domingo, 31 de outubro de 2010

ANALOGIAS COSMOLÓGICAS PARA A TRINDADE

Deixando o limitado cotidiano humano, procuremos analogias mais úteis (conquanto também sejam limitadas) para a Santíssima Trindade na Sua própria criação. A Bíblia possui textos que nos auxiliam a avançar um pouco neste ponto do nosso estudo. Observemos o que o apóstolo Paulo declarou. Leiamos Romanos 1:20:

“Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas.” (comparem com Sl 8:1; 19:1-4).


Portanto, os atributos que não podemos visualizar, a essência ou natureza e o poder de Deus sempre puderam ser claramente observados através das obras criadas por Ele. Sendo assim, estudando alguns aspectos da natureza e do universo em geral, poderemos encontrar traços ou marcas de Sua essência deixados propositadamente por Deus.

É uma situação semelhante ao que acontece com diversas atividades humanas. Os autores de obras de arte podem claramente refletir o que pensam e até mesmo suas próprias personalidades em seus trabalhos, seja na pintura, na escultura, etc. Da mesma forma isso ocorre na música, que pode transmitir os sentimentos e o caráter do compositor, mas pode ocorrer em outras inúmeras formas de arte como o cinema, o teatro, etc.

É de vital importância ressaltarmos e relembrarmos também que Deus utiliza inúmeros simbolismos oriundos de Sua própria criação para expressar a Si mesmo e os Seus ricos ensinamentos.

É o que ocorre, por exemplo, com a vida animal: a águia (Is 40:31), a corça (Sl 42:1-2), o cordeiro (Jo 1:29; Ap 5:6), o leão (Ap 5:5), as serpentes, as pombas, as ovelhas e os lobos (Mt 10:16), os gafanhotos (Is 33:4; Ap 9:3,7) e o leite (Ex 3:8; 1Pe 2:2).

É o que ocorre, por exemplo, com os demais elementos da natureza, da vida vegetal, da vida mineral e até mesmo os elementos atmosféricos e meteorológicos: as rochas (Sl 62:2; Mt 7:24), os montes (Dn 2:35; Sl 125:1; Ap 6:4), as árvores (Jr 17:8; Mt 7:17; Jo 15:1), as temperaturas (Ap 3:15-16), o vento (Is 11:15; Jo 3:8; Ef 4:14), as nuvens (Sl 18:11; Ap 1:7), a saraiva (Is 30:30; Ap 8:7), o fogo (Hb 12:29; Ap 2:18), o relâmpago (Mt 24:27; Ap 4:5), o arco-íris (Gn 9:13; Ap 4:3; 10:1), a água (Sl 42:7; Jo 4:14; 7:38; Ap 4:6), as cores (Is 1:18; Jr 4:28; Ap 3:4; 17:4; 19:14) e tantos outros exemplos.

Ora, sabemos que o universo é formado de três elementos principais: tempo, espaço e matéria. Cada um destes elementos, por sua vez, possui também três componentes, como nas representações abaixo:

ESPAÇO: Altura - Largura - Profundidade

TEMPO: Passado - Presente - Futuro


MATÉRIA: Sólido - Líquido – Gasoso

Como qualquer leigo no assunto pode observar, quando nos referimos ao tempo, o passado é diferente do presente, que é diferente do futuro. Cada um deles, porém, é simultâneo. Não existem três “tempos”, mas o tempo é um apenas, ou seja, os três elementos do tempo, presente, passado e futuro desfrutam da mesma essência, todos eles formam o tempo.

Com o espaço também ocorre o mesmo. A altura é diferente da profundidade, que é diferente da largura. Mesmo assim, não existem três “espaços”, mas o espaço é apenas um. As partes que formam o espaço possuem a mesma natureza: todas são “espaço”.

Também temos a matéria que se divide em estado sólido, líquido e gasoso. O sólido não é igual ao líquido, que, por sua vez, não é o mesmo que o gasoso. Mesmo assim, não existem três “matérias”, mas apenas uma. Todos os componentes da matéria possuem a mesma essência: matéria.

(OBS: os exemplos referentes aos três elementos da natureza foram inspirados em matéria do Ministério de Pesquisa e Apologética Cristã- www.carm.org/Portugues/index.htm).

Temos também como exemplos retirados da criação de Deus: "o trevo de três folhas", "as partes da árvore" (raízes, tronco e ramos), "as partes da laranja" (casca, bagaço e suco) e "os elementos do sol" (calor, luz e gases), entre outros, como a analogia utilizada pelo reformador protestante Lutero:

“Lutero chamava a Trindade uma flor, na qual se pode distinguir a forma, a fragrância, e a sua eficácia medicional.” (A. H. Strong - “Teologia Sistemática, Vol. I”, p. 509).

Na verdade, todos estes exemplos também são insuficientes. Cada membro deles não constitui o todo como na Trindade, onde cada pessoa da Trindade é totalmente Deus. Sem falar de que todos estes exemplos são destituídos de algo que se compare à complexa personalidade da Divindade.

Wayne Grudem apresentou uma analogia complementar:

“Nossas próprias personalidades humanas proporcionam outra débil analogia, que nos pode ser útil na reflexão sobre a Trindade. O homem pode pensar em objetos diferentes fora de si mesmo, e então ele é o sujeito em quem se pensa: nesse caso é ao mesmo tempo sujeito e objeto. Além disso, ele pode refletir sobre as suas idéias sobre si mesmo como uma terceira coisa, nem sujeito nem objeto, mas pensamentos que ele, como sujeito, tem sobre si mesmo como objeto. Quando isso acontece, o sujeito, o objeto e os pensamentos são três coisas distintas. Porém, cada coisa de certo modo inclui todo o seu ser: todo o homem é sujeito, todo o homem é objeto, e os pensamentos (embora num sentido inferior) são pensamentos sobre a totalidade do homem como pessoa.” (Livro: “Teologia Sistemática”, p. 189).

Então, concluir que estas analogias são insuficientes para compreender a natureza triúna de Deus invalida o versículo que vimos no início? É evidente que não. A Bíblia é infalível.

O apóstolo Paulo em sua epístola aos romanos afirmou que os atributos invisíveis, o poder e a essência de Deus são claramente percebidos e reconhecidos e não claramente e totalmente compreendidos.

É possível, sim, contemplar os atributos de Deus através de Sua criação, tendo, assim, uma evidência de Sua existência e um vislumbre de Sua glória, Sua majestade e Seu poder, mas, mesmo assim, não é possível compreender totalmente a essência de Deus, principalmente no que se refere a Sua triunidade, pois Ele é insondável.

Nas próximas postagens continuaremos estudando as analogias utilizadas para tentar compreender a doutrina trinitariana.

Que o Deus triúno seja exaltado para sempre. Amém.

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NOTA: Comparem as analogias cosmológicas deste artigo com http://logoshp.6te.net/trim.htm

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