domingo, 5 de dezembro de 2010

A RELEVÂNCIA DA DOUTRINA TRINITARIANA

“A acusação de que a doutrina da Trindade não se conforma com a lógica ou a razão também é descabida, pois a mente humana não pode apreender tudo sobre Deus. É impossível que o relativo entenda com precisão o Ser absoluto, que a criatura desvenda todos os mistérios e segredos do Criador. Isso é pedir demais para míseros mortais (V. Rm 11.33; 1Co 2.11; Jó 11.7; Is 40.28)” (Aldo Menezes, livreto “As Testemunhas de Jeová e a Trindade”, p. 42).

Realmente é esperar demais de nós, limitados e falhos seres humanos, compreender totalmente os mistérios insondáveis do nosso Deus absoluto, eterno, único e infinito. Contudo, a Bíblia não revelaria a essência e a operação triúna de Deus sem algum propósito construtivo ou simplesmente no intuito de nos confundir.

A Igreja de Cristo (talvez algumas denominações evangélicas) deve, por sua vez, urgentemente resgatar a importância do estudo da Santíssima Trindade.

Como afirmamos na apresentação do nosso estudo, os nossos principais objetivos são o de:

1) Resgatar a consciência entre os cristãos da tremenda relevância do estudo da Trindade;

2) Apresentar a aplicabilidade desta doutrina para as nossas vidas; e

3) Nos aproximarmos um pouco mais da infinita e insondável glória de Deus através da busca de uma íntima comunhão com Ele. Sem uma melhor compreensão e aplicação do que Deus representa para nós não podemos servir-Lhe de uma maneira adequada.

Para compreender melhor a Trindade, devemos analisar o plano eterno de Deus para a redenção da humanidade. Deus Pai permitiu através do Seu eterno decreto que o ser humano, em sua liberdade de escolha, O desobedecesse e caísse em pecado e fosse salvo do poder deste pecado e da morte pela fé em Seu Filho, Jesus Cristo e Seu sacrifício vicário e espontâneo, e em consequência, recebesse o revestimento de poder, a regeneração, e a santificação através do Deus Espírito Santo. Em outras palavras, a história da humanidade, desde a criação, queda, redenção e glorificação é a imagem exata da manifestação triúna de Deus.

Conforme o teólogo Charles Hodge afirmou:

“(...) A verdade visa a santidade. Deus não torna notórios seu ser e atributos com o fim de ensinar ciência aos homens, mas para levá-los a um conhecimento salvífico do próprio Deus (...)” (“Teologia Sistemática”, p. 333)

E com razão ele afirmou isso. A verdade da revelação divina da Santíssima Trindade visa a salvação e a santidade dos homens. Afinal, Deus não torna evidentes o Seu Ser e Seus atributos com o intuito de ensinar um conhecimento meramente intelectualizado da Divindade, mas para nos levar a um conhecimento da salvação que existe no próprio Deus. O plano de salvação da humanidade constitui um contexto harmonioso, uma obra de Deus com princípio, meio e fim, onde podemos destacar três grandes momentos, que são a criação, a redenção e a regeneração, os quais explicitam uma causa tríplice em Deus: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Todo o plano de salvação não deve ser visto de maneira segmentada, mas é, sim, uma operação globalizada da Santíssima Trindade: decretada pelo Pai, comprada pelo Filho e aplicada pelo Espírito Santo.

Observemos as esclarecedoras considerações de Arthur W. Pink em sua obra “Deus é Soberano” acerca desta questão:

“O propósito eterno do Pai na eleição, o desígnio limitado na morte do Filho e o escopo restrito das operações do Espírito Santo estão em perfeita sintonia. Se o Pai escolheu certas pessoas antes da fundação do mundo e as deu ao Filho, e se foi em favor delas que Cristo se deu como resgate, então o Espírito Santo não está agora esperando poder conduzir a Cristo o mundo inteiro. A missão do Espírito Santo no mundo atual é aplicar os benefícios do sacrifício redentor operado por Cristo.” (p. 75) “Cada uma das três pessoas da Santíssima Trindade desempenha um papel em nossa salvação: o Pai, quanto à predestinação; o Filho, quanto à propiciação; e o Espírito Santo, quanto à regeneração. O Pai nos escolheu; o Filho morreu por nós; o Espírito Santo nos vivifica. O Pai se preocupou conosco; o Filho derramou seu sangue por nós; e o Espírito Santo realiza sua obra em nós.” (p. 76).

