sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A TRINDADE NO ANTIGO TESTAMENTO (PARTE 03)

Vamos continuar com mais evidências da manifestação da pré-encarnação do Verbo de Deus no período vetero-testamentário ("Cristologia Vetero-Testamentária").

EM ÊXODO

O Anjo do SENHOR também se manifestou poderosamente a Moisés no deserto em forma de chama de fogo no meio de uma sarça quando ele apascentava o rebanho de Jetro, seu sogro (Ex 3:1-3). Fica evidente mais uma vez que o Anjo do SENHOR não é tão somente um mensageiro de Deus, mas Ele é o próprio Deus, pela narrativa destes versículos que apresentaremos:


"Apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Midiã; e, levando o rebanho para o lado ocidental do deserto, chegou ao monte de Deus, a Horebe. Apareceu-lhe o Anjo do SENHOR numa chama de fogo, no meio de uma sarça; Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo e a sarça não se consumia. Então, disse consigo mesmo: Irei para lá e verei essa grande maravilha, por que a sarça não se queima?" (Ex 3:1-3).

Percebam que em Horebe, no monte de Deus, foi o Anjo do SENHOR que apareceu a Moisés em forma de chama de fogo em uma sarça. Moisés ficou maravilhado pois a sarça não se consumia com o fogo e quis se aproximar mais. E...

“Vendo o SENHOR que ele se voltava para ver, Deus, do meio da sarça, o chamou, e disse: Moisés, Moisés! Ele respondeu: Eis-me aqui. Deus continuou: Não te chegues para cá; tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa.” (vv. 4-5; comparem com At 7:30-35).

Que interessante não é mesmo? Foi o Anjo do SENHOR que apareceu em forma de chama de fogo na sarça, mas foi Deus, o SENHOR, que do meio da sarça conversou com Moisés. A presença da santidade do SENHOR era tão intensa naquele lugar que Deus ordenou que Moisés não se aproximasse, mas ficasse descalso em sinal de purificação. Que honra o Anjo do SENHOR desfrutava juntamente com Deus não é mesmo? Deus não compartilha Sua glória com ninguém (Is 42:8; 48:11), mas com o Seu Anjo Ele permitia que o mesmo co-participasse de momentos de honra e glória. Não parece contradição? Apenas parece, pois o Anjo do SENHOR estava com o SENHOR e era o SENHOR.

Nos versículos seguintes, Deus ainda se apresenta a Moisés como Deus de Abraão, Isaque e de Jacó e afirma que estava atento ao sofrimento do povo hebreu, cativo no Egito e providenciaria o livramento (vv. 7-10).

Mas, o Anjo do SENHOR ainda revelaria Seu poder divino em outras ocasiões da libertação de Israel do poder egípcio. Não vimos anteriormente que o apóstolo Paulo afirmou que Cristo era como uma pedra espiritual que seguia o povo de Israel no deserto e os alimentava? Então, mais evidente ainda torna-se a distinção entre Ele, o Anjo do SENHOR (ou o Filho de Deus pré-encarnado) e o SENHOR Deus no episódio da travessia do mar vermelho, quando o SENHOR ia adiante do povo durante o dia numa coluna de nuvem para os guiar e durante a noite numa coluna de fogo para os iluminar (Ex 13:21-22) e diante da perseguição dos egípcios aproximando-se do povo de frente ao mar, o SENHOR ordenou a Moisés para mandar o povo seguir caminho (Ex 14:1-15) e para ele estender a mão sobre o mar para o dividir (v. 16) para que o nome do SENHOR fosse glorificado (v. 17). O versículo 18, então, afirma que:

“Então o Anjo de Deus, que ia adiante do exército de Israel, se retirou, e passou para trás deles; também a coluna de nuvem se retirou de diante deles, e se pôs atrás deles."

Então Moisés estendeu a mão sobre o mar e o SENHOR o abriu através de um forte vento oriental livrando mais uma vez o povo hebreu (vv. 21-22; cf. vv. 23-31).

Após instituir os chamados Dez Mandamentos e transmitir outras inúmeras leis ao povo, Deus garantiu-lhe a posse da terra prometida e mais uma vez vemos a atuação do Seu Anjo:

"Eis que eu envio um Anjo adiante de ti, para que te guarde pelo caminho e te leve ao lugar que tenho preparado. Guarde-te diante dele, e ouve a sua voz, e não te rebeles contra ele, porque não perdoará a vossa transgressão, pois nele está o meu nome. Mas, se diligentemente lhe ouvires a voz e fizeres tudo o que eu disser, então, serei inimigo dos teus inimigos e adversário dos teus adversários. Porque o meu Anjo irá adiante de ti e te levará aos amorreus, aos heteus, aos ferezeus, aos cananeus, aos heveus e aos jebuseus; e eu os destruirei." (Ex 23:20-23).

