja, e o papara o incorporou à liturgia romana. A Reforma valorizou este Credo, sendo ele usado liturgicamente em muitas de nossas igrejas ainda na atualidade.” (pp. 29-30).

CREDO DE NICÉIA
(ou Niceno-Constantinopolitano: 325 A.D. – revisado em Constantinopla em 381 A.D.)

“Cremos em um só Deus, Pai, Todo-Poderoso, Criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis. E em um só Senhor Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus, gerado pelo Pai antes de todos os séculos, Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não criado, de uma só substância com o Pai, pelo qual todas as coisas foram feitas; o qual, por nós homens e por nossa salvação, desceu dos céus, foi feito carne pelo Espírito Santo e da Virgem Maria, e tornou-se homem, e foi crucificado por nós sob Pôncio Pilatos, e padeceu e foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos céus e assentou-se à direita do Pai, e de novo há de vir com glória para julgar os vivos e os mortos, e o seu reino não terá fim. E no Espírito Santo, Senhor e Vivificador, que procede do Pai e do Filho(**), que com o Pai e o Filho conjuntamente é adorado e glorificado, que falou através dos profetas. E na igreja una, santa, católica [universal] e apostólica. Confessamos um só batismo para remissão dos pecados. Esperamos a ressurreição dos mortos e a vida do século vindouro. Amém.” [citação nossa entre colchetes].

Comentários do Centro Apologético Cristão de Pesquisas a respeito do Credo de Nicéia ou Credo Niceno:

“Enquanto a Igreja Cristã se desenvolvia, passou a sofrer oposição de Roma e dos judeus em forma de perseguições e morte aos que professavam a fé cristã. Mas este não foi o único tipo de perseguição sofrida. Apesar da igreja primitiva ter recebido aceitação social e respeitabilidade durante o governo do Imperador Diocleciano (284-305), um outro tipo de perseguição começou a se infiltrar na Igreja – o da oposição à fé como revelação direta da verdade por parte de Deus. A origem do Credo Niceno se encontra na necessidade que houve de defender a doutrina apostólica da divindade de Cristo contra Ário, e da divindade do Espírito Santo contra os seguidores de Macedônio. Convocou-se um concílio na cidade de Nicéia para maio e junho de 325. 220 bispos estavam presentes [...] Além, de Ário, apenas 5 outros se recusaram a assinar o documento elaborado em Nicéia. O Imperador os baniu, mas sem grande interesse político. O mesmo credo foi reafirmado no Concílio de Constantinopla, em 381, e foi oficialmente adotado com alguns acréscimos em 451 [...]”

O Rev. Hermisten trouxe as seguintes considerações sobre este Credo (em “Eu creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo”):

“O Credo Niceno Constantinopolitano é usado liturgicamente pela Igreja romana e pelas Igrejas Luteranas e Anglicanas. As Igrejas Reformadas o usam pouco. Ele é sem dúvida um dos mais importantes Credos da Igreja Cristã.” (p. 35).

O Centro Apologético Cristão de Pesquisas ainda nos apresenta o chamado Credo de Cesaréia:

CREDO DE CESARÉIA

“Cremos em um só Deus, Pai onipotente, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um só Senhor, Jesus Cristo, Verbo de Deus, Deus de toda a criação, por quem foram feitas todas as coisas; o qual foi feito carne para nossa salvação, tendo vivido entre os homens. Sofreu, ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao Pai e novamente virá em glória para julgar os vivos e os mortos. Cremos também em um só Espírito Santo”.

Talvez o Credo mais importante em referência à Trindade seja o Atanasiano. Os textos e comentários que se seguem são do Centro Apologético Cristão de Pesquisas:

CREDO ATANASIANO

“Todo aquele que quer ser salvo, antes de tudo deve professar a fé católica [universal]. Quem quer que não a conservar íntegra e inviolada, sem dúvida perecerá eternamente. E a fé católica [universal] consiste em venerar um só Deus na Trindade e a Trindade na unidade, sem confundir as pessoas e sem dividir a substância. Pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; Mas uma só é a divindade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, igual a glória, coeterna a majestade. Qual o Pai, tal o Filho, tal também o Espírito Santo. Incriado é o Pai, incriado o Filho, incriado o Espírito Santo. Imenso é o Pai, imenso o Filho, imenso o Espírito Santo. Eterno o Pai, eterno o Filho, eterno o Espírito Santo; Contudo, não são três eternos, mas um único eterno; Como não há três incriados, nem três imensos, porém um só incriado e um só imenso. Da mesma forma, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente; Contudo, não há três onipotentes, mas um só onipotente. Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus; E todavia, não há três Deuses, porém um único Deus. Como o Pai é Senhor, assim o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor; Entretanto, não são três Senhores, porém um só Senhor. Porque, assim como pela verdade cristã somos obrigados a confessar que cada pessoa, tomada pela verdade cristã somos obrigados a confessar que cada pessoa, tomada em separado, é Deus e Senhor, assim também estamos proibidos pela religião católica de dizer que são três Deuses ou três Senhores. O Pai por ninguém foi feito, nem criado, nem negado. O Filho é só do Pai; não feito, nem criado, mas gerado. O Espírito Santo é do Pai e do Filho; não feito, nem criado, nem gerado, mas procedente. Há, portanto, um único Pai, não três Pais; um único Filho, não três Filhos; um único Espírito Santo, não três Espíritos Santos. E nesta Trindade nada é anterior ou posterior, nada maior ou menor; porém todas as três pessoas são coeternas e iguais entre si; de modo que em tudo, conforme já ficou dito acima, deve ser venerada a Trindade na unidade e a unidade na Trindade. Portanto, quem quer salvar-se, deve pensar assim a respeito da Trindade. Mas para a salvação eterna também é necessário crer fielmente na encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo. A fé verdadeira, por conseguinte, é crermos e confessarmos que nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem. É Deus, gerado da substância do Pai antes dos séculos, e é homem, nascido, no mundo, da substância da mãe. Deus perfeito, homem perfeito, subsistindo de alma racional e carne humana. Igual ao Pai segundo a divindade, menor que o Pai segundo a humanidade. Ainda que é Deus e homem, todavia não há dois, porém um só Cristo. Um só, entretanto, não por conversão da divindade em carne, mas pela assunção da humanidade em Deus. De todo um só, não por confusão de substância, mas por unidade de pessoa. Pois, assim como a alma racional e a carne é um só homem, assim Deus e homem é um só Cristo; o qual padeceu pela nossa salvação, desceu aos infernos, ressuscitou dos mortos, subiu aos céus, está sentado à destra do Pai, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos. À sua chegada todos os homens devem ressuscitar com os seus corpos e vão prestar contas de seus próprios atos; E aqueles que tiverem praticado o bem irão para a vida eterna; aqueles que tiverem praticado o mal irão para o fogo eterno. Esta é a fé católica [universal]. Quem não a crer com fidelidade e firmeza, não poderá salvar-se.” [citações minhas entre colchetes].

