sábado, 11 de dezembro de 2010

A PRATICIDADE DA DOUTRINA TRINITARIANA (PARTE 02)

Além da maior lição prática sobre a doutrina trinitariana que é justamente sobre a mediação entre Deus e os homens, estudaremos nesta postagem mais quatorze lições práticas também muito importantes.

“Nossos termos serão sempre limitados, meras alusões à complexidade do Ser divino, por isso podemos no máximo trabalhar dentro dos limites da Revelação, ter uma compreensão pálida deste mistério, que certamente ultrapassa em muito nossa percepção e, mais ainda, à nossa linguagem, no esforço de expressar o que percebemos; no entanto, se a doutrina da Trindade nos foi revelada nas Escrituras, fazendo parte do desígnio de Deus, tem por certo utilidade para a vida da Igreja; nada na Escritura é ocioso (At 20.27; 2Tm 3.16); ocioso e ingrato é deixar de considerar todo o desígnio de Deus ou tentar ultrapassá-lo (...)” (Hermisten da Costa, “Eu creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo”, pp. 413-414).

Após estudarmos as bases da doutrina trinitariana e a sua imensa importância para o cristianismo, estamos observando como poderíamos aplicá-la em nosso viver, como podemos observar resultados práticos para o nosso cotidiano.

Com o estudo da doutrina trinitariana, nos conscientizamos que Aquele que sofreu e morreu em nosso lugar para nos salvar, o Senhor Jesus Cristo, é o próprio Deus.

Nenhum ser humano pecador como nós poderia suficientemente ter se sacrificado a Deus Pai, somente o Deus-homem. Se Jesus não fosse realmente Deus acabaríamos por duvidar se de fato Ele poderia nos salvar completamente, pois como uma simples criatura, por melhor que fosse, poderia nos salvar? Neste caso, nós nem poderíamos adorá-Lo, pois isso seria idolatria, pois Ele seria apenas um ser criado por Deus, o que retiraria todo o mérito da salvação.

Com a doutrina trinitariana, regozijamos em saber que o Espírito Santo que nos regenerou, que nos direciona e santifica diariamente é o próprio Deus vivendo em nós.

Ele possui todos os atributos divinos. Ele, portanto, não é uma parte, um terço ou uma energia de Deus, mas a Terceira Pessoa da Trindade, totalmente Deus.

"[...] Que bendita esperança é esta: a de termos o Espírito Santo, Deus onipotente, para nos assistir em nossas fraquezas. Aquele que embelezou os céus e a Terra e espalha vida em todo o universo pelo seu poder criador é o mesmo que nos fortalece em nossas debilidades" [...] "O gemido é uma expressão de dor. É a comunicação não verbalizada do sofrimento. O gemido extravasa quando não podemos mais falar. É a expressão pungente e indizível de dor. É o sofrimento tão profundo que não pode ser articulado. É assim que Deus, o Espírito, intercede por nós. Nenhum teólogo jamais conseguiu alcançar as profundezas dessa verdade sublime [...]" (Rev. Hernandes Dias Lopes, livro "Destinados para a glória", p. 30).

Podemos compreender melhor o infinito amor de Deus por nós quando estudamos a Trindade.

Primeiramente entendemos que Deus não é um ser distante e impessoal, mas, sim, que abdicou da Sua glória, veio à Terra pessoalmente para nos salvar e está presente nas nossas vidas de modo direto e pessoal constantemente. Esse fato dá ao cristão trinitarista uma confiança tremenda em Deus. Em segundo lugar, entendemos que Ele não nos salvou porque depende ou precisa de nós, mas porque nos ama infinitamente e deseja ter um relacionamento conosco.

Se Deus não fosse trinitário, seria difícil compreender como Ele poderia ser auto-suficiente e auto-existente, pois não haveria relacionamentos interpessoais em Seu Ser e Ele seria limitado e insuficiente o bastante a ponto de necessitar de Sua criação para com ela relacionar-se. O que ocorre é o contrário, pois o verdadeiro Deus é auto-existente, auto-suficiente e independente e não precisa da Sua criação para se realizar, Ele basta a si mesmo, pois é tripessoal, contudo, nos ama e se importa conosco, mesmo que não mereçamos este amor.

