domingo, 10 de outubro de 2010

A TRINDADE NO ANTIGO TESTAMENTO (PARTE FINAL)

Antes de apresentarmos as evidências neo-testamentárias da Santíssima Trindade, apresentaremos nesta postagem passagens do Antigo Testamento que apresentam claramente as três pessoas da Divindade na mesma narrativa, desde que o texto seja analisado à luz do Novo Testamento. 

São poucos textos vetero-testamentários que indicam as três pessoas em um mesmo episódio ou contexto, geralmente, na esmagadora maioria das vezes, a menção é ao "SENHOR" e ao "Anjo do SENHOR" ou outras vezes a menção é ao "SENHOR" e ao "Espírito do SENHOR", mas apenas estas passagens que veremos mostram claramente as três pessoas: o SENHOR (Deus e Pai), o Anjo do SENHOR (o Filho pré-encarnado) e o Espírito do SENHOR (Espírito Santo).

São elas:

Na vida de Balaão:

Na história de Balaão, podemos observar a atuação do SENHOR, do Anjo do SENHOR e do Espírito de Deus.

"Então, Balaão levantou-se pela manhã, albardou a sua jumenta e partiu com os príncipes de Moabe. [...] Vendo a jumenta o Anjo do SENHOR, deixou-se cair debaixo de Balaão; acendeu-se a ira de Balaão, e espancou a jumenta com a vara. Então, o SENHOR fez falar a jumenta, a qual disse a Balaão: Que te fiz eu, que me espancaste já três vezes? Respondeu Balaão à jumenta: Porque zombaste de mim; tivera eu uma espada na mão e, agora, te mataria. Replicou a jumenta a Balaão: Porventura, não sou a tua jumenta, em que toda a tua vida cavalgaste até hoje? Acaso, tem sido o meu costume fazer assim contigo? Ele respondeu: Não. Então, o SENHOR abriu os olhos a Balaão, ele viu o Anjo do SENHOR, que estava no caminho, com a sua espada desembainhada na mão, pelo que inclinou a cabeça e prostrou-se com o rosto em terra. Então, o Anjo do SENHOR lhe disse: Por que já três vezes espancaste a jumenta? Eis que eu saí como teu adversário, porque o teu caminho é perverso diante de mim; a jumenta me viu e já três vezes se desviou de diante de mim; na verdade eu, agora, te haveria matado e a ela deixado com vida. Então Balaão disse ao Anjo do SENHOR: Pequei, porque não soube que estavas neste caminho para te opores a mim; agora, se parece mal aos teus olhos, voltarei. Tornou o Anjo do SENHOR a Balaão: Vai-te com estes homens; mas somente aquilo que eu te disser, isso falarás. Assim, Balaão se foi com os príncipes de Balaque." (Nm 22:21,23,27-35).

Percebam que no início da narrativa nos é informado que acendeu-se a ira de Deus contra Balaão (v. 22a), mas o Anjo do SENHOR é que se opôs no caminho de Balaão para impedi-lo. O Anjo do SENHOR tem uma participaçao tão fundamental neste episódio que Ele é mencionado NOVE vezes na narrativa (nos vv. 22b, 23, 24, 25, 27, 31, 32, 34, 35). Percebam também que, apesar de ter sido a ira de Deus que tenha se acendido contra Balaão (v. 22a), pois era o SENHOR Deus que vinha dando instruções a Balaão até neste momento (Nm 22:8-20), foi o Anjo do SENHOR que apareceu para a jumenta (Nm 22:23-27) e foi Ele quem dialogou com Balaão em todos os momentos (vv. 32-35), todavia, foi o SENHOR e não o Anjo do SENHOR que fez a jumenta falar (v. 28) e também abriu os olhos de Balaão para perceber a presença do Anjo do SENHOR (v. 31). Em seguida, no início do capítulo 23, é o SENHOR Deus que retorna a falar com Balaão e instrui-lo e não o Anjo do SENHOR (Nm 23:3-5, 15-16).

