domingo, 5 de setembro de 2010

A CONTROVÉRSIA SOBRE A DOUTRINA TRINITARIANA (PARTE 01)

INTRODUÇÃO

Muitas pessoas aceitam completamente a Doutrina da Trindade (trinitariana), outras aceitam apenas em parte e outras ainda a negligenciam completamente. Algumas pessoas afirmam que existe uma contradição entre o Deus único, adorado pelas religiões monoteístas (como cristianismo, judaísmo e islamismo) e o ensino bíblico das três pessoas da Divindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Muitos crêem, mas chamam a Trindade de mistério, que é o caso das Igrejas Cristãs Reformadas.

Outros setores religiosos da sociedade são céticos quanto à Trindade, apregoando que Jesus foi apenas um mero ser humano iluminado por Deus e o Espírito Santo é uma energia cósmica impessoal que Deus utiliza para os Seus propósitos. Muitos acreditam que Deus se revelou de três formas consecutivas: Primeiro Ele foi o Pai Criador, depois se transformou no Filho Salvador, que por sua vez, se transformou no Espírito Santo Consolador.

Outros, por sua vez, postulam que a Trindade são três deuses e que o cristianismo, na verdade, é uma religião politeísta. Desconhecedoras da doutrina trinitariana, muitas pessoas questionam: “Como pode ser que Jesus seja Pai de si mesmo?”. Outros ainda blasfemam, denominando a Trindade de “um monstro de três cabeças”. A doutrina da Trindade encontra muita dificuldade de aceitação e compreensão da parte de muitas pessoas, até mesmo entre muitos cristãos evangélicos.

Para se ter uma pequena noção do debate que esta doutrina proporciona, apresentaremos a seguir alguns breves relatos contendo a opinião de inúmeros segmentos, iniciando pelo ateísmo e passando por diversas denominações religiosas. Salientamos, no entanto, que não iremos à princípio refutar enfática e detalhadamente nenhuma opinião que será apresentada, o que será realizado durante as postagens que se seguirão. Salientamos também que as considerações expressas nesta postagem podem não representar a opinião completa de cada religião sobre o assunto, mas nos servem apenas como uma pequena noção da mesma. Sendo assim, iniciaremos pelo ateísmo.

A DOUTRINA DA TRINDADE E O ATEÍSMO

No artigo “Demolindo o Dogma da Santíssima Trindade” de Mike McClellan, o autor, ao comentar sobre a doutrina da Trindade, cita outro escritor, Robert Ingersoll, que por sua vez, fez os seguintes comentários em sua obra “Ingersoll’s Works” (vol. 4, p. 266-67):

“Cristo, de acordo com a doutrina, é a segunda pessoa da Santíssima Trindade, com o Pai sendo a primeira e o Espírito Santo a terceira. Cada uma dessas pessoas é Deus. Cristo é seu próprio pai e seu próprio filho. O Espírito Santo não é nem pai nem filho, mas ambos. O filho foi gerado pelo pai, mas já existia antes de ser gerado, exatamente o mesmo antes e depois. Cristo é tão velho quanto seu pai e o pai é tão jovem quanto seu filho. O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, mas já era igual a eles antes de proceder, ou seja, antes de existir, mas mesmo assim ele tem a mesma idade que os outros dois. Deste modo, se afirma que o Pai é Deus, que o Filho é Deus e que o Espírito Santo é Deus e que esses três deuses fazem um só deus. De acordo com a tabela de multiplicação celestial, um é três e três vezes um é um, e de acordo com a regra de subtração do céu, se diminuirmos dois de três, sobram três. A regra da adição também é estranha: se somamos dois a um temos apenas um. Cada um é igual a si mesmo e aos outros dois. Nunca houve nem nunca haverá algo mais completamente idiota e absurdo que o dogma da Santíssima Trindade” (fonte: http://fernandosilva.multiply.com/journal/item/11 - http://www.anzwers.org/free/jesuschrist/index.html)

Impressionante não é mesmo? Quantas acusações sem conhecimento! Verificamos, assim, à que nível de confusão de termos doutrinários é possível chegar quando não se compreende adequadamente a doutrina da Trindade e quando não existe um mínimo de noção de interpretação bíblica. Em seguida, o autor deste mesmo artigo, Mike McClellan, retorna com seus comentários críticos ao cristianismo:

