sábado, 9 de abril de 2011

REGRAS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA (PARTE 01)

COMPREENDENDO A ÉPOCA NA QUAL A BÍBLIA FOI ESCRITA

Como todos sabem, a Bíblia é um livro muito antigo. Seus autores terminaram os seus escritos ainda no final do primeiro século, 500 anos antes da Idade Média, 1400 anos antes de Cristóvão Colombo e 1700 anos antes da fundação da América.

Portanto, a Bíblia foi escrita inicialmente para uma sociedade muito diferente da nossa. Para que a mensagem bíblica chegue até nós de forma pura, de forma corretamente interpretada, precisamos aprender a cobrir 4 intervalos entre a nossa sociedade e o mundo bíblico:

1) Intervalo de tempo; 2) Intervalo de cultura; 3) Intervalo de linguagem; e 4) Intervalo de perspectiva.

Em outras palavras, precisamos estreitar a lacuna de tempo, cultura, linguagem e perspectiva entre as duas épocas. Conhecendo melhor como era a sociedade do tempo bíblico, como eles se comportavam, como era o idioma predominante e como eles encaravam a vida e o mundo que os cercavam, poderemos entender melhor o contexto no qual a Bíblia foi escrita e aplicarmos os seus ensinos de forma muito mais precisa, conhecendo assim melhor qual a vontade de Deus para nós, tendo a garantia de que estaremos certamente obedecendo e agradando a Deus.

AS DIFICULDADES AINDA NÃO RESOLVIDAS DO TEXTO BÍBLICO

Quem pode dizer que sabe explicar a Bíblia toda, o significado de todos os versículos? Mesmo com dificuldades em inúmeros textos, essa realidade não nos dá o direito de imaginar que jamais elas serão sanadas, como ocorreu, por exemplo, muitos casos que a arqueologia provou fatos e povos narrados na Bíblia (p.ex. os heteus), mas que ainda não haviam sido encontrados pela ciência.

Os teólogos precisam ter a mesma perseverança que os cientistas que se dedicam em pesquisas até esclarecer os mistérios da natureza. A Bíblia não pode ser declarada culpada até que se prove o contrário.

O FATO DE ALGUMA DIFICULDADE COM O TEXTO SAGRADO AINDA NÃO TER SIDO RESOLVIDA, NÃO QUER DIZER QUE NUNCA SERÁ

A BÍBLIA INTERPRETA ELA MESMA

O princípio de hermenêutica bíblica (interpretação) que queremos ressaltar agora é que "A Escritura interpreta a Escritura".

PASSAGENS DIFÍCEIS DEVEM SER INTERPRETADAS À LUZ DAS QUE SÃO MAIS CLARAS, OU SEJA, “A ESCRITURA INTERPRETA A ESCRITURA”.

“Algumas passagens das Escrituras são de difícil compreensão. Às vezes a dificuldade é por serem obscuras. Outras vezes a dificuldade está em que uma passagem parece estar ensinando algo contrário ao que uma outra parte da Escritura ensina com clareza.” (Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia, de N. Geisler e Tomas Howe., p. 21).

Por exemplo, na epístola de Tiago, o autor parece afirmar que a salvação é pelas obras (Tg 2:14-26) e estaria em contradição com o apóstolo Paulo, que afirmou claramente que a salvação é pela graça (Rm 4:5; Ef 2:8-9; Tt 3:5-7).

Mas, o texto de Tiago não deve ser interpretado em contradição com o de Paulo que, por sua vez, mencionou a justificação perante Deus (pela fé), ao contrário de Tiago, que mencionou a justificação perante os seres humanos, que não vêem a nossa fé, mas, sim, as nossas obras.

“...Em vista da palavra de Deus ser coerente e plenamente inspirada, a melhor maneira de entender qualquer passagem isolada é interpretar esse texto à luz de toda a Escritura. Em todo o nosso estudo bíblico devemos comparar passagem com passagem, interpretando a parte pelo todo...as passagens menos claras devem ser interpretadas à luz de textos mais claros. Devemos estudar as partes difíceis das Escrituras de acordo com seus claros ensinos...nenhuma grande doutrina deve basear-se em apenas um versículo ou um pequeno conjunto deles...as passagens breves devem ser estudadas à luz de passagens mais longas...quando uma doutrina é ensinada em vários trechos da Bíblia, ela se aplica a todos os tempos e culturas...” (Pr. Dr. James C. Denison no livro “Sete questões cruciais sobre a Bíblia”, pp. 203-204)

A VERDADE BÍBLICA NÃO ESTÁ VINCULADA À LÓGICA HUMANA
 
“...se duas declarações bíblicas parecem contradizer-se em termos humanos, devemos aceitar ambas. A verdade divina não está presa à lógica humana e deve ser muitas vezes expressa declarando duas verdades aparentemente opostas. Isto é chamado de ‘antinomia’ – aceitação de dois princípios que parecem excluir-se mutuamente, mas são independentemente verdadeiros...Em vista da Escritura interpretar a Escritura, todos os princípios bíblicos são verdadeiros, mesmo quando transcendem a nossa lógica humana (...)” (Pr. Dr. James C. Denison no livro “Sete questões cruciais sobre a Bíblia”, p. 205)

Por exemplo, a doutrina da Trindade. Toda a Bíblia apresenta evidências da existência e da operação das chamadas “três pessoas da Trindade”: o Pai, o Filho e o Espírito Santo e inclusive que as três pessoas são Deus e são pessoas distintas entre si. Então haveria três Deuses? Não, isso contraria o ensino de que há somente um único e verdadeiro Deus no universo. Portanto, Deus é um em essência, mas três em personalidades, distintas, mas compartilhando a mesma glória e eternidade.

Da mesma forma temos a doutrina da total soberania de Deus sobre a vida humana e a doutrina do livre-arbítrio (ou melhor: livre escolha ou livre agência). A soberania de Deus não exclui as responsabilidades humanas sobre suas escolhas e todos serão recompensados pelos seus atos.

Da mesma forma existe o ensino das duas naturezas do nosso Redentor. Cristo possui ao mesmo tempo, a natureza divina e a humana, unidas, mas não confundidas e nem misturadas.

Torna-se, então, de primordial importância unir estes ensinos bíblicos básicos em um mesmo contexto doutrinário, já que as Escrituras Sagradas jamais se contradizem entre si. Estes ensinos aparentemente contraditórios não devem ser refutados, mas aceitos.

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