Aparentemente o Anjo do SENHOR estava tão somente atuando na autoridade do SENHOR, executando uma missão como um simples anjo mensageiro. Todavia, quando Balaão viu o Anjo do SENHOR, inclinou a cabeça e prostrou-se em terra (v. 31), mas o Anjo não o repreendeu por se curvar diante Dele e em seguida disse que o comportamento de Balaão ultimamente vinha sendo perverso diante Dele (v. 32). Ora, por que o Anjo aceitaria adoração e diria que Balaão não O estava agradando com suas atitudes ao invés de dizer que Balaão não estava agradando ao SENHOR se o Anjo do SENHOR não fosse o próprio Deus? Considerando que o SENHOR estava presente neste epísódio, se Ele tivesse descordado deste comportamento do Anjo, certamente haveria o registro deste fato, mas o Anjo do SENHOR e o SENHOR trabalharam, como temos visto, sempre em harmonia e concordância.

Afinal, que glória é esta que este Anjo compartilha com o SENHOR? Mas, Deus não compartilha de Sua glória com ninguém não é mesmo? (vejam Is 42:8; 48:11). Ao menos que este "Alguém" seja o próprio Deus, um com Ele em essência, mas distinto como "pessoa" ou "personalidade".

Extremamente interessante é verificar que, um pouco mais adiante na narrativa, quem atuou em um momento específico da vida de Balaão não foi nem o SENHOR Deus e nem o Anjo do SENHOR, mas foi o Espírito de Deus (Nm 24:2), trazendo as palavras de Deus, Altíssimo e Todo-poderoso ao povo (Nm 24:4,16). Podemos, então, inferir que Balaão teve contato com as três pessoas da Santíssima Trindade? À luz de toda a Escritura e principalmente do Novo Testamento, acreditamos que sim.

"Levantando Balaão os olhos e vendo Israel acampado segundo as suas tribos, veio sobre ele o Espírito de Deus." (Nm 24:2).

Na vida de Gideão:

Mais uma grande narrativa, agora sobre a vida de Gideão, juíz de Israel, nos apresenta a atuação do SENHOR e do Seu Anjo e em seguida do Espírito do SENHOR:

"Então, veio o Anjo do SENHOR, e assentou-se debaixo do carvalho que está em Ofra, que pertencia a Joás, abiezrita; e Gideão, seu filho, estava malhando o trigo no lugar, para o pôr a salvos dos midianitas. Então, o Anjo do SENHOR lhe apareceu e lhe disse: O SENHOR é contigo, homem valente. Respondeu-lhe Gideão: Ai, senhor meu! Se o SENHOR é conosco, por que nos sobreveio tudo isso? E que é feito de todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o SENHOR subir do Egito? Porém, agora o SENHOR nos desamparou e nos entregou nas mãos dos midianitas. Então, se virou o SENHOR para ele e disse: Vai nessa tua força e livra Israel da mão dos midianitas; porventura, não te enviei eu? E ele lhe disse: Ai, Senhor meu! Com que livrarei Israel? Eis que a minha família é a mais pobre em Manassés, e eu, o menor na casa de meu pai. Tornou-lhe o SENHOR: Já que eu esotu contigo, ferirás os midianitas como se fossem um só homem. Ele respondeu: Se, agora, achei mercê diante dos teus olhos, dá-me um sinal de que és tu, SENHOR que me falas. Rogo-te que daqui não te apartes até que eu volte, e traga a minha oferta, e a deponha perante ti. Respondeu ele: Esperarei até que voltes. Entrou Gideão e preparou um cabrito e bolos asmos de um efa de farinha; a carne pôs num cesto, e o caldo, numa panela; e trouxe-lho até debaixo do carvalho e lho apresentou. Porém o Anjo de Deus lhe disse: Toma a carne e os bolos asmos, põe-nos sobre esta penha e derrama-lhes por cima o caldo. E assim o fez. Estendeu o Anjo do SENHOR a ponta do cajado que trazia na mão e tocou a carne e os bolos asmos; então, subiu fogo da penha e consumiu a carne e os bolos; e o Anjo do SENHOR desapareceu de sua presença. Viu Gideão que era o Anjo do SENHOR e disse: Ai de mim, SENHOR Deus! Pois vi o Anjo do SENHOR face a face. Porém o SENHOR lhe disse: Paz seja contigo! Não temas! Não morrerás! Então, Gideão edificou ali um altar ao SENHOR e lhe chamou de O SENHOR é Paz. Ainda até ao dia de hoje está o altar em Ofra, que pertence aos abiezritas." (Jz 6:11-24).

