sábado, 1 de maio de 2010

REFLETINDO SOBRE A FALÊNCIA E A RESTAURAÇÃO DA FAMÍLIA

Sábado, dia 15 de maio, será celebrado o Dia Internacional da Família. Já estamos no que costumamos denominar na Igreja Presbiteriana do Brasil de "o mês do lar", mas o tempo está passando rapidamente e a cada dia que passa, infelizmente, a família, do ponto de vista bíblico, está se desestruturando, fora e dentro da igreja evangélica em todo o mundo, infelizmente.

Não desejamos aqui repetir todos os ensinamentos bíblicos com os quais já estamos (ou deveríamos estar) mais do que preparados para desempenharmos nossos papéis dentro do contexto familiar, ensinamentos que são propagados com firmeza e zelo na Escola Bíblica Dominical (para aquelas igrejas que ainda a possuem ou possuem uma forma diferente de escola bíblica) e são expostos à exaustão nas centenas e centenas de livros, palestras e cursos que temos disponíveis no mercado evangélico atualmente para a nossa edificação familiar.

Os ensinamentos aos quais aludimos são por exemplo: os filhos honrarem pai e mãe, os pais educarem seus filhos mesmo que tenham que castigá-los com "boas palmadas" desde a infância (o que a sociedade moderna já repeliu), mas não levarem seus filhos à ira, bem como o amor abnegado e sacrificial do marido pela esposa, a submissão co-participativa da esposa para com o marido, a união inseparável do casamento, regada com muito altruísmo (e não egoísmo), companheirismo, perdão constante e compreensão, entre tantos outros preceitos.

Nem vamos entrar na questão da violência doméstica, tão propagada pela mídia: filhos assassinando seus próprios pais, pais assassinando ou abandonando seus filhos, etc. Nos limitaremos à esfera do contexto familiar cristão evangélico atual.

Nossa intenção é tão somente a de alertar a cada um de nós sobre o perigoso e desastroso descaso que vem ocorrendo durante muitas gerações à respeito de princípios elementares do cristianismo, como a família, que é a célula primordial da Igreja. O descaso e a falta de transmissão adequada dos preceitos bíblicos durante várias gerações, as quais paulatinamente tem se esquecido de Deus, se amoldando aos padrões de conduta seculares, certamente contribuíram muito para este quadro de desgaste do modelo bíblico familiar que, por sua vez, é uma triste realidade presente em vários lares cristãos, inclusive.

Não é preciso estudar muito para reconhecer que Satanás está por trás de tudo isso, auxiliado é claro pela natureza pecaminosa do ser humano. O ser humano já é por natureza egocêntrico, Satanás "apenas" dá um bom empurrão na situação para que ela piore ainda mais. Qual é a estratégia dele? É evidente: destruindo ou desestruturando as famílias, ele destrói ou desestrutura totalmente uma igreja ou pelo menos a deixa em "ruínas", mesmo que paulatinamente. Qual o propósito Dele? Fazer com que a igreja se desvie das verdades bíblicas e se mundanize com conceitos meramente humanos e o materialismo. Assim, indiretamente Satanás estará recebendo de certa forma o louvor, pois ele é o dominador deste mundo corrompido e desviando de Deus a glória devida somente a Ele. Satanás quer toda a glória para si desde o começo, por isso ele "caiu" de sua alta posição e foi expulso do Céu, pois toda a glória é devida somente a Deus.

Bem, voltando ao assunto principal, percebemos que muitos pais não repassam mais as tradições cristãs e a importância de se ter uma comunhão com Deus e Sua Palavra aos seus filhos como há décadas atrás era comum e era realizada com dedicação e perseverança. Era muito comum, há muitos anos, os pais unirem os filhos à mesa para realizarem o saudoso "culto doméstico" e em comunhão uns com os outros compartilharem verdades sobre Deus e a comunhão com Ele e Sua Palavra e orarem juntos. Será ainda possível nos dia de hoje existir essa cena em pelo menos alguns lares cristãos? Esperamos em Deus que sim. E acerca desta triste e alarmante realidade David J. Merkh, em seu livro ?101 idéias criativas para o culto doméstico? (p.11), sabiamente alertou:

"(...) Qualquer pessoa que tenha experimentado um período de amnésia conhece a sensação desconcertante de acordar de repente e perceber que uma parte de sua vida foi apagada da memória. Que tragédia! Contudo, uma tragédia ainda maior persegue hoje inúmeras famílias cristãs. Acreditando-se vencedoras, descobrem que estão prestes a perder a batalha pela preservação da lembrança mais preciosa do nosso legado espiritual. A amnésia espiritual apaga das nossas mentes a lembrança de Deus. Identificamos um padrão que parece se repetir com certa freqüência entre as famílias crentes: A primeira geração conheceu a Deus. A segunda geração conheceu fatos acerca de Deus. A terceira geração não conheceu a Deus (...)?" [vejam Dt 6:10-12].

É evidentemte que a sociedade mudou muito nas últimas décadas e a velocidade e qualidade dos relacionamentos e vínculos afetivos foram "sugados" para a esteira desta tendência. Vivemos em uma sociedade imediatista e egocêntrica, onde os relacionamentos não precisam mais ser tão profundos, mas são instantâneos e muitas vezes descartáveis. As pessoas, mesmo em meio à uma multidão ou com um acesso ilimitado à internet, através da qual podem ter acesso ao mundo todo, se sentem solitárias, vazias. As pessoas estão muito próximas geograficamente, mas muito distantes afetivamente.