E esse infinito amor existente em Deus só é possível pelo fato dEle ser tripessoal. Se Ele fosse uma unidade simples não haveria em Seu Ser outras distinções pessoais com as quais exercitar este amor (confiram um artigo sobre a concepção de Agostinho sobre a Trindade com uma interessante tabela que analisa compara a diferença entre as doutrinas de um Deus pessoal ou de um Deus tripessoal em http://www.monergismo.com/textos/trindade/Trinitate_Agostinho_Franklin.pdf).

Para complementar, temos as considerações do Pr. Ricardo Barbosa de Sousa (Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília):

“Deus como Trindade transcende o conceito individualístico de pessoa numa forma radical. C. S. Lewis escreveu que ‘aprendemos da doutrina da Santíssima Trindade que alguma coisa análoga à sociedade existe dentro do Ser divino desde toda a eternidade – que Deus é amor, não no sentido da concepção platônica de amor, mas porque nele a reciprocidade concreta de amor existe antes dos mundos, e é, por isso, compartilhada com as criaturas’” (“A Trindade e a Pessoa”, Revista VINDE, Ano 3 – No. 31 – Junho/1998).

Com a doutrina trinitariana percebemos que não temos capacidade de salvar a nós mesmos.

Toda a obra de redenção foi decretada e executada por Deus. Ele amou, criou, elegeu, salva, justifica, regenera, santifica, julgará e glorificará os seres humanos. Nenhum ser humano pode contribuir com absolutamente nada para a sua própria salvação, por mais dinheiro, inteligência e beleza que possua. É evidente que a salvação é pela fé e as pessoas recebem a Cristo espontaneamente em suas vidas, mas até mesmo este acontecimento foi decretado por Deus e não está fora de Seu controle soberano (cf. Ef 2:1-10), o que fere diretamente o orgulho humano. São fatos não muito bem aceitos em nossa sociedade perdida em seus conceitos humanísticos.

A doutrina trinitariana nos ensina humildade e altruísmo.

Todos nós, seres humanos, somos iguais perante Deus, mas devemos considerar as demais pessoas mais do que a nós mesmos, buscar o sucesso e o bem-estar do próximo acima do nosso (Fp 2:3-4).

Na Santíssima Trindade, o Deus Filho apesar de não diminuir a Sua Divindade (Fp 2:5-11), por exemplo, busca a glória do Deus Pai (Jo 8:49-50; 12:25-30; 14:13; 17:1,4,5). O Pai, por Sua vez, sem diminuir a Sua Divindade, glorifica e dá testemunho do Deus Filho (Jo 8:18,54; 11:4; 17:1-5,22,24; comparem com 13:31-32; 2Pe 1:17-18). O Espírito Santo, sem diminuir a Sua Divindade glorifica e dá testemunho acerca do Deus Filho (Jo 15;26; 16:13-14; Hb 3:1-7). Deus Pai dá testemunho do Espírito Santo (Zc 4:6) que por Sua vez nunca dá testemunho de si mesmo (Jo 16:13) e, evidentemente honra ao Pai, pois veio para testemunhar do Filho e glorificá-Lo (Jo 15:26; 16:13-14) e quem assim o faz, também dá a mesma honra ao Pai (cf. Jo 5:22-23; 16:15).

A doutrina da Trindade nos ensina a unidade na diversidade.

Apesar de terem alguns atributos específicos na economia trinitariana, as pessoas da Trindade possuem unidade de natureza e propósito. Será que a Igreja atualmente é assim também? Mesmo tendo dons diferentes, temos a mesma natureza humana e somos irmãos em Cristo, mas será que compartilhamos os mesmos propósitos? (cf. 1Co 1:10).

Sobre este ensino, a Bíblia de Estudos de Genebra nos fornece as seguintes considerações:

“Um e Três: Trindade: (...) Além do mais, conhecer essa doutrina estabelece fé pessoal e enriquece não menos o forte senso de unidade com outros cristãos” (Fonte: Nota Teológica, página 837 - http://www.monergismo.com/).