Hermisten da Costa também considerou sobre esta questão:

"As Escrituras Sagradas nos ensinam que o Deus que nos chama à santidade está comprometido com a nossa santificação. A Santíssima Trindade opera eficazmente em nós para que sejamos santos. Por isso, fundamentamos na Palavra de Deus, podemos dizer que o Deus Trino é o autor de nossa santificação (...)” (“O Pai Nosso”, p. 228).

O Pai, o Filho e o Espírito Santo são em Sua eterna e indivisível unidade e em Suas distinções pessoais a plenitude da revelação de Deus na Bíblia. A doutrina da Trindade é o resumo da religião genuinamente cristã, sem ela nenhum dogma da Igreja pode ser sustentado.

Se nos afastarmos de qualquer um dos pontos doutrinários da Trindade, permitiremos a abertura de uma perigosa oportunidade para a influência sutil de heresias diversas, acarretando, assim, a uma vida de ilusão religiosa. E, como na figura 54, logo abaixo, a doutrina trinitariana é o sólido alicerce que sustenta toda a revelação bíblica. Todas as demais doutrinas cristãs, de um modo ou de outro, derivam da doutrina trinitariana.


Como Bavinck afirmou:

“(...) O artigo sobre a santa Trindade é o coração e o núcleo de nossa confissão, a marca registrada de nossa religião, o prazer e o conforto de todos aqueles que verdadeiramente crêem em Cristo. Essa confissão foi a âncora na guerra de tendências através dos séculos. A confissão da santa Trindade é a pérola preciosa que foi confiada à custódia da Igreja Cristã (...)” (“Teologia Sistemática”, p. 156).

A doutrina da Trindade deve ser compreendida e defendida, mas, não se transformar em ponto de árdua batalha verbal e até corporal. É preciso compreensão e amor entre as pessoas e para com Deus, pois estes são os grandes mandamentos (Mt 22:37-40).

O ponto principal para a salvação é a fé em Jesus (Ef 2:8-9) e não compreender a doutrina trinitariana. Este é outro ponto importante que deve ser ressaltado: o fato de não compreendermos totalmente a Trindade é uma situação normal diante da nossa limitação e da grandeza infinita de Deus e não quer dizer que perderemos a salvação ou ainda que, por este fato, Deus não nos amará da mesma forma.

Por outro lado, alguém que não acredita na divindade do Senhor Jesus e do Espírito Santo dificilmente poderá ser considerado salvo. Como alguém que afirma ser cristão pode afirmar: "Eu sou cristão, mas não acredito e nem aceito que Jesus é o meu Deus. Ele é meu Senhor e Salvador, mas é apenas um homem comum que foi iluminado por Deus"?

O ponto que desejamos enfatizar é a diferença entre compreender e acreditar. Uma pessoa verdadeiramente salva em Cristo pode até não compreender a Trindade, mas com certeza acredita firmemente nela, pois ela é Deus.

Para efeito de mais uma comparação, a doutrina da Trindade, semelhantemente ao que afirmamos sobre ela ser a base da fé cristã, é a espinha dorsal do cristianismo, onde as doutrinas provenientes dela são as vértebras que não podem ser “fraturadas” para não comprometerem o “funcionamento” geral do cristianismo, mas a doutrina da salvação é o coração da religião cristã, sem a cruz de Cristo, o cristianismo não existe, ele perde o sentido de existir.

Na próxima postagem começaremos a estudar detalhadamente a praticidade da doutrina trinitariana para a nossa vida.

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