E infelizmente a família evangélica, não só no Brasil, mas no exterior, tem sofrido com estes sintomas da vida moderna ("moderno" nem sempre significa "ideal"). Os pais conversam pouco com seus filhos e os filhos se afastam cada vez mais dos pais, se isolam. Cada membro da família possui seus próprios afazeres, sua agenda "apertada", ninguém tem mais tempo para ninguém muitas vezes. Muitos pais cristãos, inclusive lideres evangélicos, não se importam mais qual será a decisão dos filhos sobre qual religião seguir, se eles estão usando roupas adequadas, se dão importância a temas como virgindade, drogas e até mesmo a preferência sexual. E isso é sério demais.

No futuro, os pais colherão frutos amargos devido ao seu descaso no passado. Transmitir ensinamentos bíblicos então nem pensar, os pais não têm mais tempo, deixam para que a Escola Bíblica Dominical ensine (e geralmente os professores são excelentes), mas os filhos, por falta de exemplo na família, acham a igreja um lugar enfadonho, chato, triste, uma perda de tempo e geralmente a frequentam para exercitar sua sociabilidade com seus colegas e amigos, o que é bom, mas é muito pouco. Geralmente os jovens e adolescentes "precisam" ser atraídos para a Igreja através de muito "show gospel", danças, "baladas gospel", etc, reuniões de oração, jejum, estudos bíblicos e gincanas bíblicas foram "tiradas do cardápio", o "apetite da galera" mudou com o tempo. Mas, devemos orar a Deus e auxiliá-los para que eles tenham "fome espiritual" pela Palavra de Deus, que sejam quebrantados pelo Espírito Santo de Deus, reconheçam a sua pequenez, caminhem pelo caminho da verdade e tenham prazer em estudar a Bíblia na igreja e principalmente em casa.

Acredito que os prezados irmãos já devem ter verificado essa cena, senão em suas igrejas, mas em outras: geração após geração de jovens cada vez mais imaturos na fé, não sabem praticamente nada sobre a Bíblia, não possuem temor a Deus e reverência ao adentrar no templo (no modo de falar e de vestir). As saudosas gincanas bíblicas são "peças empoeiradas no museu eclesiástico" (mas devem ser resgatadas de lá urgentemente).

O problema não é que os jovens se esqueceram de Deus, a questão é que parece que eles nem aprenderam quem Ele é, que não foram ensinados sobre Ele pelos pais, muitos dos quais mostraram um testemunho tão ruim aos filhos que destruiram qualquer chance dos mesmos buscarem ler a Bíblia ou irem a igreja, pois não viram seus pais praticarem o que pregavam, se é que pregavam realmente, pois muitas vezes os pais nem amor um pelo outro demonstram mais há muito tempo e o divórcio parece uma alternativa mais do que atraente (mesmo nos lares "evangélicos"). Temos que ponderar evidentemente que muitos e muitos pais ensinam sim as verdades bíblicas e dão exemplo e testemunho cristão, mas o fascínio que o mundo atual e corrompido exerce sobre os adolescentes e jovens acaba "roubando a semente da Palavra plantada no coração deles" e eles acabam se desviando do caminho da verdade.

A culpa é de quem afinal? De Deus? É evidente que não. Ou do diabo? Ou da liderança da igreja? Dos pais? Dos filhos? Da sociedade corrompida na qual vivemos? Não, não vamos indicar culpados. Na verdade, com exceção de Deus, é lógico, cada um pode ter uma parcela de culpa em tudo isso, mas podemos mudar esse quadro, agora com a participação de Deus, é lógico, e com muita oração, perseverança e preparo bíblico.

Felizmente, temos tido a impressão que a situação está aos poucos sendo revertida, muitos jovens e adolescentes atualmente parecem estar sendo chamados para uma geração que não apenas canta, toca, dança e pula, mas principalmente com mais interesse pela Palavra de Deus e pelo Deus da Palavra. Que realmente seja assim. Amém.

Seja qual for a situação em que a minha ou a sua família estiver vivenciando, seja entre marido e mulher ou com relação aos filhos, não nos esqueçamos: Há esperança de restauração e reedificação da família em Jesus Cristo. A família é criação de Deus, é instituição divina, é a célula essencial de outra instituição divina: a Igreja. Deus, portanto, tem sempre um plano para a família.

É preciso, por exemplo, repensar no modelo doméstico de culto, mesmo com tanta correria diária. É preciso contextualizar a reunião devocional doméstica, mas não "modernizar" os preceitos bíblicos que são imutáveis. Ou então outras diversas soluções. De qualquer forma, sem sombra de dúvida, é preciso muito discernimento e jogo de cintura para manter a família cristã ao mesmo tempo inserida neste mundo corrompido e ao mesmo tempo incontaminada, alicerçada no modelo bíblico e nos propósitos divinos para a família.

Busquemos a Deus suplicando discernimento, sabedoria e orientação, pois os dias são maus e não parece que a situação irá melhorar com relação ao mundo. Já desde o ensino básico, os filhos de pais cristãos sofrem com péssimas influências na escola, companhias nada edificantes muitas vezes. Sem mencionarmos o que a mídia escrita, televisiva, a internet, os video-games e o cinema despejam de "lixo cultural" (existem muitas exceções) sobre as crianças, jovens e adolescentes. Por tudo isso, a Igreja, como a família cristã, deve estar alerta e não perder mais as suas tradições (tradição é diferente de tradicionalismo).

Um excelente começo é por em prática um ensino básico encontrado nos salmos, uma parte de um lindo poema da família de Asafe: Transmitir sem interrupção de geração para geração os feitos maravilhosos de Deus e o Seu grandioso poder:

"...o que ouvimos e aprendemos, o que nossos pais nos contaram. Não os esconderemos dos nossos filhos; contaremos à próxima geração os louváveis feitos do SENHOR, o seu poder e as maravilhas que fez." (Sl 78:3-4).

Que realmente façamos assim. Amém.
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NOTA: Sobre a data comemorativa mencionada no início do artigo, acessem:

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