sexta-feira, 19 de novembro de 2010

UM POUCO DA HISTÓRIA DA DOUTRINA TRINITARIANA

CRÍTICAS E HERESIAS IMPULCIONARAM A FORMULAÇÃO DA DOUTRINA DA TRINDADE

A doutrina da Trindade é uma influência do paganismo?

Muitas pessoas acusam a doutrina trinitariana de ter se originado das religiões pagãs da antiguidade, o que não é verdade.

Charles Hodge em sua Teologia Sistemática (p. 333), afirmou que:

“[...] A doutrina da Trindade é peculiar à religião da Bíblia. A Tríade do mundo antigo não passa de uma afirmação filosófica da teoria panteísta que é a base de todas as religiões da antiguidade. Para os hindus, o ser simples, não desenvolvido e primário é chamado de Brahma. Esse ser, revelado no mundo real, é Vishnu; quando retornar ao abismo da consciência ou atributos, é Shiva. No budismo, encontramos essencialmente as mesmas idéias, em uma forma mais dualista. O budismo estabelece uma distinção mais forte entre Deus, ou princípio espiritual de todas as coisas, e a natureza. A alma do homem é uma parte, ou uma forma de existência, dessa essência espiritual, cujo destino consiste em poder livrar-se da natureza e perder-se no infinito ignoto. No platonismo também encontramos uma trindade irreal [...] Em todos esses sistemas, antigos ou modernos, há uma Tese, uma Antítese e uma Síntese; o Infinito se torna finito, e o finito volta para o Infinito. É óbvio, pois, que tais fórmulas trinitarianas não têm analogia oom a doutrina bíblica da Trindade, e não servem nem para explicá-la nem para confirmá-la [...]”

Observemos mais algumas declarações que fortalecem o conceito de que a doutrina trinitariana não possui origem pagã:

"[...] Equivalência Pagã: Outros movimentos que, embora não sejam reconhecidos como cristãos pelas grandes denominações cristãs, se auto-denominam de cristãos, bem como alguns movimentos pára-cristãos, afirmam que a Trindade é o fruto da importação de conceitos religiosos pagãos, e ainda uma fabricação da Igreja do século IV. A este respeito, porém, é hoje consensual entre os especialistas em História das Religiões que nas outras religiões - em especial a religião Egípcia e a religião Hindú - não se encontra a afirmação da «subsistência de um Deus em três Pessoas distintas» - crença peculiar e restrita ao cristiansmo trinitário -, mas tão só a reunião de três deuses distintos de entre um vasto panteão, ou de três avatáres, respectivamente (Refª Henri-Charles Puech – ‘Histoire des religions’, T1. T2, 1999; Konemann Verlag – ‘Histoire des religions’, 1997) [...]” (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cr%C3%ADticas_%C3%A0_doutrina_da_Trindade).

Aldo Menezes em seu livro “As Testemunhas de Jeová e a Trindade” (p. 38), afirmou que:

“[...] A objeção de que a doutrina da Trindade é de origem pagã, uma vez que cultuavam as tríades de deuses, também não faz sentido, pois a concepção pagã em nada se assemelha à doutrina trinitária. Os pagãos são politeístas, ou seja, crêem na existência de vários deuses, e a trindade é mais um conjunto de deuses em seu panteão [...]”

A doutrina da Trindade é uma invenção da Igreja do 4º século?

Quanto à acusação da doutrina trinitariana ser uma invenção da Igreja no quarto século, ou seja, centenas de anos após o período apostólico, vejamos estas declarações:

“[...] Quanto à datação da doutrina da Trindade como tendo surgido somente no século IV, as práxis sacramentais e os escritos cristãos dos três primeiros séculos - sobretudo Orígenes, Teófilo de Antioquia, Justino, Hipólito e Tertuliano - são testemunhos suficientes para se ser ter uma posição de grande renitência, senão mesmo de rejeição, quanto à veracidade de tal afirmação (Refª Mircea Eliade - "Traité d'histoire des religions", 2004). Na realidade, se a formulação dogmática da referida doutrina só foi postulada no decorrer dos grandes concílios ecumênicos do referido século IV, a sua crença é-lhe anterior, podendo a sua gênese remontar aos próprios escritos do Novo Testamento [...]“ (http://pt.wikipedia.org/wiki/Cr%C3%ADticas_%C3%A0_doutrina_da_Trindade).

Como se deu, portanto, o desenvolvimento da doutrina trinitariana através dos séculos, inclusive desde o fim do período apostólico, é o que iremos observar a seguir.

Guerras em nome da Trindade?

A alegação de que em nome da doutrina trinitariana na história do cristianismo foram promovidas muitas guerras e muito derramamento de sangue deve ser questionada. Será mesmo justo condenar uma doutrina claramente apresentada na Bíblia (como vimos anteriormente) apenas pelo fato lamentável de que algumas pessoas que se diziam “cristãs” tiveram um comportamento nada cristão, cometendo crimes absurdos em nome desta doutrina?

Sobre esta questão, Robert M. Bowman Jr em seu livro “Por que devo crer na Trindade” (pp. 157-158), afirmou:

“[...] Outra coisa que confunde a questão em debate é a referência aos trinitários que têm perseguido antitrinitários. Embora tal coisa tenha acontecido, não foi como resultado da crença na Trindade, mas por sustentar a crença que o governo civil tinha a responsabilidade de castigar ou até mesmo de executar hereges. Quando e onde antitrinitários estavam no governo e sustentando uma crença semelhante a respeito do papel das autoridades civis, freqüentemente eram perseguidos os trinitários. Logo, a perseguição histórica de antitrinitários por trinitários, por lamentável que tenha sido, não refuta de nenhuma maneira a doutrina da Trindade [...] Ainda menos relevante é a história lastimável de guerras em que trinitários têm matado trinitários. Quer concordemos ou não com a premissa de que toda a participação na guerra é um pecado (premissa com que concordam alguns cristãos, mas não todos), o fato de alguns trinitários terem matado outros na guerra, embora seja lamentável, não serve de refutação da doutrina da Trindade. No máximo, serve de prova de que a crença na doutrina da Trindade, por si só, não garante que a conduta da pessoa, ou a conduta de nações inteiras que aceitam essa doutrina, seja consistentemente cristã. Mas simplesmente não existe conexão lógica entre a crença na Trindade e a participação na guerra. Essas são questões separadas, e tentar alegar que a verdade da Trindade é suspeita por causa das crenças a respeito da participação na guerra é simplesmente confundir a questão [...]”

Portanto, alguns fatos realmente lamentáveis podem até ter “manchado” a história dos trinitaristas, devido à atitudes desumanas, mas jamais “mancharia” a história do trinitarismo, pois em nenhum momento ofuscou ou invalidou a veracidade da sã doutrina da Santíssima Trindade revelada na Bíblia, de Gênesis à Apocalipse.

AS TRÊS PRINCIPAIS HERESIAS CONTRA A DOUTRINA TRINITARIANA

Desde os primeiros séculos da igreja a doutrina trinitariana passou por um desenvolvimento, seja por considerações mais elaboradas do Credo Apostólico, seja por meio dos Credos dos primeiros concílios ecumênicos (Nicéia, em 325, Constantinopla, em 381), sem falar do Credo de Atanásio, todos eles compelidos por controvérsias doutrinárias significativas em torno de três principais movimentos heréticos:

1) o Monarquismo (a crença em um Deus não apenas unitário, mas unipessoal e não tripessoal), dividido em monarquismo modalista, e monarquismo dinâmico.

O modalista surgiu com uma tendência de acreditar em Cristo como um ser divino, mas não distinto do Pai e do Filho, negando a sua plena humanidade (docetismo). Também acreditava na unicidade de Deus, porém que a Trindade são modos de Deus cronologicamente de expressar ao mundo (nunca simultaneamente, mas sucessivamente). Teve como expoentes Noeto (c. 200), Práxeas (c.200) e Sabélio (c. 215), todos de Roma.

