sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A PRATICIDADE DA DOUTRINA TRINITARIANA (PARTE 01)

INTRODUÇÃO

"Ele não é homem como eu, para que eu lhe responda e nos enfrentemos em juízo. Se tão-somente houvesse alguém para servir de árbitro entre nós, para impor as mãos sobre nós dois, alguém que afastasse de mim a vara de Deus, para que o seu terror não mais me assustasse." (Jó 9:32-35).

Nesta passagem bíblica acima, encontramos Jó se sentindo tão pequeno diante da grandeza e santidade de Deus que suspira, anela por encontrar alguém que se tornasse um mediador entre ele e Deus, pois Jó estava sofrendo muito. Mesmo sendo pecador, ele sabia que aquele sofrimento não era decorrente de algum pecado e desejava que alguém fizesse essa mediação entre ele e Deus, desviando dele então, a Sua ira, que Jó acreditava ser a causadora de todas as provações pelas quais passava, e então, Jó seria justificado diante de Deus por este mediador.

A Bíblia é maravilhosa, de uma certa maneira, vemos aqui, uma espécie de predição da vinda de um mediador entre nós é Deus. E é disso mesmo que vamos tratar. E essa é justamente a maior lição que aprendemos com a doutrina trinitariana.

A MAIOR LIÇÃO PRÁTICA: A MEDIAÇÃO ENTRE DEUS E OS HOMENS

Com a doutrina trinitariana aprendemos a importância da união das naturezas de Cristo para a mediação entre Deus e os homens. Uma das maiores aplicações (a maior de todas, aliás) da doutrina trinitariana é justamente a respeito da mediação entre Deus e os homens que, por sua vez, só se tornou possível graças a encarnação da Segunda Pessoa da Trindade.

Como um Deus perfeitamente santo poderia conceder perdão aos pecadores se Ele fosse constituído de somente uma única distinção pessoal? Como Ele se sacrificaria em nosso lugar se Ele fosse apenas o Pai ou somente o Filho ou somente o Espírito Santo? Neste caso, existiria um abismo intransponível entre o Deus santo e a criatura pecadora, por sua vez condenada à morte sem qualquer chance de redenção por não poder salvar a si mesma.

De acordo com o islamismo, por exemplo, o deus Alá permanece acima da ponte da morte que passa da via terrestre para o paraíso. Embaixo da ponte estreita fica o abismo do inferno. Um homem que teve uma vida 70% boa e 30% má talvez tenha permissão de passar para o paraíso e para a presença de Alá. Um homem com menos virtude, ao contrário, seria empurrado por este mesmo “deus” para o abismo. Conhecendo que nenhum homem é 100% bom e, consequentemente igual a Alá neste caso, este comprometeria a sua “santidade” ao permitir qualquer pessoa entrar no seu paraíso.

Contudo, o nosso Deus, o único e suficiente Deus, é Justo e também o Justificador de nossos pecados (Rm 3:23-26), precisamente porque...

Ele é infinito, absoluto e eterno e tão incalculavelmente superior a nós que existe em Seu Ser desde a eternidade um desdobramento de relações interpessoais que resulta desde a eternidade em três auto-distinções dentro da mesma essência divina, o que O revela como um só Deus, mais que subsiste em três formas pessoais.

Devido à esta pluralidade de pessoas, por causa desta tripersonalidade divina, o Deus Triúno pode ser o Santo Criador, Redentor e Regenerador da humanidade sem, contudo, comprometer a Sua natureza totalmente pura. Deus Pai enviou o Deus Filho para espontaneamente se tornar o Mediador entre Ele e os homens pecadores. Por isso, a Segunda Pessoa da Trindade, como vimos anteriormente, assumiu mais uma natureza, a humana, unindo-se à Sua natureza divina. O próprio Deus, na Pessoa do Filho, tomou a iniciativa de fazer a mediação com os homens.

"Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem.” (1Tm 2:5); “Ora, o mediador não é de um, mas Deus é um” (Gl 3:20); “E a Jesus, o Mediador de Nova Aliança.” (Hb 12:24a).

Semelhantemente como na sociedade humana, deveria haver um mediador que representasse as partes interessadas:

“(...) Não seria possível para Cristo exercer as tarefas de Mediador se ele não possuísse as duas naturezas (...) Deus, em si mesmo, não poderia ser mediador porque ele é uma das partes interessadas; um homem simplesmente não poderia ser mediador pela mesma razão. Então, qual foi a alternativa do Conselho da Redenção para a solução desse impasse? A Trindade decidiu enviar o Filho para que este, com natureza divina, assumisse a natureza humana na encarnação. Com a unio personalis [união pessoal], havendo uma pessoa com duas naturezas, isto é, possuindo a mesma natureza das suas partes interessadas, criou-se a possibilidade do estabelecimento de uma mediação: um Mediador que fosse capaz de compreender e igualmente satisfazer as reivindicações e as necessidades das suas partes interessadas.” (Héber C. Campos, “A união das naturezas do Redentor”, p. 155). [expressão entre colchetes de nossa parte]

O Senhor Jesus deveria ter a natureza humana e vivenciar experiências humanas (com exceção do pecado) para poder substituir os seres humanos, fazendo a propiciação a Deus pelos nossos pecados. Por isso Ele deveria ser não apenas um ser humano real, mas um ser humano ideal. Vejamos algumas passagens bíblicas que trazem esta verdade:

“Pois ele, evidentemente, não socorre a anjos, mas socorre a descendência de Abraão. Por isso mesmo convinha que, em todas as cousas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso, e fiel sumo sacerdote nas cousas referentes a Deus, e para fazer propiciação pelos pecados do povo. Pois naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados” (Hb 2:16-18); “Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa confissão. Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, antes foi ele tentado em todas as cousas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna.” (Hb 4:14-16); “Com efeito nos convinha um sumo sacerdote assim como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores, e feito mais alto do que os céus.” (Hb 7:26; comparem com Hb 12:2-3).

O Senhor Jesus deveria ter a natureza divina também para os seguintes propósitos:

1º) Ser um poderoso Salvador (Jo 17:2);

2º) Apresentar um sacrifício de valor infinito (Mt 1:21; Ap 7:9);

3º) Suportar a ira divina em relação ao pecado de todos os seres humanos que vierem a crer nEle, livrando-os para sempre desta penalidade diante de Deus, salvando-os da morte eterna (At 4:12);

4º) Cumprir o propósito original de Deus de governar a criação (cf. Gn 1:31; Sl 8; Hb 2:8);

5º) Ser o nosso padrão de comportamento (Rm 8:29; 1Jo 2:6; 1Jo 3:2-3; 1Pe 2:21); e

6º) Ser o padrão da totalidade de nossa natureza humana, ou seja, restaurar o ser humano à sua condição inicial de homem perfeito, como no Éden antes da “queda” (1Co 15:49; Fp 3:21).

Sem compreender este assunto, perde-se a oportunidade de conhecer melhor não somente o Salvador, como também o eterno plano de Deus para a redenção da humanidade. Sem compreender este assunto, não visualiza-se até que ponto Deus chegou em Seu infinito amor para conosco no intuito de por em prática o Seu plano de salvação.

Infelizmente para muitos crentes e não crentes a ideia que eles possuem do Salvador e Mediador da humanidade está tão distante do verdadeiro Jesus, o Deus-homem! Eles possuem conceitos influenciados por dogmas gnóstico-humanísticos que distorcem a verdade sobre Cristo e privam a humanidade da tremenda bênção de conhecê-Lo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário