sexta-feira, 29 de outubro de 2010

DEUS E AS SUAS TRÊS DISTINÇÕES PESSOAIS

JESUS CRISTO É DEUS, MAS É DISTINTO DO PAI CELESTE

Os seguintes itens, entre outros, nos auxiliarão a observar esta distinção entre Deus Pai e Deus Filho:

1º) Deus Pai falou em vários momentos quando Cristo estava aqui na Terra:

"Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.” (Mt 3:16-17; comparem com Mc 1:9-11; Lc 3:21-22; Jo 1:29-34). “Falava ele ainda [Pedro], quando uma nuvem luminosa os envolveu; e eis, vindo da nuvem, uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo: a ele ouvi.” (Mt 17:5; cf. 2Pe 1:17-18). [citação entre colchetes de minha parte]. “Agora está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com este propósito vim para esta hora. Pai, glorifica o teu nome. Então veio uma voz do céu: Eu já o glorifiquei, e ainda o glorificarei.” (Jo 12:27-28).

2º) Além destas, em diversas outras ocasiões, apenas Jesus se dirigiu ao Pai, semelhantemente ao versículo acima, que acabamos de citar:

“Por aquele tempo exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.” (Mt 11:25-26; comparem com Lc 10:21; cf. Mc 1:35; Lc 5:16; 6:12; 9:28; 11:1; 22:39-44; 23:34,46; Jo 11:41; 17:17).

3º) Quando Jesus esteve na Terra, o Pai esteve nos céus, mesmo que isso seja apenas uma forma para nós compreerdemos melhor a lições de Cristo, pois sabemos que o Pai estava sempre com Cristo mesmo que também o Pai estivesse no Céu, pois tanto o Pai, como o Filho e o Espírito são onipresentes, pois Deus é onipresente:

“Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.” (Mt 5:16; comparem com Mt 5:48; 6:9).

4º) Jesus disse que poderia nos confessar ou nos negar diante do Pai, dependendo de nossa atitude para com Ele, Cristo:

“Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai que está nos céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus.” (Mt 10:32-33).

5º) Deus Pai é Pai de Jesus e Jesus não é Pai de si mesmo:

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo...” (Ef 1:3a). “A graça, a misericórdia e a paz, da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai, serão conosco em verdade e amor.” (2Jo 3).

6º) Jesus, além de um Ser espiritual, se fez também carne e sangue, estado que permaneceu mesmo depois da ressurreição, enquanto o Pai e o Espírito Santo são seres "apenas" espirituais:

“Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e verificai, porque um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho.” (Lc 24:39). “Mas vem a hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.” (Jo 4:23-24).  “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós.” (Jo 14:16-17; comparem com Jo 14:,26; 15:26; 16:7,15; 19:34).

E mais: 7º) Jesus veio fazer a vontade do Pai e não a Sua (Jo 5:30; 6:38);  8º) Jesus era amado pelo Pai (Jo 10:17-18);  9º) Jesus é o único caminho para o Pai (Jo 14:6); e 10º) Jesus disse “tanto a mim como a meu Pai” (Jo 15:24).

É de suma importância salientarmos que a expressão “Filho de Deus” em nenhum momento significa que Jesus foi criado por Deus Pai ou gerado a partir dEle semelhantemente ao que ocorre a um filho humano comum. Evidentemente se pensássemos assim, seríamos logicamente obrigados a admitir que Jesus, da mesma forma que possui um Pai Celeste, também deveria possuir uma “Mãe Celeste” (!!), o que seria além de um absurdo, uma heresia.  Jesus Cristo não é filho de Deus Pai literalmente falando, no sentido de paternidade que temos em nossa mente humana. Mesmo que seja óbvio que um filho terreno sempre é mais novo que seu pai terreno, como Deus Pai sendo imutável, eterno e infinito poderia ter tido um filho terreno, limitado e mortal, já que neste caso este seu suposto filho herdaria Suas características? Se assim fosse, como explicaríamos que Deus Pai e Deus Filho são igualmente eternos?