Podemos destacar muitas lições trinitárias aqui. O Anjo do SENHOR apareceu a Gideão e, como representante do próprio SENHOR, disse: "O SENHOR é contigo homem valente" (Jz 6:12). Já imaginou o próprio Deus falar isso para você? Não existe maior incentivo. Mas, Gideão, certamente sabendo que o Anjo era o próprio SENHOR ou o Seu representante direto, questionou diretamente ao SENHOR e não ao Anjo a situação pela qual Israel atravessava, pois já que o Anjo do SENHOR afirmou "O SENHOR é contigo", como que depois de tamanhas maravilhas realizadas no livramento de Israel do Egito e a peregrinação até a terra prometida, o SENHOR estava permitindo tamanha opressão do povo midianita (v. 13).

Então, o próprio SENHOR, que certamente estava presente ali, mas ainda não se manifestara, "se virou para Gideão" e respondeu ao questionamento, incentivando-o e confirmando que Ele, o SENHOR estava enviando Gideão para livrar a nação de Israel dos midianitas (v. 14). E mesmo Gideão insistindo em afirmar a pobreza e a simplicidade dele e de sua família diante de tão grande missão, o SENHOR confirmou uma vez mais que Gideão feriria os midianitas como se fossem um só homem, pois Ele, o SENHOR estava com Gideão (vv. 15-16).

Mas, Gideão ainda quis que o SENHOR desse um sinal de que era Ele mesmo que estava falando, sinal de era alvo da mercê divina e suplicou para que Deus não se ausentasse daquele lugar até que ele voltasse com sua oferta, pedido que o SENHOR atendeu (vv. 17-18), sendo que Gideão preparou a oferta e a trouxe e a apreentou ao SENHOR, colocando-a debaixo do carvalho (v. 19), justamento o carvalho onde no início o Anjo do SENHOR se assentara debaixo (v. 11).

Nesse momento, o texto chama o "Anjo do SENHOR" de "o Anjo de Deus" (como em outros textos) e afirma que Ele ordenou que Gideão tomasse a oferta, carne e bolos asmos, pusesse sobre a penha e derramasse o caldo por cima, o que Gideão obedeceu (v. 20). Então o "Anjo do SENHOR" (o texto volta a chamar o Anjo desta forma) estendeu a ponta do cajado que estava em Sua mão e tocou a oferta, o que fez com que fogo subisse da penha e consumisse a oferta. Logo em seguida, o Anjo do SENHOR desapareceu da presença de Gideão (v. 21). E foi apenas neste momento que Gideão percebeu que era o Anjo do SENHOR e exclamou: "Ai de mim, SENHOR Deus, pois vi o Anjo do SENHOR face a face" (v. 22).

Ora, aqui temos que nos deter um momento e questionar: Não é sabido e ensinado que nenhum ser humano pode ver Deus face a face porque morrerá? É o que nos ensina o texto de Êxodo 33:17-25, quando Moisés, mesmo com tamanha comunhão com o SENHOR, não teve a permissão para ver a glória de Deus, mas Deus a encobriu com Sua própria mão, pois Moisés morreria se visse Sua glória.

Como então que Gideão ao ver o Anjo do SENHOR temeu por tê-lo visto face a face se não fosse reconhecido em Israel que o Anjo do SENHOR era o próprio Deus? Se Ele fosse um anjo comum, um mensageiro celestial, como tantos outros encontrados na Bíblia, porque Gideão teria tanto medo de morrer? Mas quem disse que Gideão ficou com medo de morrer? O próprio Deus disse, pois em seguida o SENHOR acalma Gideão, dizendo (neste momento, o Anjo do SENHOR estava ausente): "Paz seja contigo! Não temas! Não morrerás!" (v. 23).

