domingo, 26 de setembro de 2010

A TRINDADE NO ANTIGO TESTAMENTO (PARTE 02)

CRISTOLOGIA VETERO-TESTAMENTÁRIA

INTRODUÇÃO

Primeiramente desejamos salientar que esta parte da doutrina da Trindade não é defendida por todos os estudiosos, alguns acreditam que não há sustentação bíblica para o que vamos apresentar em seguida.

Os prezados leitores podem ler atentamente, portanto, e, como em todos os nossos artigos, tirarem livremente as suas próprias conclusões.

Tanto as profecias bíblicas, como o apóstolo Paulo e o próprio Jesus confirmam que Ele, o Senhor, o Filho de Deus em Sua eternidade já atuava no povo de Israel desde o Antigo Testamento.

Depois que Adão e Eva pecaram, Deus prometeu enviar um descendente que esmagaria a cabeça da serpente (Gn 3:14-15). Mas este texto, se analisado isoladamente, não explicita quem seja o referido descendente, o que seria revelado depois de muitos séculos, na pessoa do Senhor Jesus que foi identificado com aquele descendente:

“Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo.” (Gl 3:16).

Em Lucas 24:27 nos diz que o Senhor Jesus:

"...começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras.”

De fato, Moisés testificou de Cristo:

“O SENHOR Deus te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim: a ele ouvirás.” (Dt 18:15).

Analisando o contexto bíblico, Moisés foi semelhante a Cristo no que se refere a seu serviço e ao ofício de profeta (confiram At 3:12-26 e Hb 3:1-3 e comparem Dt 34:10 com Lc 24:19). Contudo, não são apenas passagens proféticas sobre a vida de Jesus, como esta que acabamos de observar e outras tais como os Salmos 16 e 22 e Isaías 53 que falam de Cristo no Antigo Testamento. Por todo o Antigo Testamento, na verdade, há uma constante menção de uma pessoa, distinta do Deus Iavé dos hebreus. Ela reivindica autoridade divina, exerce prerrogativas divinas e recebe homenagem divina.

Mas, o próprio Senhor Jesus ensina que Abraão de alguma maneira reconheceu a Sua existência. Em João 8:56-58, temos:

“Vosso pai Abraão alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se. Perguntaram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinqüenta anos, e viste a Abraão? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu vos digo: Antes que Abraão existisse, eu sou.”

Sobre este texto, Charles C. Ryre em sua edição da “Bíblia Anotada” (p. 1335), salientou que:

“A expressão ‘Eu Sou’ denota existência eterna absoluta, não apenas existência anterior à de Abraão. É uma reivindicação de ser o Javé do A.T. A reação dos judeus (v. 59) a esta suposta blasfêmia demonstra que eles entenderam claramente o significado desta reivindicação de Cristo.”

Além disso, esta referência de Jesus ao fato de Abraão ter visto o Seu dia pode estar vinculada à manifestação da Divindade nos dias que precederam a destruição de Sodoma e Gomorra (Gênesis 18,19), mas esta afirmação carece de evidências bíblicas. É mais provável que esta referência de Jesus seja ao episódio do sacrifício de Isaque que vemos logo a seguir, onde observamos a atuação clara do Anjo do SENHOR.

O apóstolo Paulo afirmou que o povo de Israel em sua peregrinação no deserto, se alimentou e bebeu de uma mesma "fonte espiritual", de uma "pedra espiritual" que seguia o povo. Segundo ele, essa "pedra" era Cristo Jesus.

“Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar, tendo sido batizados, assim na nuvem, como no mar, com respeito a Moisés. Todos eles comeram de um só manjar espiritual, e beberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo.” (1Co 10:1-4).

Nota-se claramente a obra providencial de Jesus, pré-encarnado, na vida do povo hebreu no deserto. Essa rocha sobrenatural ou espiritual protegia e sustentava o povo. Está claro que a proteção veio de Deus, mas o apóstolo Paulo esclarece que essa proteção vinha de Deus, o Filho que, no tempo de Paulo, já se havia feito homem. (Obs: Comparem ainda Mateus 2:6 com Miquéias 5:2 sobre a eternidade de Cristo).

Mas, como pode ser isso? Vamos ver a seguir, então, a atuação de um personagem ainda polêmico entre muitos especialistas, mas que para muitos, é claramente a pré-encarnação do Salvador no período do Antigo Testamento.

O "ANJO DO SENHOR" ATUANDO NO PENTATEUCO

EM GÊNESIS

Em Gênesis 16, podemos constatar a ação do Anjo do SENHOR (vv. 7,9,10,11,12). Nos vv. 10 a 12, Ele aparece a Agar e lhe transmite uma mensagem:

“Disse-lhe mais o Anjo do SENHOR: Multiplicarei sobremodo a tua descendência, de maneira que, por numerosa, não será contada.” (v. 10; cf. vv. 11,12).

E na continuidade da narrativa bíblica...

“Então ela invocou o nome do SENHOR, que lhe falava: Tu és Deus que vê, pois disse ela: Não olhei eu neste lugar para aquele que me vê?” (v.13).

Portanto é declarado que este Anjo é o próprio SENHOR Deus. Afinal, Ele promete o que somente Deus poderia cumprir (cf. vv. 10-11).