Ora, ao mencionar que "um" Anjo iria adiante do povo, poderia Deus ter deixado a entender que este Anjo era um simples mensageiro celestial, mas posteriormente na narrativa, Deus o designa como "o Seu Anjo". E mais: O povo teria que se guardar diante do Anjo de Deus (santificação?), não deveria se rebelar contra o Anjo, pois Ele, o Anjo, não perdoaria esse pecado, pois no Anjo estava o Nome de Deus e zelosamente deveria ouvir a voz "do Anjo" e fazer "tudo o que Deus dissesse".

Bem, algumas dessas prerrogativas divinas do Anjo, tais como, conduzir o povo, santificar o povo, não perdoar pecados, poderiam ter sido delegadas por Deus e, no fim das contas, o Anjo, na verdade, não seria Deus, mas um anjo comum. No entanto, com o Anjo de Deus estava o Nome do próprio Deus. Levando em consideração que Deus não compatilha a Sua glória com ninguém, nos parece um tanto quanto insensato imaginar que um simples anjo estivesse levando o Nome do próprio Deus e o SENHOR dissesse para o povo "ouvir a voz do Anjo" e realizar tudo o que eu disser".

Vejam ainda bem mais ao final de Êxodo, para complementar, que Deus ainda confirma que o Seu Anjo estaria conduzindo o povo de Israel (Ex 32:34; 33:2).

EM "NÚMEROS"

Na história de Balaão, podemos observar novamente a atuação do SENHOR e do Anjo do SENHOR. Aparentemente em nenhum outro trecho do Antigo Testamento existe um relato tão extenso e tantas menções ao Anjo do SENHOR e ao SENHOR separadamente em seus papéis. Este trecho é realmente extenso, mas é importante para compreender melhor esta parte do nosso estudo. Vejamos o tão conhecido episódio quando a jumenta de Balaão falou com ele. Aliás, foi um diálogo entre os dois:


"Então, Balaão levantou-se pela manhã, albardou a sua jumenta e partiu com os príncipes de Moabe. Acendeu-se a ira de Deus, por ele se foi, e o Anjo do SENHOR pôs-se-lhe no caminho por adversário. Ora, Balaão ia caminhando, montado na sua jumenta, e dois de seus servos, com ele. Viu, pois, a jumenta o Anjo do SENHOR parado no caminho, com a sua espada desembainhada na mão; pelo que se desviou a jumenta do caminho, indo pelo campo; então, Balaão espancou a jumenta para fazê-la tornar ao caminho. Mas o Anjo do SENHOR pôs-se numa vereda entre as vinhas, havendo muro de um e outro lado. Vendo, pois, a jumenta o Anjo do SENHOR, coseu-se contra o muro e comprimiu contra este o pé de Balaão, por isso, tornou a espancá-la. Então, o Anjo do SENHOR passou mais adiante e pôs-se num lugar estreito, onde não havia caminho para se desviar nem para a direita, nem para a esquerda. Vendo a jumenta o Anjo do SENHOR, deixou-se cair debaixo de Balaão; acendeu-se a ira de Balaão, e espancou a jumenta com a vara. Então, o SENHOR fez falar a jumenta, a qual disse a Balaão: Que te fiz eu, que me espancaste já três vezes? Respondeu Balaão à jumenta: Porque zombaste de mim; tivera eu uma espada na mão e, agora, te mataria. Replicou a jumenta a Balaão: Porventura, não sou a tua jumenta, em que toda a tua vida cavalgaste até hoje? Acaso, tem sido o meu costume fazer assim contigo? Ele respondeu: Não. Então, o SENHOR abriu os olhos a Balaão, ele viu o Anjo do SENHOR, que estava no caminho, com a sua espada desembainhada na mão, pelo que inclinou a cabeça e prostrou-se com o rosto em terra. Então, o Anjo do SENHOR lhe disse: Por que já três vezes espancaste a jumenta? Eis que eu saí como teu adversário, porque o teu caminho é perverso diante de mim; a  jumenta me viu e já três vezes se desviou de diante de mim; na verdade eu, agora, te haveria matado e a ela deixado com vida. Então Balaão disse ao Anjo do SENHOR: Pequei, porque não soube que estavas neste caminho para te opores a mim; agora, se parece mal aos teus olhos, voltarei. Tornou o Anjo do SENHOR a Balaão: Vai-te com estes homens; mas somente aquilo que eu te disser, isso falarás. Assim, Balaão se foi com os príncipes de Balaque." (Nm 22:21-35).

Percebam que no início da narrativa nos é informado que acendeu-se a ira de Deus contra Balaão (v. 22a), mas o Anjo do SENHOR é que se opôs no caminho de Balaão para impedi-lo. O Anjo do SENHOR tem uma participaçao tão fundamental neste episódio que Ele é mencionado NOVE vezes na narrativa (nos vv. 22b, 23, 24, 25, 27, 31, 32, 34, 35).