Por que Deus disse "não morrerás"? Encontramos duas posições distintas:

1) Por que, na verdade, o Anjo não era Deus e então Gideão não tinha visto Deus face a face?

2) Ou por que o Anjo era Deus, sim, mas o próprio SENHOR em Sua soberania, não permitiu a morte de Gideão, pois, na verdade, o Anjo se manifestara em uma forma humana (teofania) e então, não estava manifestando toda a glória de Deus?

Bem, preferimos ficar com a segunda posição, pois já foi demonstrado exaustivamente que o Anjo do SENHOR é o SENHOR, um com ele em natureza divina, mas distinto dele como pessoa. Então sendo assim, Deus estava compartilhando a Sua glória com o Anjo Dele, sim, (glória que nenhum homem pode contemplar face a face e permanecer vivo), pois o Anjo de Deus era um em essência com Ele, mesmo sendo distinto Dele. Deus não compartilharia Sua excelsa glória com ninguém que não estivesse em eterna e indivisível unidade de essência com Ele.

Em seguida, então, Gideão edificou naquele local um altar ao SENHOR com o nome de "O SENHOR é paz" (v. 24).

Prosseguindo na narrativa, na mesma noite, o SENHOR deu instruções a Gideão para derribar o altar de Baal e cortar o poste-ídolo junto ao altar e edificar a Ele, o SENHOR, o Deus de Gideão, um altar e oferecer holocausto com a mesma lenha do poste-ídolo que tivesse cortado (Jz 6:25-26). Gideão obedeceu ao SENHOR, mas fez tudo a noite e não de dia, temendo as pessoas da casa de seu pai e daquela cidade, pois o altar era do pai de Gideão (v. 27).

De madrugada os homens daquela cidade se levantaram e viram o altar de Baal derribado, bem como o poste-ídolo, que também estava cortado e o boi que fora oferecido ao SENHOR no altar derribado (v. 28) e concluíram que fora Gideão o responsável por tudo aquilo (v. 29) e, cheios de fúria, foram a Joás, pai de Gideão e contaram o ocorrido e pediram que trouxesse seu filho para fora para morrer (v. 30). Joás, porém, afirmou que não precisava aquela contenda por causa de Baal, pois, se este era uma divindade, ele mesmo contenderia contra aqueles que derribaram o seu altar (v. 31).

E, Gideão, no mesmo dia, por ter derribado o altar de Baal, e na expectativa de que este deus contendesse contra ele, passou a ser chamado "Jerubaal" (v. 32) e todos os midianitas e amalequitas e povos do Oriente se ajuntaram e se acamparam no vale de Jezreel (v. 33). Mas, vejamos a narrativa seguinte:

"Então, o Espírito do SENHOR revestiiu a Gideão, o qual tocou a rebate, e os abiezritas se ajuntaram após dele." (v. 34).

Gideão, assim como Balaão, que vimos anteriormente, também foi revestido pelo Espírito do SENHOR.

Podemos, então, inferir que Gideão também teve contato com as três pessoas da Santíssima Trindade, assim como Balaão? À luz de toda a Escritura e principalmente do Novo Testamento, acreditamos que sim.

Na vida de Sansão:

É notável verificar também a participação do Anjo do SENHOR na história de Sansão, também juíz de Israel, em uma época que Israel era dominado pelos filisteus há décadas, por terem se desviado de Deus (Jz 13:1). O Anjo do SENHOR apareceu à uma mulher que era estéril, esposa de Manoá, da linhagem da tribo de Dã, e prometeu-lhe que daria à luz um filho, mas advertiu-a a não beber vinho, nem bebida forte e nem comer nada considerado imundo pela Lei moisaica e assegurou que este filho seria nazireu, ou seja, cujos cabelos jamais seriam cortados e seria consagrado a Deus desde a concepção e, quando crescesse, iniciaria a libertação de Israel do poder os filisteus (Jz 13:2-5).