Comentários:

“O Credo Atanasiano é uma confissão magnífica sobre o Deus triúno. Lutero o considerou ‘a maior produção da igreja desde os tempos dos apóstolos’. A origem do credo é, entretanto, obscura. Desde o século IX alguns o atribuíram a Atanásio, o heróico defensor da doutrina da divindade de Cristo contra Ário. Entretanto, não há razões muito fortes para que se possa atribuí-lo a Atanásio: 1. Não há evidências de que Atanásio e seus contemporâneos tivessem tomado conhecimento desse credo (também chamado ‘Quicunque’ – pois ele inicia com estas palavras: ‘Todo aquele....’). 2. Ele ataca heresias que surgiram depois da morte de Atanásio, quando Nestório e Éutico introduziram heresias sobre a Trindade e a pessoa de Cristo. 3. É bem provável que o autor desse credo era versado nos escritos de Agostinho, que viveu entre 354 e 430. Mas se Atanásio não foi o autor, quem foi? A questão tem intrigado os estudiosos da história cristã ao longo de todos esses anos. O mais próximo que chegaram, baseados em evidências encontradas, foi de que se conhecia um credo semelhante a esse na Galiléia (hoje França) na metade do 5° século. Entretanto, só se tornou popular para fins de instrução após Carlos Magno (742-814) ter decretado que todos os clérigos tinham que aprendê-lo. O Credo Atanasiano nunca teve um uso generalizado como os outros 2 credos [...]”.

Observemos mais uma vez as considerações do Rev. Hermisten, agora sobre o Credo Atanasiano (livro “Eu creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo”):

"Apesar de várias hipóteses quanto à sua autoria [...] ninguém conseguiu provar de modo incontestável a identidade do seu autor. A ênfase deste Credo é a defesa da Cristologia e da doutrina da Trindade conforme foram definidas nos Concílios Nicéia (325), Constantinopla (381) e Calcedônia (451), refletindo visivelmente a teologia de Agostinho (354-430). Ele foi amplamente considerado na Idade Média: na Igreja latina era quase que diariamente usado nas devoções matinais e, ao que parece, também tinha funções catequéticas. Os Reformadores o apreciaram bastante (tanto Lutero como Calvino) [...]” (p. 31).

Nas próximas postagens trataremos, entre outras coisas, de inúmeros conceitos teológicos mais complexos baseadas na doutrina trinitariana, para complementar e aprofundar mais o nosso conhecimento neste estudo, antes de atingirmos o ponto mais alto do mesmo, que é a relevância e a praticidade desta doutrina para nós diante do mundo moderno e corrupto e as bênçãos de uma íntima comunhão com o nosso Deus.

Que o nosso Deus triúno seja glorificado pelos séculos dos séculos. Amém.

 
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Notas:


(*) Wayne Grudem não incluiu a frase “desceu ao inferno”, porque segundo ele, a mesma “não é confirmada nas versões mais antigas do Credo Apostólico e por causa das dificuldades doutrinárias associadas com ela” (p. 1038).

(**) Segundo Grudem a cláusula filioque, ou seja, “a frase ‘e do Filho’ foi acrescentada depois do Concílio de Constantinopla em 381, mas é normalmente incluída no texto do Credo de Nicéia usado pelas igrejas católicas e protestantes hoje. A frase não aparece no texto usado pelas igrejas ortodoxas (...) A frase ‘Deus de Deus’ não estava na versão de 381, mas somente na de 325 e é normalmente incluída hoje” (p. 1038).Fonte dos comentários do Centro Apologético Cristão de Pesquisas – CACP:



Sendo que o CACP teve como fontes: http://www.icp.com.br e http://www.ielb.org.br/cremos/credos.htm).

Ainda sobre o Credo Atanasiano ver também o site da Biblioteca Reformada - ARPAV: http://www.geocities.com/arpav/biblioteca/credoatanasio.html.

O texto dos Credos apresentados por Wayne Grudem foram extraídos do livro “Teologia Sistemática”, pp. 996-997.

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