A Bíblia precisa ser interpretada e reconhecida como um todo, ela possui contextos maiores e menores. Um contexto menor e não menos importante (objeto de estudo deste artigo) é o da seqüência textual, pois, todos os versículos possuem uma seqüência lógica e estão ligados entre si. A esmagadora maioria dos livros da Bíblia foi escrita em forma de texto corrido, isto é, sem qualquer divisão textual por versículos ou capítulos (com exceção, por exemplo, do livro dos Salmos onde cada salmo geralmente é um capítulo). Somente após o século XII d.C. é que a Bíblia foi dividida em capítulos e versículos.
"Divisão em Capítulos: A Bíblia em sua forma original é desprovida das divisões de capítulos e versículos. Para facilitar sua leitura e localização de "citações" o Prof. Stephen Langton, no ano de 1227 dC a dividiu em capítulos. Divisão em Versículos: Até o ano de 1551 dC não existia a divisão denominada versículo. Neste ano o Sr. Robert Stephanus chegou a conclusão da necessidade de uma subdivisão e agrupou o texto em versículos [...] É composta de 66 livros, 1.189 capítulos, 31.173 versículos, mais de 773.000 palavras e aproximadamente 3.600.000 letras [...]" (fonte: http://www.vivos.com.br/36.htm).
Alienadas desta verdade ou com más intenções, muitas pessoas utilizam textos bíblicos completamente fora de seus contextos originais, muitas vezes como um pretexto de justificar alguma doutrina contrária à vontade de Deus. O nosso anelo neste artigo é de apenas lançar um pouco de “luz” sobre esta questão dos textos isolados, fora de contexto. Citaremos cinco exemplos (a versão utilizada é a “Almeida, Revista e Atualizada”).
Primeiro: Muitas pessoas advertem: “Cuidado! Maldito o homem que confia no homem” e assim, querem dizer que não podemos confiar em ninguém. Mas, não é verdade. Em Jeremias 17:5, lemos: “Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço, e aparta o seu coração do SENHOR”. O que o texto quer dizer é que quem apenas confia nas capacidades humanas e se afasta de Deus, fracassará em seus planos (cf. vv. 6-10; cf. Sl 118:8-9), mesmo porque a Bíblia apóia a confiança e a amizade entre as pessoas (Pv 15:22; 17:17; 27:5,6,9; Ec 4:9-12).
Segundo: Logo após a miraculosa libertação de Paulo e Silas da prisão de Filipos (At 16:26), o carcereiro, indagou-lhes “...senhores, que devo fazer para que seja salvo?” (v.30). Eles responderam: “Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e tua casa” (v.31). Mas, se a responsabilidade pelos pecados é individual e todas as pessoas precisam se arrepender (Ez 18:4,19-22,30-32; At 17:30-31), como o texto pode afirmar que se o carcereiro cresse em Deus, toda a sua família seria salva? Mas, não é isso o que o texto ensina, pois, a Palavra de Deus foi pregada logo em seguida ao carcereiro e a toda a sua família (v. 32), que ele cuidou dos ferimentos de Paulo e Silas e depois juntamente com a sua família foi batizado (v.33). Mas, eles foram batizados sem crerem? A explicação surge em seguida, pois o carcereiro estava muito feliz, pois, toda a sua família creu em Deus (v.34). A expressão usada foi “e serás salvo” e não “e serão salvos”. As palavras “tu” e “tua casa” devem estar relacionadas tanto à palavra “crê” quanto a “será salvo”: Por exemplo: “Creia tu e serás salvo” e “Creia tua casa e será salva”.
Terceiro: O apóstolo Paulo afirmou: “A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus” (Rm 8:19). Muitos usam este texto para afirmar que as pessoas não crentes aguardam ardentemente a nossa manifestação, o nosso testemunho. Sim, isto pode até acontecer, mas o que Paulo quis dizer é que toda a criação de Deus está sujeita ao pecado e aguarda ardentemente a redenção deste cativeiro quando Cristo voltar e nós, filhos de Deus, co-herdeiros com Cristo, seremos glorificados (vv. 17-23; cf. 2Pe 3:10-13). Multidões de não crentes estão prontas para “aceitar” Jesus, mas é melhor usarmos João 4:34-38 sobre “os campos que estão brancos para a ceifa” como fundamentação.
Quarto: Em 1º Coríntios 2:9, lemos que: “...nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (cf. Is 64:4). Muitos acreditam que essa promessa se refere ao que nos é reservado no Paraíso. Mas, o texto quer dizer que a sabedoria de Deus, outrora oculta, em mistério, mas preordenada desde a eternidade para a nossa glória (vv.6-7), nos é revelada pelo Espírito (v.10) que conhece os mistérios de Deus (v.11; cf. vv. 12-13). Sim, o Paraíso será maravilhoso e indescritível (2Co 12:1-4; Ap 21:1-4). Contudo, este texto fala de uma realidade abençoada para a Igreja de Cristo hoje.
Quinto: O apóstolo Paulo afirmou: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4:13). Muitas pessoas, então, querem justificar que podemos fazer qualquer coisa, pois, Deus nos fortalecerá ou ainda que o verdadeiro crente não passa por dificuldades. Mas, Paulo afirmou que tinha aprendido a viver contente em qualquer situação, seja de humilhação, de honra, de fartura, de fome, abundância e escassez (vv. 11-12) e que Deus em todas estas situações lhe fortalecia (v. 13). Deus nos fortalecerá se estivermos no centro da Sua vontade (Mt 6:10; 1Jo 5:13-15). Se também não formos diligentes, fatalmente passaremos dificuldades (Pv 13:4; 18:9; 20:13; 21:5; 22:26-27; 27:23-24).
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