Esta mulher, sem ter compreendido que tinha falado com ela, foi ao seu marido, Manoá, e disse que "um homem de Deus com aparência tremenda e semelhante à de um anjo de Deus tinha se apresentado a ela, mas ela não perguntou a origem dele e ele não disse o seu nome" e repassou a mensagem do Anjo ao marido (v. 6). Manoá, então, orou ao SENHOR, reconhecendo que tinham recebido um mensageiro divino, suplicando que este "homem" retornasse e lhes instruisse sobre a criança que haveria de nascer (v. 8). Deus ouviz Manoá e o "Anjo de Deus" se manifestou novamente em uma oportunidade que a mulher estava sozinha (v. 9), mas ela apressadamente buscou o seu marido, o qual suplicou que o Anjo fornecesse mais instruções sobre a concretização da promessa do menino (vv. 10-12). Então, o Anjo do SENHOR confirmou Suas instruções anteriormente dadas à mulher (vv. 13-14).

O grande destaque para a ainda maior fundamentação vetero-testamentária da doutrina trinitariana vem exatamente nos próximos versículos: Manoá pediu que o Anjo do SENHOR permanecesse com eles, pois pretendiam preparar um cabrito como refeição (v. 15), mas o Anjo do SENHOR disse que mesmo que Ele permanecesse com eles, não aceitaria a refeição. E disse mais: se eles tivessem a intenção de preparar um holocausto, que este deveria ser dirigido ao SENHOR. E o texto ainda afirma que o Anjo disse essas palavras porque Manoá não havia ainda reconhecido que quem falava com ele era o Anjo do SENHOR (v. 16). Percebemos que o Anjo em uma atitude de humildade extrema, apesar de Sua Divindade, pediu para que a adoração fosse direcionada ao SENHOR e não a Ele.

Mas, em seguida, Manoá pede que o Anjo informe o Seu nome para que, quando a promessa do nascimento da criança se cumprisse, eles pudessem prestar-lhe honras (v. 17). É, então, que o Anjo demonstra Sua Divindade, pois diz a Manoá: "Por que perguntas pelo meu nome que é maravilhoso?" (v. 18). Ora, o SENHOR permitiria que um anjo comum dissesse algo assim? Evidente que não, apenas se este Anjo fosse um em essência com Ele.

Em seguida, Manoá apresenta uma oferta ao SENHOR e o Anjo do SENHOR, segundo o texto "se houve maravilhosamente" (v. 19). Quando a chama do sacrifício saiu do altar e subiu em direção ao céu, o Anjo do SENHOR subiu nela e Manoá e sua mulher caíram com o rosto em terra (v. 20) e nunca mais o Anjo do SENHOR apareceu para eles, só então que Manoá compreendeu que era o Anjo do SENHOR (v. 21) e, diante disso disse a sua mulher: "Certamente morreremos porque vimos a Deus" (v. 22). Percebam que Manoá se deixou atemorizar pelo mesmo receio que teve Gideão, pois Israel sabia que o Anjo do SENHOR era o próprio SENHOR, que ver o Anjo do SENHOR era como comtemplar a Deus face a face. Mas, a mulher de Manoá o acalmou com sua tese de que jamais o SENHOR teria aceitado a oferta deles e nem revelado os Seus planos se Sua intenção fosse tirar a vida deles (v. 23).

O texto bíblico relata em seguida que a mulher de Manoá deu à luz um filho e o chamou Sansão, que cresceu e foi abençoado pelo SENHOR (v. 24). E, para fundamentar ainda mais a doutrina trinitariana no Antigo Testamento, o texto ainda nos informa que o Espírito do SENHOR passou a atuar na vida de Sansão (v. 25; comparem ainda com Jz 14:6,19; 15:14, por exemplo). Portanto, temos mais um personagem importante da história de Israel cuja história foi permeada pela atuação da Trindade Santíssima.