Devemos tomar muita cautela com nossas comparações limitadas e falhas para não termos uma visão equivocada de Deus. Ressaltamos, portanto, que nem tudo o que se aplica aos pais e filhos terrenos pode ser aplicado ao Pai Celeste e ao Seu Filho. Apesar que como o filho humano não é menos humano do que seu pai, o Filho Divino não é menos Deus do que o Pai Divino.

Ressaltamos também que sempre que a expressão “Filho de Deus” surge na Bíblia, na verdade ela está de forma abreviada, pois, ela significa Filho de Deus Pai ou Filho do Pai (cf. 2Jo 3). É uma questão de lógica: já que Jesus é Filho de Deus, a própria expressão “Filho” já expressa que “Deus”, neste caso, é “Deus Pai”, pois todo filho tem um pai.  Jesus Cristo é Filho de Deus Pai no sentido de possuir a mesma essência, a mesma natureza e tendo sido gerado não no tempo e no espaço como nós, mas na eternidade. Ele é Filho devido a uma ordem de precedência na eternidade. É complicado para compreender mais uma vez. Este é mais um mistério dentro da doutrina trinitariana, pois compreender uma realidade baseada ilimitadamente na eternidade infinita é impossível para seres limitados, finitos e mortais.

Alguém gerado na eternidade, na verdade, não tem início e nem fim. A expressão "gerado" é um pobre e limitado recurso didático teológico para tentarmos compreender um pouco da distinção pessoal entre Deus Pai e Deus Filho. Posteriormente iremos considerar mais detidamente essa situação, inclusive em relação ao Espírito Santo para com o Pai e o Filho. Ademais, Cristo é a imagem de Deus Pai, que é invisível (Cl 1:15; Jo 1:18), o resplendor da glória e a expressão exata do Seu Ser (Hb 1:1-3a). Nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade (Cl 2:8-9). A expressão “filho de” é um recurso de linguagem também usado na Bíblia em Efésios 2:2 para os “filhos da desobediência”, que possuem a mesma natureza da desobediência, isto é, são desobedientes.

Também a expressão “Filho do homem” (cf. Mt 19:28; Lc 5:24) não quer dizer que Jesus era "filho de um homem". Afinal, Ele não teve um pai biológico. Segundo alguns estudiosos, ela quer dizer que Jesus também possui a natureza humana em Seu Ser, mas para outros estudiosos ela também aponta para a Sua divindade. Esse é um tema que poderemos abordar futuramente. Sabemos, no entanto, que os judeus certamente entendiam que Jesus afirmava ser “Filho” de Deus em um sentido metafísico (que transcende a natureza física), pois consideravam blasfêmia o modo como Ele falava de Si mesmo como o Filho de Deus (Mt 26:63; Jo 5:18; 10:36).

Observemos algumas considerações de Hermisten da Costa sobre esta questão:

“(...) O que dificulta nossa compreensão é o fato de entendermos sempre a filiação e a paternidade como tendo um princípio; ou seja, sou pai somente a partir do momento que tenho um filho, e obviamente um filho é filho porque tem um pai: A paternidade está para a filiação como esta para aquela. Ambos (pai e filho) são o que são, só enquanto são um para o outro. Todavia, há certas expressões empregadas pela própria Bíblia que se constituem numa forma figurada de falar: Tiago e João são chamados ‘filhos do trovão’ (Mc 3.17); José é chamado ‘filho da exortação ou consolação’ (At 4.36); Jesus fala de ‘filho da paz’ (Lc 10.6); Paulo fala dos ‘filhos da luz’ (Ef 5.8) etc. Estes exemplos não significam que um trovão gerou Tiago e João, mas, sim, que eles procediam como tal (vd. Lc 9.54); o mesmo se aplica a Barnabé, que era de fato um consolador (vd. At 9.26, 27) e exortador (At 11.23). De semelhante modo, os filhos da luz e da paz são aqueles que procuram viver em paz (Rm 12.18) e refletir a luz de Cristo em seu comportamento diário (Jo 8.12; Mt 5.14-16).” (Livro “Eu creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo”, p. 254).