Vejam mais um exemplo do que estamos afirmando. Não muito à frente em Gênesis, o Anjo de Deus aparece novamente a Agar:

"Deus, porém, ouviu a voz do menino; e o Anjo de Deus chamou do céu a Agar e lhe disse: Que tens, Agar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino, daí onde está. Ergue-te, levante o rapaz, egura-o pela mão, porque eu farei dele um grande povo. Abrindo-lhe Deus os olhos, viu ela um poço de água, e, indo a ele, enchei de água o odre, e deu de beber ao rapaz." (Gn 21:17-19).

Percebam que Deus ouviu a voz do menino, mas foi o Anjo que chamou Agar e disse que faria dele um grande povo, e, em seguida Deus mostra a Agar um poço para que ela desse de beber a Ismael (Gn 25:12).

Logo em seguida, no próximo capítulo de Gênesis, quando Deus pôs Abraão à prova pedindo o seu filho Isaque como sacrifício (Gn 22:1-2), no momento que o patriarca tomou o cutelo para imolar o próprio filho em obediência a Deus (v.10), mais uma vez encontramos a ação do Anjo do SENHOR:

“Mas do céu lhe bradou o Anjo do SENHOR: Abraão! Abraão! Ele respondeu: Eis me aqui. Então lhe disse: Não estendas a mão sobre o rapaz, e nada lhe faças; pois agora sei que temes a Deus, porquanto não me negaste o filho, o teu único filho” (vv. 11-12).

Observem o Anjo do SENHOR afirmando que sabia que Abraão temia a Deus, pois não lhe negara o único filho (v.12). E então o texto nos informa que Abraão encontrou um carneiro preso entre os arbustos e o imolou no lugar de seu filho (v.13) e em seguida chamou aquele lugar onde estavam de o SENHOR proverá (v.14). Em seguida novamente o Anjo do SENHOR se manifesta a Abraão:

“Então do céu bradou pela segunda vez o Anjo do SENHOR a Abraão, e disse: Jurei, por mim mesmo, diz o SENHOR, porquanto fizesse isso, e não me negaste o teu único filho, que deveras te abençoarei e certamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e como a areia na praia do mar; a tua descendência possuirá a cidade dos seus inimigos, nelas serão benditas todas as nações da terra: porquanto obedeceste à minha voz.” (vv. 15-18).

Observem mais uma vez que o Anjo do SENHOR se apresenta na qualidade de mensageiro do SENHOR, mas Ele também é o SENHOR. Isto fica claro com expressões tais como “jurei por mim mesmo” (v.16) e “obedeceste à minha voz” (v. 18b) e pelas promessas feitas pelo Anjo a Abraão como sendo o próprio SENHOR e que realmente só Deus poderia cumprí-las cabalmente (vv. 17-18; comparem com Gn 13:14-16; 15:5).

Fica mais uma vez evidente que o "Anjo do Senhor" ou o "Anjo de Deus" é o próprio Deus mais adiante, ainda em Gênesis:

"E o Anjo de Deus me disse em sonho: Jacó! Eu respondi: Eis-me aqui! Ele continou: Levanta agora os olhos e vê que todos os machos que cobrem o rebanho são listados, salpicados e malhados, porque vejo tudo o que Labão está fazendo. Eu sou o Deus de Betel, onde ungiste uma coluna, onde me fizeste um voto. levanta-te agora, sai dessa terra e volta para a terra de sua parentela." (Gn 31:11-13).

Que espetacular e impressionante! O Anjo de Deus fala a Jacó que estava ciente de tudo o que Labão estava fazendo (uma alusão à onisciência divina?) e que Ele é o Deus de Betel, onde Jacó ungiu uma coluna e fez um voto a Ele, a Deus (Gn 28:18-22) e em seguida o Anjo dá ordem para que o patriarca volte para a terra de sua família. O Anjo reivindicou Sua divindade, fez uma provável menção à Sua onisciência divina e deu ordens importantes que influenciariam a história do povo de Israel.

Existe também a narrativa da tão conhecida luta de Jacó com um homem que na verdade era uma teofania, era o próprio Deus (vejam Gn 32:22-30). Neste episódio não é possível comprovar a participação do Anjo do SENHOR, pois fica claro que era o próprio SENHOR Deus que estava presente. Muito à frente no Antigo Testamento, no livro do profeta Oséias há uma menção deste episódio e o texto afirma que Jacó lutou com "o anjo" e prevaleceu (Os 12:4), mas, mesmo assim, não fica evidente que era o Anjo do SENHOR.

Vejam ainda para complementar que, já no fim de Gênesis, quando Jacó abençoou a José e seus flhos, o patriarca mencionou a provisão de Deus em sua vida e na de seu pai e seu avô e a proteção do Anjo de Deus em sua vida e que Deus e o Anjo de Deus trouxessem bênçãos para os seus descendentes (Gn 48:15-16).

Se depois de todas essas evidências, ainda não ficou claro para muitos que o Anjo do Senhor é o próprio Deus e ao mesmo tempo uma "pessoa" divina distinta Dele, vamos continuar com mais evidências nas próximas postagens.

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