Percebam também que, apesar de ter sido a ira de Deus que tenha se acendido contra Balaão (v. 22a), pois era o SENHOR Deus que vinha dando instruções a Balaão até neste momento (Nm 22:8-20), foi o Anjo do SENHOR que apareceu para a jumenta (Nm 22:23-27) e foi Ele quem dialogou com Balaão em todos os momentos (vv. 32-35), todavia, foi o SENHOR e não o Anjo do SENHOR que fez a jumenta falar (v. 28) e também abriu os olhos de Balaão para perceber a presença do Anjo do SENHOR (v. 31). Em seguida, no início do capítulo 23, é o SENHOR Deus que retorna a falar com Balaão e instrui-lo e não o Anjo do SENHOR (Nm 23:3-5, 15-16).

Mais uma vez, em uma narrativa vetero-testamentária, aparentemente o Anjo do SENHOR estava tão somente atuando na autoridade do SENHOR, executando uma missão como um simples anjo mensageiro. Todavia, quando Balaão viu o Anjo do SENHOR, inclinou a cabeça e prostrou-se em terra (v. 31), mas o Anjo não o repreendeu por se curvar diante Dele e em seguida disse que o comportamento de Balaão ultimamente vinha sendo perverso diante Dele (v. 32). Ora, por que o Anjo aceitaria adoração e diria que Balaão não O estava agradando com suas atitudes ao invés de dizer que Balaão não estava agradando ao SENHOR se o Anjo do SENHOR não fosse o próprio Deus?

Considerando que o SENHOR estava presente neste epísódio, se Ele tivesse descordado deste comportamento do Anjo, certamente haveria o registro deste fato, mas o Anjo do SENHOR e o SENHOR trabalharam, como temos visto, sempre em harmonia e concordância.

Afinal, que glória é esta que este Anjo compartilha com o SENHOR? Mas, Deus não compartilha de Sua glória com ninguém não é mesmo? (vejam Is 42:8; 48:11).  Ao menos que este "Alguém" seja o próprio Deus, um com Ele em essência, mas distinto como "pessoa" ou  "personalidade".

Extremamente interessante é verificar que, mais adiante, quem atuou em um momento específico da vida de Balaão não foi nem o SENHOR Deus e nem o Anjo do SENHOR, mas foi o Espírito de Deus (Nm 24:2), trazendo as palavras de Deus, Altíssimo e Todo-poderoso ao povo (Nm 24:4,16). Podemos, então, inferir que Balaão teve contato com as três pessoas da Santíssima Trindade? Acreditamos que sim.
 
Ainda em relação ao Anjo de Deus ter conduzido o povo no deserto, temos mais uma menção que o Anjo foi enviado por Deus e tirou o povo do Egito (vejam Números 20:16). No entanto, mais adiante, em Números 23:20-23, é mencionado que foi Deus que os tirou do Egito (comparem com o relato de Atos 7:30-38, confirmando o Antigo Testamento).

Mas, afinal, foi Deus ou o Anjo de Deus quem tirou o povo do Egito então? Isso não é uma contradição? Não, evidentemente. Foram ambos, em co-participação de tarefas das co-existências pessoais dentro da essência única divina (veremos mais adiante detalhes sobre este assunto). Comparem ainda esta verdade com o episódio relatado em Juízes 2:1-5 (sobre o qual veremos na próxima postagem).

CONCLUSÃO DESTA PARTE

Ainda existe outra manifestação de Deus que muitos podem atribuir ao Anjo do SENHOR, mas acreditamos que é incerta e temerosa essa afirmação, pois parece realmente ser uma manifestação do próprio SENHOR. Foi após a época registrada pelo Pentateuco, na época após a morte de Moisés, quando o povo de Israel já havia atravessado o Rio Jordão e estava para destruir a cidade de Jericó. É o episódio narrado em Josué 5:13-15, onde Josué vê um homem com uma espada na mão e questiona se ele é um dos adversários de Israel, mas o homem diz ser o "príncipe do exército do SENHOR". Josué então se prostra diante deste homem e o adora, perguntando quais as instruções ele estava trazendo.

O Príncipe dos Exércitos do SENHOR aceitou a adoração de Josué e, semelhantemente ao episódio de Moisés e a sarça ardente (Ex 3), disse: "Descalça as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é santo". Mesmo que seja um episódio semelhante àquele da sarça, no qual foram o Anjo do SENHOR e o SENHOR que participaram, neste aqui é difícil estabelecermos uma dogmatização. É mais sensato acreditar que é uma teofania realizada pelo próprio SENHOR e não pelo Anjo do SENHOR.

Se ainda existem dúvidas e críticas quanto a afirmação de que o Anjo do Senhor do Antigo Testamento era uma manifestação pré-encarnada da segunda pessoa da Trindade, o Deus Filho, na próxima postagem daremos sequência a este assunto.

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