Com a doutrina trinitariana aprendemos a respeitar outras maneiras de ser e agir e a não sermos preconceituosos.

Devemos amar alguém mesmo que não a compreendamos totalmente, mesmo que esta pessoa seja muito diferente de nós e tenha uma maneira de agir diferente da nossa. Devemos também respeitar as diferenças existentes entre as pessoas, não apenas de comportamento, mas sociais, raciais e intelectuais.

Muito mais ainda estas verdades se aplicam em nosso relacionamento com Deus. Devemos amá-Lo mesmo sem compreendê-Lo completamente, mesmo Ele sendo muito, muito diferente de nós e infinitamente mais elevado do que a raça humana, em Sua maneira eterna e imutável de agir e de existir. Existe uma tendência humana de rejeitar algo ou alguém que seja diferente dos padrões convencionais já estabelecidos e discriminar alguém que se comporte de maneira diferente daquela que acreditamos ser um padrão imutável de conduta.

Com a aceitação e estudo da doutrina trinitariana, anula-se qualquer dogma ou conceito pagão. A doutrina trinitariana também confirma e fortalece as demais doutrinas cristãs diante dos ataques das seitas e heresias.

Anula-se até mesmo heresias que estejam influenciando as igrejas evangélicas, sejam eles sobre a Trindade e Sua obra, sejam sobre doutrinas derivadas (e não menos importantes) da trinitariana, como a soteriologia (da salvação), hamartiologia (do pecado), entre outras (como as da eleição e justificação).

A doutrina trinitariana nos revela que muitas vezes estamos atribuindo importância exagerada a muitas questões do nosso cotidiano.

Por exemplo, as diversas provações que nos atingem. Estas provações são menos do que nada diante de Deus. Isso não quer dizer que Ele não se preocupe conosco. Devemos confiar e esperar nEle, Seu poder e amor por nós são infinitamente superiores a qualquer situação difícil que enfrentemos. Se um problema parecer insolúvel e de proporções cada vez maiores para qualquer um de nós, devemos nos lembrar do tamanho ilimitado do poder e do amor do nosso Deus.

Se Ele foi capaz de criar (a partir do nada absoluto) todo o universo, se Ele foi capaz de dirigir toda a Sua criação desde o início (e sempre será) e se Ele foi capaz de vir a este mundo, assumir a forma humana, passar por tantas dificuldades e até mesmo morrer pelos Seus eleitos, resolver os nossos problemas realmente é uma tarefa extremamente simples para Ele. A certeza da vida eterna com Deus dissipa qualquer preocupação quanto ao nosso futuro, quando as tristezas, as lágrimas e o luto deixarão de existir (Ap 21:4).

"[...] Como Deus é por nós, todos os nossos inimigo nada significam, poi quem pode lutar contra Deus e prevalecer? Quem pode frustrar os desígnios de Deus. Warren Wiersbe diz que Deus é por nós, e provou isto dando-nos o Filho (Rm 8.32). O Filho é por nós, e prova isso intercedendo por nós junto ao Pai (Rm 8.34). O Espírito Santo é por nós, assistindo-nos em nossa fraqueza e intercedendo por nós com gemidos inexprimíveis (Rm 8.26). Deus está trabalhando para que todas as coias contribuam para o nosso bem (Rm 8.20). Em sua pessoa e em sua providência, Deus é por nós [...]" (Rev. Hernandes Dias Lopes, livro "Destinados para a glória", p. 98).

A doutrina trinitariana demonstra como Deus é soberano sobre tudo.

Deus é soberano sobre tudo, sobre a nossa vida, sobre toda a criação e inclusive sobre anjos e demônios. Muitos setores evangélicos estão transmitindo conceitos equivocados no ensino sobre batalha espiritual (que além de necessário, é bíblico), quando empregam uma ênfase exacerbada ao poder do diabo e seus anjos malignos. Muitos crentes, então, passam a acreditar que Deus e o diabo dividem o poder do universo em duas partes, uma boa e uma má, como se Deus tivesse apenas 50% de Sua soberania (!!).