Jesus não é Filho de Deus assim como nós somos. Essa relação de Cristo com o Pai é única. Por isso na chamada oração dominical Ele ensinou aos discípulos “Vós orareis assim: Pai nosso”. Ele não disse “Nós oraremos assim” (cf. Mt 6:9).

“Quando falamos da eternidade do Filho, queremos dizer também de sua eternidade como Filho; a relação filial entre o Deus Filho e o Deus Pai sempre foi e sempre será assim; não foi forjada, criada ou assumida. Não houve na eternidade nenhum ‘momento’ em que o Filho não fosse Filho, o Pai não fosse Pai e o Espírito não fosse Espírito. A Trindade coexiste eternamente como tal.” [p. 254]. “É oportuno lembrar que, quando a Bíblia nos fala de Jesus Cristo como primogênito de Deus, obviamente não se refere à sua suposta criação, mas, sim, à sua honra. A primogenitura também é usada desta forma, e no caso de Jesus Cristo indica sua prioridade, supremacia, honra, herança e governo (Ex 4.22; Sl 89.27; Jr 31.9; Rm 8.29; Cl 1.15-18; Hb 1.1, 2). Por isso, os crentes são chamados ‘primogênitos’, porque alcançaram a primogenitura em Cristo (Hb 12.23). Os crentes em Cristo uniram-se a uma família de primogênitos, da qual Cristo é o Filho maior e eterno (Hb 1.5-8), sendo o modelo do que seremos (Rm 8.29).” [p. 255]; (Hermisten da Costa; Livro “Eu creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo”).

O ESPÍRITO SANTO É DEUS, MAS É DISTINTO DE JESUS CRISTO E DE DEUS PAI

Os seguintes itens nos auxiliarão a observar esta distinção:

1º) O Espírito Santo é um outro Consolador, procedente do Pai e do Filho:

"Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.” (Jo 14:26; comparem com Lc 24:49; Jo 5:32; 14:16-17; 15:26; 16:7,13).

2º) Era necessário que Jesus voltasse para o Pai, para que o Espírito Santo viesse:

“Mas eu digo a verdade: Convém-vos que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei.” (Jo 16:7; comparem com Jo 14:16,26).

3º) O Filho fora enviado antes que o Espírito Santo viesse:

“Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio. E, havendo dito isto, soprou sobre eles, e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo.” (Jo 20:21-22; cf. Jo 3:16; At 1:7-8; 2:1-4).

4º) O Espírito Santo deu ordens aos apóstolos, não foi Jesus e nem o Deus Pai:

“E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me agora a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado.” (At 13:2; comparem com At 10:19-20).

E mais:  5º) O Espírito Santo não veio falar de si mesmo ou glorificar a si mesmo, mas, sim, a Jesus (Jo 16:7-15); e 6º) A descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes foi a prova de que Jesus havia chegado ao Céu, onde assentou-se à destra do Deus Pai (Jo 7:39; At 2:33-34).

Portanto, Deus Pai, em Sua natureza, é espírito (Jo 4:24) e Ele é santo (Is 9:3), mas o Espírito Santo é claramente distinto dEle como espírito. Deus é um espírito por natureza, mas em Sua essência eterna e indivisível subsiste o Espírito, que sonda as profundezas do Ser de Deus (1Co 2:11). Mas apesar de ser distinto do Pai e também do Filho, o Espírito Santo mantém o mais íntimo relacionamento com ambos (como observaremos mais adiante).

CONCLUSÕES DESTA PARTE

À vista de tudo o que observamos como evidências bíblicas da Santíssima Trindade, desejamos enfatizar mais uma vez a importância de interpretarmos corretamente as Escrituras para compreendermos a doutrina trinitariana.

À título de recapitulação, observamos até aqui as evidências da existência e da operação das chamadas “três pessoas da Trindade”: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, tanto no Antigo como no Novo Testamento e demonstramos também as evidências de que as três pessoas são Deus e que, inclusive, são pessoas distintas entre si.

Poderia, no entanto, surgir uma interpretação equivocada asseverando que partindo da premissa de que cada pessoa da Trindade é Deus, então haveria três deuses, o que contrariaria o ensino de que há somente um único e verdadeiro Deus no universo. Torna-se, então, de primordial importância unir dois ensinos bíblicos básicos em um mesmo contexto doutrinário, já que as Escrituras Sagradas jamais se contradizem entre si:

Primeiramente, há somente um Deus; e em segundo lugar, Deus subsiste em três formas pessoais igualmente eternas e gloriosas.