“Eis o dilema. Os cristãos sabem que, para Jesus ser o salvador da humanidade, ele tem que ser Deus também. É a Bíblia que diz. Se ele não é Deus, então ele não pode ser o salvador. Sua morte não teria sentido. Portanto, os cristãos inventaram a Santíssima Trindade para explicar a divindade de Cristo. Ele é homem. Ele é Deus. Ele é ambos. Ele tem que ser, para poder ser o salvador. Infelizmente, ele é, no melhor dos casos, indeciso. Às vezes ele diz que ele e Deus são um só. Às vezes ele admite que Deus sabe de coisas que ele ignora e faz coisas que ele não pode fazer. Os cristãos apelam para as coisas mais estranhas para provar o dogma da Santíssima Trindade, inclusive declarar que ele é um ‘mistério’ e que ‘nós somos muito limitados para entender’. A Bíblia é a palavra perfeita e infalível de Deus? A doutrina da Santíssima Trindade que os cristãos criaram e as contradições em que ela implica gritam que ‘Não!’ Mas então como foi que o dogma veio a existir? As origens da doutrina da Santíssima Trindade são chocantes. Como no caso da maioria das questões históricas relativas à cristandade, houve muita fraude e derramamento de sangue. Muitas vidas foram perdidas antes que o Trinitarianismo fosse enfim adotado. Como muitos cristãos sabem, a palavra ‘trindade’ não aparece na Bíblia. E não aparece porque é uma doutrina que evoluiu aos poucos no início do cristianismo. Foi um processo manipulado, sangrento e mortal até que finalmente se tornou uma doutrina ‘aceita’ da Igreja (...)”.

Os cristãos inventaram a Santíssima Trindade? E como um pretexto para divinizar a Cristo? O Senhor Jesus é indeciso? Os cristãos apelam para "coisas estranhas" para provar a Trindade? A Bíblia não é a perfeita Palavra de Deus? A doutrina da Trindade foi criada por meio de manipulação e conflitos sangrentos? Mais absurdos impressionantes. Como pudemos observar, são numerosas acusações à doutrina da Trindade, à Bíblia, ao cristianismo e ao próprio Jesus.

Um dos escritores ateus mais conhecidos foi o alemão Friedrich W. Nietzsche. Em sua obra “O Anticristo (Ensaio de uma Crítica do Cristianismo)”, no capítulo 18, especificamente se referindo à natureza de Deus, afirmou, entre outras coisas, que:

“(...) A concepção cristã de Deus – Deus o como protetor dos doentes, o Deus que tece teias de aranha, o Deus na forma de espírito – é uma das concepções mais corruptas que jamais apareceram no mundo: provavelmente representa o nível mais ínfero da declinante evolução do tipo divino. Um Deus que se degenerou em uma contradição da vida (...)”.

Mais adiante nesta mesma obra, no capítulo 34, Nietzsche teceu seus comentários sobre a Trindade, mais especificamente ao relacionamento entre a primeira e a segunda pessoa da Divindade, Deus Pai e Deus Filho:

"(...) O conceito de ‘Filho de Deus’ não designa uma pessoa concreta na história, um indivíduo isolado e definido, mas um fato ‘eterno’, um símbolo psicológico desvinculado da noção de tempo. O mesmo é válido, no sentido mais elevado, para o Deus desse típico simbolista, para o ‘reino de Deus’ e para a ‘filiação divina’. Nada poderia ser mais acristão que as cruas noções eclesiásticas de um Deus como pessoa, de um ‘reino de Deus’ vindouro, de um ‘reino dos céus’ no além e de um ‘filho de Deus’ como segunda pessoa da Trindade. Isso tudo – perdoem-me a expressão – é como soco no olho (e que olho!) do Evangelho: um desrespeito aos símbolos elevado a um cinismo histórico mundial. Todavia é suficientemente óbvio o significado dos símbolos ‘Pai’ e ‘Filho’ – não para todos, é claro –: a palavra ‘Filho’ expressa a entrada em um sentimento de transformação de todas as coisas (beatitude); ‘Pai’ expressa esse próprio sentimento – a sensação da eternidade e perfeição (...)”.

Cristo como o Filho de Deus Pai e Segunda Pessoa da Trindade é um "soco no olho do Evangelho"? Difícil demais conseguir digerir tais acusações sem fundamento bíblico e tão ausentes de conhecimento doutrinário. Mas, o ateísmo, portanto, por razões óbvias, possui uma concepção de Deus completamente avessa à realidade, contrária à verdade revelada na Bíblia.

A DOUTRINA DA TRINDADE E O GNOSTICISMO

Observemos também algumas descrições do que movimentos gnósticos contemporâneos afirmam sobre a Trindade:

“Movimentos Gnósticos: Movimentos neo-gnósticos contemporâneos, que se auto-denominam cristãos, afirmam, por sua vez, que Jesus Cristo não é Deus como o é YHWH, pois YHWH surge, ao longo do Antigo Testamento como sendo um Deus ‘vingativo’, ‘cruel’ e ‘sedento de sangue’, enquanto Jesus apresenta o rosto de um ‘falso deus’ que é ‘amor’, ‘misericórdia’ e ‘perdão’. Do mesmo modo afirmam que o Espírito Santo é que é o ‘Verdadeiro Deus’ que salvou a humanidade ao ser entregue por Jesus a YHWH quando da sua morte (Refª Hans Jonas – ‘The Gnostic Religion’, 2001)” (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cr%C3%ADticas_%C3%A0_doutrina_da_Trindade).

Misericórdia! Agora foi para arrebentar. Somente o Espírito Santo é o verdadeiro Deus e salvador da humanidade e Ele foi entregue por Jesus (que não é Deus) a Iavé por ocasião de Sua morte? Complicado não é mesmo?

A DOUTRINA DA TRINDADE E O ESPIRITISMO

Enquanto que o espiritismo, entre outras coisas, nega a existência da Trindade:

“O Espiritismo é definido na essência como uma doutrina baseada na crença da Imortalidade da Alma Humana e na possibilidade das pessoas falecidas (segundo a Doutrina Espírita, Espíritos sem corpo material) comunicarem com os vivos (segundo a Doutrina Espírita, Espíritos com corpo material) por intermédio de pessoas com o dom de mediúncidade (...) O Espiritismo, de um modo geral, caracteriza-se nos seguintes pontos: na Unicidade de Deus, rejeitam o dogma da Santíssima Trindade; na Imortalidade da Alma Humana (segundo a Doutrina Espírita, na Imortalidade do Espírito); na Reencarnação, como mecanismo natural de aperfeiçoamento dos Espíritos; na possibilidade de comunicação entre os Espíritos com corpo material (‘vivos’) e os Espíritos sem corpo material (‘mortos’) através da mediunidade” (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Usu%C3%A1rio:Jos%C3%A9_Dias/Espiritismo_Esbo%C3%A7o).

Ainda sobre o espiritismo, em artigo da “Logos Apologética Cristã”, intitulado “O espiritismo e a divindade de Cristo”, Emerson de Oliveira trata do que este setor afirma mais especificamente sobre a natureza divina de Cristo. Vejamos um pequeno trecho da introdução deste artigo (fonte: http://logoshp.6te.net/espdivc.htm).

“O espiritismo e a divindade de Cristo. Este artigo visa refutar as idéias contidas no livro ‘Obras Póstumas’, de Allan Kardec. Neste livro, há um capítulo chamado ‘Estudo sobre a natureza de Cristo’. Numa abordagem ousada, já em seu início, tenta falar que a ‘controvérsia’ em torno da natureza de Cristo ainda não se resolveu (!) e que isto foi responsável, durante os séculos, pela origem de várias seitas. Nesta segunda parte temos que concordar, aliás, é algo digno das seitas distorcerem a pessoa de Jesus. (...)”.

Com respeito à controvérsia sobre a natureza de Cristo, veremos mais detalhes posteriormente. Voltando ao artigo, sobre o capítulo 3 do livro de Kardec (“As palavras de Jesus provam a sua divindade?”), o autor afirma que:

“(...) Aqui Kardec expõe todo seu socianismo (doutrina herética de Socino - séc. XVI - que negava a Trindade e a divindade de Cristo) (...)”

Comparem com declarações contidas no seguinte endereço: http://blogespiritismo.blogs.sapo.pt/91900.html.

Um comentário:

  1. Meu caro amigo, você dizer que as afirmações supracitadas pelo ateu, assim como as palavras de Nietzsche estarem erradas é valido. Mas gostaria de ouvir seu contra argumento. Afinal, negação pura e simples é sinônimo de ignorância.

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