Conhecendo melhor o Ser de Deus e Sua essência trinitária, infinita, eterna, absoluta e imutável, bem como a união da Segunda Pessoa com a natureza humana, percebemos como os anjos caídos e até mesmo os anjos bons são tão pequenos diante do poder de Deus. Tanto no mundo material quanto espiritual, eles só podem atuar dentro da permissão de Deus.

A doutrina trinitariana não objetiva confundir as nossas mentes, mas trazer clareza e confiança sobre o Ser de Deus e Sua obra.

Além disso, ela vem libertar as nossas mentes de qualquer preconceito ou barreira que porventura exista contra o Espírito Santo e como deve ser a nossa livre adoração a Deus. A doutrina trinitariana não objetiva também nos afastar da fé que temos batalhado até hoje (ela não é uma ideologia nova como muitos podem asseverar). Pelo contrário, o seu estudo e compreensão redundam em uma maior aproximação do próprio Deus e de todo o arcabouço doutrinário cristão.

Com a doutrina trinitariana aprendemos com o senso de organização divino.

Deus em Suas perfeições é perfeitamente organizado. Mesmo com igualdade absoluta de essência, na economia trinitariana existem funções pelas quais cada pessoa da Trindade é responsável e as cumpre ou cumprirá cabalmente. E mais, nessa organização trinitária, o Filho e o Espírito Santo respeitam integralmente a subordinação funcional (e não na essência) existente em relação ao Pai. Assim deve ser em nossos relacionamentos. Deus colocou em nossas vidas pessoas para nos guiar, comandar e ensinar que devem ser obedecidas e honradas (Rm 13:1-5; 1Tm 2:1-2; Tt 2:9-10; 3:1-2; Hb 13:17; 1Pe 3:11-19).

Com a doutrina trinitariana compreendemos que Deus sempre possui a iniciativa exemplar.

Ele nunca exige de nós algum comportamento que não tenha desde sempre. Devemos nos amar, porque Ele nos amou primeiro e é amor desde a eternidade (Rm 5:8; 1Jo 4:19,21), porque Ele expressa amor em Suas relações interpessoais dentro do Seu Ser. Devemos ser santos porque Ele é e sempre será santo (1Pe 1:15). Devemos ser humildes porque existe humildade em Seu Ser (Jo 13:13-17; Fp 2:5-11). Devemos ser obedientes porque Cristo foi obediente até a morte (Fp 2:8).

Devemos perdoar as pessoas porque Deus nos perdoou (Cl 3:13). Devemos entender a situação que alguém esteja passando como se fosse conosco (empatia) porque Deus fez isso conosco, encarnando e morrendo na cruz para nos salvar (1Pe 3:18; comparem com Rm 15:1-7). Devemos seguir o exemplo do Criador. Devemos primeiramente dar o exemplo antes de exigir alguma coisa de alguém. E mais, Deus jamais permite alguma dificuldade em nossas vidas sem que providencie os meios necessários para lidarmos com a situação e vencermos (1Co 10:12-13). Assim, também deve ser o nosso procedimento. Não devemos exigir alguma coisa de alguém que vá além das forças desta pessoa ou que pelo menos não tenhamos providenciado recursos para ela executar esta determinada tarefa.

Com a doutrina trinitariana aprendemos a manter as nossas distinções particulares mesmo inseridos em um ambiente ou organização social que desfruta dos mesmos propósitos e afinidades.

Em outras palavras, mesmo vivendo em família, trabalho, estudos e a igreja, onde devemos manter a mesma visão e a mesma missão de cada contexto, devemos ser autênticos e leais à nossa maneira de ser e agir e respeitar as características das demais pessoas. É assim na Santíssima Trindade: O Pai, o Filho e o Espírito Santo são o mesmo Deus, desfrutando da mesma essência, inclusive existindo misteriosamente um no outro, mas sempre mantendo Suas distinções pessoais e respeitando o modo de ser de cada um.

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