Estes dois ensinos aparentemente contraditórios não devem ser refutados, mas aceitos. E para reforçar esta declaração de que devemos aceitar estes dois ensinos bíblicos aparentemente contraditórios, lembremos de um dos princípios de interpretação bíblica que estudamos anteriormente: a antinomia:

“Se duas declarações bíblicas parecem contradizer-se em termos humanos, devemos aceitar ambas. A verdade divina não está presa à lógica humana e deve ser muitas vezes expressa declarando duas verdades aparentemente opostas. Isto é chamado de ‘antinomia’ – aceitação de dois princípios que parecem excluir-se mutuamente, mas são independentemente verdadeiros. (...) Em vista da Escritura interpretar a Escritura, todos os princípios bíblicos são verdadeiros, mesmo quanto transcendem a nossa lógica humana (...)” (Dr. James C. Denison, “Sete questões cruciais sobre a Bíblia”, pp. 203-204).

Portanto, não nos esqueçamos: a Palavra de Deus não está vinculada ou submetida à lógica humana. Apenas pelo fato de que duas ou mais verdades da Bíblia parecem a princípio contradizer-se, não devemos perder a confiabilidade na perfeição bíblica (como vimos anteriormente). Já estudamos anteriormente também que Deus e Seus pensamentos e palavras estão em uma posição muito, muito além das limitadas conjecturas humanas.

Várias outras doutrinas bíblicas precisam do apoio da ANTINOMIA para as compreendermos melhor. Não é muito fácil. Aliás, muitas vezes é complicado.

É o caso da conciliação entre a total soberania de Deus sobre o querer e o realizar dos seres humanos, que por sua vez sempre são responsáveis pelas suas decisões tomadas por sua livre escolha.

É o caso também da união das naturezas divina e humana de Cristo, que possui 100% de ambas ao mesmo tempo, unidas, mas não misturadas ou confundidas.

É o caso também da realidade do Reino de Deus. Cristo, ao habitar entre nós, "inaugurou" o Reino de Deus entre nós, mas o Reino ainda não se concretizou plenamente, o que ocorrerá apenas na segunda vinda do Senhor. Nesse sentido, vivemos de certa maneira ao mesmo tempo no "agora" e "ainda não".

Finalmente, por exemplo, é o caso da destruição da morte. Cristo venceu a morte ao ressuscitar em poder, mas, apesar disso, ainda morremos. Isso se deve ao fato de que Cristo, ao ressuscitar, nos permitiu (por crermos Nele) ser ressuscitados em glória semelhantemente como Ele foi, e isso deu sentido a nossa fé, fé no Senhor que vive para sempre, que nos ressuscitará e que não foi derrotado pela morte. Mas, a morte ainda é o último inimigo a ser definitivamente derrotado, o que ocorrerá também na segunda vinda do Senhor.

Vamos encerrar, então, esta parte, repetindo o ensino bíblico sobre a unidade de Deus e unindo-o ao ensino sobre as três pessoas da Divindade que acabamos de estudar.

Portanto, Deus é uma única essência que subsiste em três formas pessoais.

Jamais pensemos que adoramos três deuses ou que adoramos três pessoas que um dia se tornaram divinas (!!). Deus é eternamente a Trindade. Cada pessoa da Trindade é totalmente Deus e totalmente digna de glória e adoração. Além disso, Deus não compartilha a Sua glória com ninguém, como já asseveramos diversas vezes (Is 42:8; 48:11).

Que o Deus triúno seja glorificado para sempre!! Amém.

____________________________________
Nota: Os itens numerados desta parte que foram utilizados para exemplificar as distinções pessoais do Ser de Deus foram inspirados na edição da Revista Defesa da Fé de janeiro de 2002, pp. 48-49; as transcrições dos versículos são de minha parte.

Como complementação do nosso estudo, acessem:

Nenhum comentário:

Postar um comentário