Já o monarquismo dinâmico teve como expoente Paulo de Samosata (260) e possuía uma tendência ebionita, ou seja, negava a divindade essencial de Jesus. Acreditava na unicidade de Deus, mas que Jesus e o Espírito não são pessoas distintas, pois Cristo (o Filho de Deus adotado neste caso por Deus, pois seria meramente homem) receberia o Espírito Santo que seria apenas um atributo de Deus, o "dynamis" de Deus(do grego: "poder"), no Seu batismo, O elevando a categoria de divino.

2) O Arianismo. O seu originador foi Ário (250-336), presbítero de Alexandria. Para Ele apenas Deus Pai é verdadeiramente Deus, mas não foi sempre Pai. Em um determinado tempo Ele “criou” o Filho. Apesar de crer na unicidade de Deus, não acreditava que Seus atributos fossem compartilhados por outras pessoas na Divindade, isso seria politeísmo para ele. Ele (Ário) e seus discípulos enfatizavam o fato de que Jesus foi um ser humano perfeitíssimo, porque Ele estava cheio do Espírito Santo.

É possível, inclusive, observar uma influência significativa do pensamento filosófico grego em Ário. Para ele, o "Logos" relatado no evangelho de João não é Deus, pois, Deus não pode se comunicar com o mundo, por ser um mistério indecifrável e alienado demais de Sua criação. A natureza de Deus, portanto, neste caso, seria incomunicável. Este "Logos" não seria Deus, mas seria um elemento participante da natureza divina. Jesus, cheio do Espírito, alcançou a perfeição, segundo esta doutrina, a ponto de merecer um nome divino. Jesus, então, teria sido adotado pelo Pai como seu filho, sendo eternamente subordinado ao Pai, por ter sido criado ou gerado pelo Pai.

O Concílio de Nicéia (325) refutou a doutrina de Ário, afirmando que Jesus Cristo é o único Filho de Deus (mais adiante transcreveremos o conteúdo dos Credos da Igreja).

3) O Macedonianismo. Ao contrário dos demais movimentos heréticos semelhantes, a questão primordial deste refere-se diretamente a divindade do Espírito Santo, pois, acreditava que Ele era uma espécie de energia oriunda de Deus.

À despeito de conflitos ocorridos entre trinitários e antitrinitários e até mesmo entre os trinitários, a maior luta da Igreja Cristã através dos séculos em relação à doutrina da Trindade foi no campo dogmático. Foram necessários séculos de confrontação doutrinal até que os representantes eclesiásticos tivessem condições de oferecer um sistema expositivo desta doutrina que pudesse não somente ser aceito pela Igreja, mas principalmente com total respaldo bíblico.

Vejamos algumas declarações que nos ajudam a entender melhor a história da doutrina da Trindade:

“[...] A doutrina trinitariana defende que há inúmeros trechos da Bíblia em que as chamadas ‘Pessoas da Trindade’ são referidas distintamente em suas ações [..] Historicamente, um dos primeiros a utilizar esta definição foi Tertuliano, na sua obra Adversus Praxeas, onde ele utilizou o termo ‘trinitas’. Esta perspectiva foi postulada como um artigo de fé pelo credo de Nicéia (proclamado em 325 no Concílio de Niceia) e o credo de Atanásio (cerca de 500 d.C.) [...] Estes credos foram formulados e ratificados pela Igreja dos séculos III e IV, em reação a noções algumas delas envolvendo a natureza da Trindade e a posição de Cristo nela, como as do arianismo, que foram depois declaradas como heréticas. Os credos foram mantidos em alguma forma pela maioria das igrejas protestantes, sendo até mesmo citados na liturgia de igrejas luteranas e Igrejas Reformadas [...] O Credo Niceno-Constantinopolitano, ou o Ícone/Símbolo da Fé, é uma declaração de fé cristã que é aceita pela Igreja Católica Romana, pela Igreja Ortodoxa Oriental, pela Igreja Anglicana e pelas principais igrejas protestantes. O nome está relacionado com o Primeiro Concílio de Niceia (325), no qual foi adaptado, e com o Primeiro Concílio de Constantinopla (381), onde foi aceita uma versão revista. Por esse motivo, ele pode ser referido especificamente como o Credo Niceno-Constantinopolitano para o distinguir tanto da versão de 325 como de versões posteriores que incluem a cláusula filioque [sobre esta cláusula veja os comentários sobre o Credo de Nicéia]. Houve vários outros credos elaborados em reação a doutrinas que apareceram posteriormente como heresias, mas este, na sua revisão de 381, foi o último em que as comunhões católica e ortodoxa conseguiram concordar em todos os pontos (Esta composição do credo pode ser encontrada nas atas dos Concílios Ecumênicos de Éfeso e Calcedônia; na Carta de Eusébio de Cesareia à sua própria igreja; na Carta de Santo Atanásio ao Imperador Joviniano; nas Histórias Eclesiásticas de Teodoreto e Sócrates, podem existir variações devidas à tradução). O Credo de Atanásio, subscrito pelos três principais ramos da Igreja Cristã, é geralmente atribuído a Atanásio de Alexandria, Bispo de Alexandria (século IV), mas estudiosos do assunto conferem a ele data posterior (século V). Sua forma final teria sido alcançada apenas no século VIII. O texto grego mais antigo deste credo provém de um sermão de Cesário, no início do século VI. O credo de Atanásio, com quarenta artigos, é um tanto longo para um credo, mas é considerado por Archibald A. Hogde ‘um majestoso e único monumento da fé imutável de toda a igreja quanto aos grandes mistérios da divindade, da Trindade de pessoas em um só Deus e da dualidade de naturezas de um único Cristo.’ Apesar da data ser incerta, este credo foi elaborado para combater o arianismo e reafirmar a doutrina bíblica da Trindade [...]” (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/santissimatrindade). [citação entre colchetes de nossa parte]

Ainda sobre a intensa discussão doutrinária que a Igreja promoveu através dos séculos, Hermann Bavinck trouxe as seguintes considerações:

"[...] A Igreja não chegou a essa rica e gloriosa confissão [da doutrina trinitariana] sem antes passar por uma dura e longa luta de tendências. Séculos da mais profunda experiência de vida espiritual dos filhos de Deus e dos mais agudos intelectos dos pais e dos mestres da Igreja foram necessários para que esse ponto da revelação da Escritura fosse entendido e reproduzido com fidelidade na confissão da igreja. Sem dúvida, a Igreja não teria obtido sucesso nesse esforço de firmar seus fundamentos se não tivesse sido conduzida pelo Espírito a toda a verdade e se Tertuliano e Irineu, Atanásio e os três santos da Capadócia, Agostinho e Hilário e muitos outros além desses, não tivessem sido homens especialmente dotados e capacitados de sabedoria para nos mostrar o caminho correto. Nada menos do que a essência peculiar do Cristianismo estava em jogo nessa luta de opiniões. Durante dois séculos a Igreja correu o risco de ser arrastada de suas fundações sobre as quais estava edificada e assim ser engolida pelo mundo [...]” (“Teologia Sistemática”, p. 169). [citação entre colchetes de nossa parte].

______________________________________

Para complementar o estudo acessem:
http://www.documentacatholicaomnia.eu/03d/sine-data,_AA_VV,_A_Santissima_Trindade_Nos_Escritos_Dos_Santos_Padres,_PT.pdf

Um comentário:

  1. muito bom seu blog parabéns belas postagens para aprendermos da palavra de Deus agora visite o meu blog www.blogdoisraelbatista.blogspot.com abraços

    ResponderExcluir