"Depois, deu a mulher à luz um filho e lhe chamou Sansão; o menino cresceu, e o SENHOR o abençoou. E o Espírito do SENHOR passou a incitá-lo em Maané-Dã, entre Zorá e Estaol." (Jz 13:24-25). "Então, o Espírito do SENHOR de tal maneira se apossou dele, que ele o rasgou como quem rasga um cabrito, sem nada ter na mão; todavia, nem a seu pai nem a sua mãe deu a saber o que fizera." (Jz 14:6). "Chegando ele a Leí, os filisteus lhe saíram ao encontro, jubilando; porém o Espírito do SENHOR de tal maneira se apossou dele, que as cordas que tinha nos braços se tornaram como fios de linho queimados, e as suas amarraduras se desfizeram das suas mãos." (Jz 15:14).

Na vida de Isaias:

Para derrubar de vez qualquer dúvida ou crítica antitrinitarista, particularmente referente ao Antigo Testamento, observemos mais três impressionantes e claras menções, agora no livro de Isaías, e não apenas ao Espírito Santo, mas às três pessoas da Santíssima Trindade:

PRIMEIRA: Isaías 48:11-16.

"Por amor de mim, por amor de mim, é que faço isto; porque como seria profanado o meu nome? A minha glória, não a dou a outrem. Dá-me ouvidos, ó Jacó, e tu, ó Israel, a quem chamei; eu sou o mesmo, sou o primeiro e também o último. Também a minha mão fundou a terra, e a minha destra estendeu os céus; quando eu os chamar, eles se apresentarão juntos. Ajuntai-vos, todos vós, e ouvi! Quem, dentre eles, tem anunciado estas coisas? O SENHOR amou a Ciro e executará a sua vontade contra a Babilônia, e o seu braço será contra os caldeus. Eu, eu tenho falado; também já o chamei. Eu o trouxe e farei próspero o seu caminho. Chegai-vos a mim e ouvi isto: não falei em segredo desde o princípio; desde o tempo em que isso vem acontecendo, tenho estado lá. Agora, o SENHOR Deus me enviou a mim e o seu Espírito. Assim diz o SENHOR, o teu Redentor, o Santo de Israel: Eu sou o SENHOR, o teu Deus, que te ensina o que é últil e te guia pelo caminho em que deves andar." (Is 48:11-17).

Que narrativa impressionante. Desde o início do capítulo 48 de Isaías, vemos Deus trazendo inúmeras exortações e considerações a Israel, sobre a Sua grandeza, eternidade e onisciência, sempre falando de Si mesmo na primeira pessoa do singular e com Israel na segunda pessoa do singular (por exemplo, vv. 3-15), mas inicialmente parece ser lógico que é Deus, o Pai que está falando com Israel, pois o texto inicialmente não se preocupa em apresentar as pessoas da Divindade.

Deus usou expressões tais como "Anunciei acontecimentos a você desde a antiguidade antes que elas acontecessem, coisas novas e ocultas que você não sabe" (vv. 3,5,6), "Eu sabia que você era de dura cerviz, obstinado e desde o ventre materno seria transgressor e procederia perfidamente" (vv. 4,8), "Por amor do meu nome retardarei a minha ira, por amor de mim faço estas obras. Como deixaria que o meu nome fosse profanado? A minha glória não dou a mais ninguém". (vv. 9,11) e "Ouça-me, eu sou o mesmo, o primeiro e o último (comparem com Is 44:6; Ap 1:7; 22:13), eu criei a Terra e os céus" (vv. 12-13). OBS: No v. 14, Deus fala sobre Ele mesmo, mas na terceira pessoa do singular e no v. 15 volta a falar na primeira pessoa do singular.

Mas, o que queremos destacar é o que Deus diz logo em seguida (v. 16):

"Chegai-vos a mim e ouvi isto: não falei em segredo desde o princípio; desde o tempo em que isso vem acontecendo, tenho estado lá. Agora, o SENHOR Deus me enviou a mim e o seu Espírito."

Deus convocou Israel a se aproximar dele e ouvir Sua mensagem, pois nunca escondeu nada desde o início dos tempos e desde que todos estes acontecimentos narrados vinham acontecendo, Ele já existia. Então, em seguida, Ele, o próprio Deus, disse "o SENHOR Deus me enviou e enviou também o seu Espírito".

Ora, se era Deus que estava falando, como Ele pode dizer que foi enviado pelo SENHOR Deus? Será que quem falou, na verdade, neste versículo foi Ciro, a quem o SENHOR Deus chamou e estava usando, conforme nos versículos anteriores, ou foi um anjo comum ou outro personagem bíblico?

Acreditamos ser pouquíssimo provável. Ciro estava sendo uado por Deus, sim, mas parece insustentável biblicamente falando asseverar que ele possuia clara consciência que tinha sido enviado por Deus e juntamente com o Espírito Dele. Um anjo também não poderia ser, pois a narrativa desde o início é clara em revelar que os atributos e comportamentos de quem está falando só podem ser do próprio Deus.

Considerando que a Bíblia é inerrantemente inspirada por Deus e que só existe um Deus, esta fala só pode ter sido proferida por Deus, na pessoa do Filho (a segunda pessoa da Trindade, pré-encarnada), mencionando o SENHOR Deus e Pai (a primeira pessoa da Trindade) que O enviou e enviou também o Espírito Santo (a terceira pessoa da Trindade). É mais uma profecia messiânica, portanto.

Pode ser que nossa interpretação esteja equivocada para este episódio, talvez estudiosos e teólogos muito mais capazes possam esclarecer melhor essa situação. Mas, nos parece ser muito difícil chegar a uma conclusão diferente desta: que este texto é mais uma menção da Santíssima Trindade no Antigo Testamento, interpretada à luz do Novo Testamento.

SEGUNDA: Isaías 59:19-21.

Isaías profetizou que o nome e a glória de Deus seriam temidos pelas nações, pois viriam impelidos pelo Espírito do SENHOR na pessoa do Redentor, o Senhor Jesus e que as palavras de Deus jamais se apartariam do Seu povo e nem o Seu Espírito, que estava sobre o povo:

"Temerão, pois, o nome do SENHOR desde o poente e a sua glória, desde o nascente do sol; pois virá como torrente impetuosa, impelida pelo Espírito do SENHOR. Virá o Redentor a Sião e aos de Jacó que se converterem, diz o SENHOR. Quanto a mim, esta é a minha aliança com eles, diz o SENHOR: o meu Espírito, que está sobre ti, e as minhas palavras, que pus na tua boca, não se apartarão dela, nem da de teus filhos, nem da dos filhos de teus filhos, não se apartarão desde agora e para sempre, diz o SENHOR." (Is 59:19-21).

Não nos esqueçamos que Deus não compartilha a Sua glória com ninguém, como o próprio Isaías afirmou (Is 42:8; 48:11). Mas, nesta profecia, o nome e a glória de Deus seriam temidos, pois seriam impelidos pelo Espírito na manifestação do Salvador.

Ora, Deus só pode estar compartilhando o Seu nome e a Sua glória com o Seu Filho e o Seu Espírito Santo, um com Ele em natureza divina, mas distintos pessoalmente uns dos outros. Temos aqui, portanto, mais uma menção à Santíssima Trindade, à luz do Novo Testamento.

TERCEIRA: Isaías 63:7-16.

Na última oração do profeta Isaías encontramos um texto maravilhoso e riquíssimo para, entre outras finalidades, embasar a doutrina trinitariana no Antigo Testamento:

"Celebrarei as benignidades do SENHOR e os seus atos gloriosos, segundo tudo o que o SENHOR nos concedeu e segundo a grande bondade para com a casa de Israel, bondade que usou para com eles, segundo as suas misericórdias e segundo a multidão das suas benignidades. Porque ele dizia: Certamente, eles são meu povo, filhos que não mentirão; e se lhes tornou o seu Salvador. Em toda a angústia deles, foi ele angustiado, e o Anjo da sua presença os salvou; pelo seu amor e pela sua compaixão, ele os remiu, os tomou e os conduziu todos os dias da antiguidade. Mas eles foram rebeldes e contristaram o seu Espírito Santo, pelo que se lhes tornou em inimigo e ele mesmo pelejou contra eles. Então, o povo se lembrou dos dias antigos, de Moisés, e disse: Onde está aquele que fez subir do mar o pastor do seu rebanho? Onde está o que pôs neçe o seu Espírito Santo? Aquele cujo braço glorioso ele fez andar à mão direita de Moisés? Que fendeu as águas diante deles, criando para si um nome eterno? Aquele que os guiou pelos abismos, como o cavalo no deserto, de modo que nunca tropeçaram? Como o animal que desce aos vales, o Espírito do SENHOR lhes deu descanso. Assim, guiaste o teu povo, para te criares um nome glorioso. Atenta no céu e olha da tua santa e gloriosa habitação. Onde estão o teu zelo e as tuas obras poderosas? A ternura do teu coração e as tuas misericórdias se detém para comigo? Mas tu és nosso Pai, ainda que Abraão não nos conhece, e Israel não nos reconhece; tu, ó SENHOR, és nosso Pai; nosso Redentor é o teu nome desde a antiguidade." (Isaías 63:7-16).

Primeiramente, vemos Isaías mencionando a benignidade e os atos poderosos do SENHOR para com a nação de Israel, pois Deus os considerava como filhos e era o Seu Salvador, ou seja, Deus Pai Salvador (vv. 6-7). Isaías, em seguida, menciona que face à angústia do povo, Deus se sentiu angustiado com o sofrimento de Israel e o Anjo da Sua presença salvou o povo pelo Seu amor e compaixão, remindo-o e conduzindo-o (vv. 8-9).

Contudo, segundo o texto, o povo se rebelou e entristeceu o Espírito do SENHOR, que se virou contra o povo para os disciplinar e, então, o povo recordou-se do passado e questionou onde estava Deus que havia colocado o Espírito Santo em Moisés e que, por meio do Espírito do SENHOR deu descanso ao povo (vv. 10-14). Isaías, então, clama a Deus para que de Sua santa morada, atente para ele, que se recorde de Suas poderosas obras, a ternura do Seu coração e Sua misericórdia e, mesmo que Israel negligenciasse o seu ofício de profeta, Deus era o Pai de Seu povo, o Seu Redentor desde tempos antigos (vv. 15-16).

Que texto maravilhoso! Em nove versículos, Isaías menciona a Deus, o SENHOR, que era o Pai e Salvador (vv. 7,8,16), menciona o Anjo da Presença de Deus que pelo Seu amor e compaixão remiu e conduziu o povo (v. 9; mesmo que o conceito de salvação do Antigo Testamento seja de certa forma diferente do conceito do Novo Testamento, mas seja um tipo de pré-figuração do mesmo). E, Isaías, ainda menciona o Espírito do SENHOR (v. 14), ou seja, o Espírito Santo (vv. 11-12) que se entristeceu com a rebeldia posterior do povo, mas depois lhe deu descanso.

Temos, portanto, as três pessoas da Santíssima Trindade quase total e claramente definidas aqui neste texto. É evidente que, em se pensando na revelação progressiva do propósito divino, se não analisássemos o texto à luz do Novo Testamento, ainda não seria possível identificar o Anjo do SENHOR como o Filho de Deus, a segunda pessoa, mas "apenas" como uma das três pessoas divinas.

Mas, mesmo assim, é claramente possível identificar a Deus Pai e a Deus Espírito Santo, a primeira pessoa e a terceira pessoa. Se muitos ainda duvidavam que o Antigo Testamento tratava a Deus como Pai e o Espírito do SENHOR como Espírito Santo, esperamos que as dúvidas tenham caído por terra. Amém.

Encerrando, portanto, esta parte, aproveitamos o ensejo para informar que as postagens sobre as evidências vetero-testamentárias da doutrina trinitariana foram em grande número devido ao fato de ser necessário investir um tempo significativo principalmente para apresentação das evidências de que o Anjo do SENHOR era a pré-encarnação do Salvador, o Senhor Jesus, um assunto ainda muito controverso entre os estudiosos.

Nas próximas postagens, portanto, observaremos as dezenas de evidências neo-testamentárias para a doutrina trinitariana, bem mais claras do que no Antigo Testamento.

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